Pesquisa da indústria do café aponta alta no consumo

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Crescimento se dá em todas as classes sociais, sobretudo na classe C, que recebe de 4 a 10 salários mínimos.

 

Pesquisa encomendada pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) afirma que o café é uma das bebidas preferidas da população brasileira e que os índices de consumo estão se consolidando. Segundo o estudo divulgado hoje, 24, no ano passado 97% dos entrevistados - homens e mulheres com mais de 15 anos de idade - declararam que haviam consumido café no dia da pesquisa e também no dia anterior, mesmo porcentual registrado em 2008. Há sete anos, porém, esse índice era de 91%.

 

O diretor-executivo da Abic, Nathan Herszkowicz, avaliou o crescimento como consistente. "Estamos perto de 100% e a questão é como continuar a crescer", informou. A solução adotada pelo setor tem sido estimular a frequência de consumo, com resultados positivos. Entre 2008 e 2009, o porcentual de entrevistados que bebia uma xícara todos os dias passou de 77% para 85% (aumento de 10%).

 

Nathan comentou que o consumo de café cresce em todas as classes sociais, sobretudo na classe C, que recebe de 4 a 10 salários mínimos. No período de 2003 a 2009, a participação da classe C no consumo total saltou 14%, de 37% para 42%. Essa parcela da população também está tomando mais café fora de casa, avançando de 14% para 48%, com elevação de 242%, como influência da maior oferta do produto em cafeterias, restaurantes e hotéis.

 

Preferência

 

No que se refere ao tipo de café consumido, a pesquisa mostra que o brasileiro continua fortemente adepto da bebida coada/filtrada (93% em casa e 96% fora do lar). No entanto, Nathan observou que tem aumentado o consumo de grãos especiais, de melhor qualidade, embora a participação desse tipo de grão no total ainda seja pequena. Em 2008, o consumo de variedades gourmet em casa era de 1,2% do total; em 2009 passou para 2,7%.

 

Conforme a pesquisa, o interesse pelos grãos especiais está difundido em todas as classes sociais, "sinalizando que o consumidor está em busca de qualidade, independentemente da renda". Em contrapartida, o café instantâneo (solúvel) tem perdido espaço, principalmente nas classes A e B. Isso torna questionável o argumento da praticidade do solúvel. "Com as máquinas automáticas, é só apertar um botão que você tem um expresso", disse Nathan.

 

Outro ponto destacado no estudo é que as mulheres (54%) estão consumindo mais café do que os homens (46%). Entre outras justificativas, está o fato de a população feminina ser maior no Brasil. Mas também deve-se considerar que parte das consumidoras está no lar, ou participa do mercado de trabalho, onde passa a consumir a bebida. Segundo Nathan, essa é uma característica do mercado brasileiro e cabe "à indústria direcionar produtos e estratégias para o segmento".

 

A pesquisa "Tendência do Consumo de Café - 2009" é realizada anualmente pela Abic desde 2003. O trabalho é coordenado pela Consultoria Ivani Rossi e foi realizado de 10 a 20 de janeiro com 1.703 pessoas. O consumo de café no Brasil alcançou 18,4 milhões de sacas de 60 kg em 2009. A Abic projeta crescimento de 5% este ano, ou cerca de 1 milhão de sacas. "A estratégia é oferecer produtos diferenciados, estimulando o consumo de grãos de qualidade, com maior valor agregado", afirmou.

 

Rentabilidade cai e indústria reclama de "empobrecimento"

 

Nathan alertou para o que considera 'empobrecimento' do setor. Segundo ele, os preços do produto subiram, em média, 35% nos últimos 15 anos, enquanto o valor da cesta básica avançou cerca de 300% no período. "O quilo do café está em R$ 10, em média, faz cerca de 4 anos, como reflexo da realidade do setor de produção, onde as cotações também não sobem", afirmou Nathan.

 

De acordo com o representante da indústria, cerca de 60% do custo de produção do café torrado e moído é com matéria-prima. No entanto, segundo ele, falta ao campo condições para valorizar o grão, que está depreciado. O resultado é que "os cafeicultores discutem o endividamento do setor, transferindo o problema de perda de valor da matéria-prima para a indústria", explicou.

 

Conforme Nathan, a indústria tem estimulado a oferta de grãos de melhor qualidade, com maior valor agregado, para tentar "recuperar a rentabilidade". Além disso, o setor reivindica a retomada dos leilões dos estoques oficiais, com prazo de pagamento de 18 meses. Estima-se que o governo tenha em mãos cerca de 480 mil sacas, além de outras 180 mil sacas do plano de retenção, de 2000. A indústria sugere, ainda, a venda dos café dos contratos de opção pública, lançados no ano passado.

 

A Abic pede também que seja mantido em 2010 o volume de recursos da ordem de R$ 300 milhões da linha de Financiamento para Aquisição de Café (FAC), oferecida no ano passado, com juros de 6,75% ao ano. O setor espera, ainda, que no próximo mês seja liberada Linha Especial de Crédito (LEC). Com esses medidas, Nathan acredita que "a indústria terá condições para tomar fôlego. Caso contrário, vai submergir."

 

Veículo: Diário do Comércio - SP


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