A cena fenomenal se repete de quatro em quatro anos. A próxima será no dia 15 de junho, quando boa parte dos escritórios, das fábricas e do comércio irá fechar ao meio-dia. Milhões de brasileiros deixarão o trabalho e irão se posicionar em frente a uma TV - muitos com uma cerveja na mão - para acompanhar a estreia do Brasil na Copa do Mundo da África do Sul. Mas um setor da economia pelo menos não deve parar: o cervejeiro. Fábricas, distribuidores e bares continuarão trabalhando a todo vapor para suprir a demanda em alta. Mas qual o real impacto do mundial de futebol no consumo de cerveja?
Esse número foi calculado pela consultoria britânica BernsteinResearch, que concluiu que todos os países participantes se beneficiam, mas a variação muda conforme o desempenho de cada time. Brasil e Espanha - além da anfitriã África do Sul - serão os mercados com o maior impacto positivo durante os jogos da Copa, que acontecerão entre 11 de junho e 11 de julho.
No Brasil, conforme o estudo, o consumo deve crescer 5% em volume no ano além do desenvolvimento normal do mercado, que no ano passado foi de 5,9%. Esse aumento, como gostam de ilustrar as cervejarias, é o mesmo que ter um mês a mais de verão ou dois Carnavais no ano. Supondo que o mercado tivesse a mesma evolução de 2009, só a Copa seria suficiente para fazer as vendas em volume totalizarem crescimento de 6,2% entre janeiro e dezembro de 2010.
Mas tudo depende do desempenho da equipe do técnico Dunga. "O consumo de cerveja em todos os países participantes depende do quão longe a equipe vai no campeonato", diz um dos analistas da BernsteinResearch, que participou da pesquisa. No mínimo, cada time joga três partidas antes de ser desclassificado. Quem vai até a final, soma sete disputas.
O escrete brasileiro é um dos mais cotados para chegar à final (conforme as casas de apostas de Londres) e por isso o mercado brasileiro também é um dos que mais deverá ter elevação no consumo de cerveja, segundo a pesquisa.
Outra seleção bem colocada, a Espanha (com torcedores fanáticos tanto por futebol, quanto por cerveja) também deve ter um bom aumento nas vendas da bebida. Mas diferente do Brasil, a terra das touradas está enfrentando uma crise econômica o que pode afetar o mercado cervejeiro local.
Mas uma seleção pelo menos será unanimidade: o "Bafana Bafana", como é conhecido o time da África do Sul. Em toda Copa, as partidas do time anfitrião também acabam impulsionando o consumo de cerveja em outros países - o que acontece também no Brasil.
Os países-sede também tradicionalmente têm no ano do evento um bom impulso nas vendas (veja quadro), por conta dos turistas. Na Alemanha, em 2006, mais de 2 milhões de estrangeiros foram ao mundial. Muitos gastaram pouco, viajando de ônibus ou de carro.
Para a África do Sul, a conversa é outra. Os custos da viagem são muito maiores e por isso a expectativa da organização do torneio é de atração de 350 mil visitantes estrangeiros - quase seis vezes menos que na Alemanha. Por isso, a pesquisa calcula alta de 1,8% no consumo sul-africano de cerveja.
O comportamento dos consumidores também conta no consumo. Na Inglaterra, o estudo calcula uma alta de 5% durante os jogos. Mas no geral, a Copa deverá ter um impacto de apenas 0,7% nas vendas anuais. O motivo é "sui generis": a famosa ressaca britânica. O costume de se abster de bebida depois da farra deve fazer as vendas caírem 3,5% depois da Copa - ou logo após uma possível desclassificação da seleção inglesa.
Veículo: Valor Econômico