Na guerra contra a obesidade, o açúcar tornou-se o inimigo público do século XXI. Chamuscados no tiroteio contra as calorias, estão os fabricantes de refrigerantes, que agora resolveram se unir. Nesta semana, executivos das duas maiores companhias do setor, Coca-Cola e Pepsico , e de produtores de vários países como Estados Unidos, do Brasil, da China, Japão, Austrália e Europa reuniram-se, a portas fechadas em um hotel no Rio de Janeiro, para debater o assunto.
Na pauta do encontro, pelo menos dois assuntos tinham tudo a ver com açúcar: a venda de refrigerantes para crianças e a ideia, lançada nos EUA, de taxar as bebidas calóricas - isso já ocorre nos Estados americanos de Arkansas e West Virginia. A 37ª reunião do Conselho Internacional de Associações de Indústrias de Refrigerantes (ICBA, na sigla em inglês) durou dois dias.
A preocupação é tanta que a Pepsico anunciou em março que vai deixar de vender refrigerantes com alto teor de açúcar a escolas primárias e secundárias no Brasil e no restante do mundo até 2012.
Agora é a vez da Coca-Cola. Segundo fontes ligadas à empresa, a maior fabricante de refrigerantes do mundo vai parar de vender suas bebidas com açúcar para crianças menores de 12 anos em todos os países em que atua. A The Coca-Cola Company no Brasil não confirma a informação, mas no mercado comenta-se que o anúncio oficial da decisão será feito em maio.
A decisão da Pepsico, assim como a da Coca-Cola, têm a mesma meta: melhorar a imagem das duas companhias e de seus produtos, que muitos consideram calóricos demais. Não é para menos.
No Brasil, maior produtor mundial de açúcar, quase um terço do açúcar destinado ao consumo industrial (60% do consumo total) é comprado pelos fabricantes de refrigerantes. "O açúcar é o novo vilão do mundo porque a obesidade é um problema de grande visibilidade e apelo", disse, ao Valor, Patricia M. Vaughan, presidente da ICBA e vice-presidente para assuntos legais e regulatórios da "American Bevereage Association" (ABA), entidade que representa as indústrias de refrigerantes dos EUA.
"Mas a causa da obesidade não é uma só. É um conjunto de fatores. Por isso os refrigerantes não podem ser condenados", acrescentou ela, que lidera um movimento de oposição contra projetos de taxação sobre bebidas com açúcar.
"Esse tipo de taxa não tem nenhum propósito a não ser arrecadar mais dinheiro para os governos", disse. Vários Estados americanos estudam implementar o imposto, assim como acontece em países europeus, como Suécia. O estado de Nova York, por exemplo, analisa implementar uma taxa de 50% sobre o preço final de bebidas que contenham calorias demais. Embora venha ganhando a simpatia de outros governos internacionalmente, no Brasil ainda não há notícia de projetos semelhantes.
"Taxar as bebidas com açúcar não é solução para a obesidade em nenhum lugar do planeta. É na verdade a criação de um problema maior, uma onda de desemprego no setor", afirmou Patricia.
Os que são favoráveis a essa taxa - geralmente políticos e organizações não governamentais - baseiam seus argumentos em estatísticas como as que constam de um levantamento da Food and Agriculture Organization (FAO), órgão das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. Segundo a FAO, entre 1961 e 1963 a disponibilidade global de açúcar para consumo equivalia a 193 calorias por pessoa ao dia - valor que saltou para 243 calorias entre 2001 e 2003.
Uma das resoluções tomadas no encontro do Rio é uniformizar como os açúcares são listados nos rótulos dos refrigerantes e outras bebidas. A indicação da ICBA é listar os açúcares apenas como "açúcares totais", sem distinguir o que é adicionado e o que é açúcar natural encontrado no produto. Mas esta orientação não está acima das leis de cada país. No Brasil, por exemplo, o Ministério da Agricultura determina a diferenciação entre os dois tipos de açúcar. Mas na tabela que informa o valor energético ou calórico do produto, o total de calorias pode ser somado.
Veículo: Valor Econômico