Com cada vez mais adeptos, mais opções mas gôndolas e a imagem de bebida que faz bem à saúde, a venda de suco de uva natural explodiu nos últimos anos no país e está provocando uma onda de investimentos. Sem álcool, sem adição de açúcar e obtido a partir da mesma matéria-prima (as uvas comuns), o produto também vem sendo encarado pelas vinícolas como uma alternativa à elaboração dos vinhos de mesa, cuja demanda oscila entre a estagnação e a queda.
"O suco de uva é a bola da vez", diz o presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Henrique Benedetti. Segundo ele, a divulgação recorrente de estudos que sugerem que o produto é potencialmente benéfico à saúde graças à presença do resveratrol, substância que pode ajudar a reduzir os níveis do "mau colesterol" no sangue, o segmento transformou-se em um excelente negócio para as vinícolas.
Depois de operar em ritmo acelerado em 2009, a cooperativa Garibaldi decidiu praticamente triplicar a linha de produção de suco na serra gaúcha. Com um investimento de R$ 6,5 milhões em equipamentos, a capacidade produtiva vai passar de 1,4 milhão para 4 milhões de litros por ano em 2010, diz o presidente Oscar Ló.
Segundo ele, as vendas do produto são as que mais crescem. No ano passado, a alta foi de 44% sobre 2008, para 1,6 milhão de litros. Depois vieram os espumantes, que avançaram 30%, para 900 mil litros, enquanto os vinhos finos e de mesa tiveram expansão de 12%, para 6 milhões de litros.
Dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) mostram que o consumo de suco integral no Brasil cresceu nove vezes de 2002 a 2009, para 25,5 milhões de litros. No mesmo período, as vendas de vinho de mesa (comum, feito com uvas também usadas para suco) recuaram 2,3%, para 222,1 milhões de litros, enquanto a demanda pelo vinho fino - elaborado com uvas viníferas como Cabernet Sauvignon e Merlot - caiu 28,7%, para 18 milhões de litros, neste caso devido ao aumento da concorrência dos importados.
Na comparação entre o ano passado e 2008, os sucos avançaram 39,4%, enquanto os vinhos de mesa tiveram alta de 12,4% e os finos, de 5,9%. Já no primeiro trimestre deste ano, o Ibravin registrou crescimento de 35,7% nos sucos, de 0,5% nos vinhos comuns e de 17,4% nos finos.
A rápida expansão da demanda, que praticamente dobrou de 2007 a 2009, chegou a surpreender o varejo. "Se não fôssemos rápidos, ficaríamos desabastecidos", disse o gerente de bebidas do Walmart no Rio Grande do Sul, Alessandro Corin. Segundo ele, desde 2008 o volume de vendas de suco cresceu 32% nas lojas da rede no Estado, ao mesmo tempo em que dobrou o número de rótulos disponíveis nas prateleiras, para 37 atualmente.
"No longo prazo, em cinco a dez anos, o suco pode até superar os vinhos de mesa no Brasil", diz Benedetti. Mais recentemente, o segmento ganhou o reforço dos orgânicos, feitos com uvas cultivadas sem insumos químicos. A novidade também vem caindo no gosto do consumidor apesar dos preços 30% a 40% maiores do que os sucos convencionais, devido aos custos mais altos de produção.
Conforme o presidente da Uvibra, as vinícolas ainda têm o mercado externo a explorar, já que as exportações do segmento são incipientes. "Mas para isso o Brasil precisa criar marcas fortes para enfrentar multinacionais como a Coca-Cola no mercado internacional", comenta.
Considerando todas as apresentações do produto - natural, néctar, concentrado e bebida de fruta -, o sabor uva é o mais consumido no Brasil, com 93 milhões de litros em 2009, 22,5% do mercado total, segundo a Nielsen.
Veículo: Valor Econômico