Itens com 25% menos gordura e sódio e 15% menos gordura saturada. Essa é a meta da PepsiCo para tornar seus produtos mais saudáveis e conquistar os consumidores
O último estudo da Organização Mundial da Saúde sobre os hábitos alimentares da população ao redor do globo foi alarmante. Estima-se que exista um bilhão de obesos e, até 2015, esse número chegará a 1,5 bilhão. Mais: a obesidade alcançou proporções epidêmicas e a cada ano morrem, no mínimo, 2,6 milhões de pessoas por causa disso. O desequilíbrio entre calorias ingeridas e gastas no dia a dia, entretanto, não preocupa apenas a população e as organizações de saúde. A indústria alimentícia tem quebrado a cabeça para criar produtos saudáveis, melhorar a imagem perante os consumidores e, assim, aumentar os lucros. E a PepsiCo, gigante com faturamento de US$ 43 bilhões, dona de marcas de refrigerantes e salgadinhos, tem trabalhado fortemente para “emagrecer” os seus produtos.
Desde que a indiana Indra Nooyi, CEO do grupo, assumiu a companhia, ela determinou metas de redução de gorduras saturadas e trans, de sódio e açúcar em alimentos e bebidas. No Brasil, México, na China e nos EUA, a companhia já conta com grupos formados por profissionais da área da saúde cuja função é apoiar o desenvolvimento de produtos com esse perfil. “Até 2015 temos a meta de reduzir gordura e sódio em 25% e gordura saturada em 15% de todos os produtos”, diz Otto von Sothen, presidente de alimentos da PepsiCo do Brasil, à DINHEIRO. Com isso, os executivos esperam que a área de produtos saudáveis, que hoje rende US$ 10 bilhões para a PepsiCo no mundo, alcance US$ 30 bilhões ao longo da próxima década. E o Brasil é peça-chave nesse processo.
Por aqui, as áreas de bebidas e de alimentos da PepsiCo trabalham separadamente, mas esse projeto de tornar o leque de produtos mais saudável as une. Afinal, as duas áreas trabalham para alcançar as mesmas metas. E o mercado de alimentação saudável no Brasil colabora para isso: ele movimenta US$ 15,5 bilhões por ano e a expectativa é de que salte 25% ao ano até 2015. Para pegar carona nesse crescimento, a PepsiCo tem adotado uma série de estratégias que vão da reformulação de sua linha fabril ao lançamento de novos produtos. Pode parecer um processo simples, mas essas decisões têm implicado uma série de mudanças estruturais dentro da companhia. Apenas para o desenvolvimento e produção do óleo de girassol de alto teor oleico, ingrediente com menos gordura saturada e utilizado nas receitas de salgadinhos, a companhia vai investir US$ 30 milhões nos próximos cinco anos. “Esse será o maior investimento feito localmente na transformação dos nossos produtos em valores absolutos”, afirma Sothen.
O processo é complexo. Para ter o óleo, a PepsiCo precisa ter uma grande quantidade de girassóis e, diante disso, fecha contratos de exclusividade com agricultores de todo o País. “Temos dez mil hectares plantados só de girassóis”, conta Sothen. O impacto dessa mudança é sentido dentro da fábrica. “Os tanques de abastecimento de óleo precisam ser reconstruídos e readaptados para que você tenha sistemas separados de óleos diferentes dentro das fábricas”, diz Sothen. Para a linha Sensações Ao forno, batata chips assada, a empresa precisou erguer uma linha de produção nova dentro da fábrica de Sorocaba: forno, equipamentos de processo, alimentação, prédio... “Tudo isso feito do zero”, explica o executivo.
Para desenvolver novos produtos e tecnologias, a PepsiCo do Brasil conta com uma verba de US$ 70 milhões só neste ano, que também será usada na construção de novas unidades industriais em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo; Recife, em Pernambuco, e Feira de Santana, na Bahia. Duas delas estão estrategicamente posicionadas no Nordeste porque é uma das regiões que mais têm crescido no País. Nos últimos três anos, as vendas da companhia aumentaram 20% em volume, quase três vezes mais do que no restante do País. Esses investimentos fazem parte de um pacote de US$ 300 milhões previstos para o Brasil entre 2008 e 2013, anunciado pela CEO, Indra Nooyi, no ano passado.
Entre os produtos fabricados em versões mais “magras”, desde então, surgiram o Fandangos Eco e o Toddynho Fit. A marca de sardinha Coqueiro também recebeu mais atenção. E subprodutos como patês, molhos e atum light foram criados. Já a Quaker ganhou a linha Quaker de Bolso, com produtos de aveia, como biscoitos e barra de cereal. “São produtos que caem como uma luva porque aliam saúde com conveniência. Podem ser carregados na bolsa e consumidos a qualquer hora”, diz Sothen. A ideia é começar a vender os produtos em academias de ginástica.
Hoje, a empresa conta com uma rede de distribuição de 400 mil pontos de venda no Brasil, e esse novo negócio ampliará sua capilaridade. “A entrada em academias não é tão importante em termos de volume, mas reforça a imagem da companhia aliada a produtos saudáveis”, diz Timothy Altaffer, professor de marketing do Insper. Essa entrada no setor de produtos saudáveis não acontece apenas no segmento de alimentos. A área de bebidas também é muito sensível a essa mudança de comportamento dos consumidores. Tanto é que a PepsiCo lançou produtos como a H2O, água gaseificada sem açúcar e calorias, comprou a Amacoco, dona da marca Kero Coco, no ano passado.
Falta à empresa uma boa marca de sucos no Brasil, mercado dominado pelas rivais Coca-Cola, com marcas como Del Valle e Suco Mais, e Unilever, dona do suco de soja Ades. O presidente de bebidas da PepsiCo, Paulo Campbell, admite à DINHEIRO que essa é uma lacuna no portfólio da companhia no Brasil. “Estamos de olho em vários segmentos. Em alguns, somos mais rápidos; em outros, mais lentos. O Kero Coco detém 70% de participação do mercado de águas de coco e é um exemplo do interesse da companhia no nicho de produtos mais saudáveis”, diz Campbell.
Veículo: Isto É Dinheiro