No verão passado, as temperaturas mais quentes provocadas pelo fenômeno meteorológico El Niño levaram as pessoas a beber mais cerveja. Segundo a Nielsen, as vendas de dezembro e janeiro - os meses mais quentes do ano - somaram 1,6 bilhão de litros, ou seja, 14,4% mais que o volume registrado no mesmo intervalo, um ano antes. A alta foi considerada extraordinária pela indústria cervejeira do país, uma vez que a variação de um verão para o outro jamais tinha dado tamanho salto. Mas o El Niño está acabando.
No final de setembro, segundo o meteorologista Celso Oliveira, da Somar Meteorologia, os dias quentes decorrentes do fenômeno darão lugar a La Niña, com temperaturas amenas e dias nublados, mas de pouca chuva.
"É o tipo de clima péssimo para a indústria de cervejas", diz Oliveira, que recebe anualmente pedidos de previsões de várias cervejarias preocupadas em planejar vendas. Mas se engana quem pensa que as condições climáticas serão páreo para o mercado cervejeiro nacional, este ano com projeção de alta de 6% a 10%.
"O clima tem grande influência, sim, mas a indústria se prepara para não perder faturamento", diz Douglas Costa, gerente de marketing do Grupo Petrópolis, da marca Itaipava. A cervejaria, segundo ele, costuma fazer uma adaptação de portfólio em verões de La Niña, o que deve acontecer agora, novamente. "As cervejas especiais, mais caras, são menos suscetíveis à sazonalidade e elas acabam suprindo uma eventual queda no consumo das marcas pilsen (o tipo mais consumido no país)", explica ele.
Além dessa adaptação do portfólio, a indústria também investe mais em marketing. Este ano, o investimento da Petrópolis, por exemplo, passou dos R$ 50 milhões gastos no ano passado para um orçamento de R$ 60 milhões em 2010. "Iríamos investir pesado nessa última semana de Copa do Mundo se o Brasil tivesse se classificado. Mas agora vamos usar esse dinheiro para outras ações de verão, para aplacar os possíveis efeitos do La Niña", diz Costa.
Nos meses de verão, a demanda por cerveja no Brasil cresce cerca de 20% em relação ao período mais frio. A preparação para suprir esse pico de consumo começa, nas fábricas, a partir de agosto.
Na Petrópolis, mesmo com a perspectiva de tempo nublado, pouco sol e temperatura média em São Paulo para janeiro de 27°C (no último verão a média foi de 29°C), não há planos para reduzir a produção. "A economia está aquecida e o 'fator bolso' acaba tendo mais peso. Por isso a aposta continua sendo em uma alta do consumo", acrescenta Costa. Adalberto Viviani, consultor especializado no mercado de bebidas, também tem a mesma opinião. "Mesmo que a temperatura caia, ela irá continuar alta. No Nordeste, por exemplo, se a média cair de 32°C para 30°C ou 29°C, isso não faz diferença."
Veículo: Valor Econômico