Com mercado em dificuldades na Europa, produtores de países como Itália, Portugal e Espanha aumentam vendas para o Brasil
O ritmo de entrada de vinhos importados no mercado nacional acelerou. No primeiro semestre, a estimativa é que o crescimento médio tenha ficado em 28% em relação ao mesmo período do ano passado.
As razões que impulsionam esse cenário são, de um lado, a retração do mercado consumidor europeu, que faz do Brasil um destino para os produtores desovarem estoques. De outro, estaria em andamento uma antecipação de compras pelos importadores para evitar gastos com a entrada em vigor, em novembro, do novo selo fiscal de controle no segmento.
Entre janeiro e maio, segundo os dados consolidados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) - com base em informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior -, a importação de vinho italiano, por exemplo, aumentou 58,57%. A alta nas importações de vinho português foi de 24,8%, quase similar à compra de vinhos espanhóis, que cresceu 22,32%. Já a de vinhos franceses aumentou 11, 76%.
"A situação pode piorar, já que a Argentina e o Chile também perderam mercado na Europa e vão querer vender mais aqui", diz o presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Henrique Benedetti. Embora ninguém ainda queira falar abertamente sobre o tema, o sinal de alerta já foi dado no Sul do País, onde se concentra a produção nacional da categoria.
Preço. A razão é simples: como a demanda não experimenta nenhuma explosão de consumo, a tendência é que o preço do vinho caia, já que a oferta vai se expandir e o produto é perecível. "O mercado europeu está realmente muito ruim", pondera Ciro Lilla, dono da Mistral, uma das mais tradicionais importadoras do Brasil. Ele nunca recebeu tantas visitas de produtores estrangeiros querendo entrar no mercado nacional como este ano. E alerta: "Há muito vinho ruim nessa oferta, produtores de pouca tradição e adegas pequenas sem produto de qualidade."
Tanto Lilla quanto Benedetti apostam que o mercado vai resistir a baixar os preços num primeiro momento, em especial em relação aos vinhos de primeira linha, como os disputados Bordeaux, que estão sendo absorvidos pelo faminto mercado chinês (ver ao lado). Júlio Fante, presidente do Ibravin, entretanto, reconhece que a redução está no cenário e afeta mais o vinho brasileiro, que batalha pelo reconhecimento do mercado consumidor. "Mas ainda está longe de ser desesperador, porque o mercado não muda da noite para o dia", avalia.
Fante considera que ainda há tempo para o produtor interno ganhar posição e não se provocar um desmonte da cadeia interna no segmento. Para ele, os fabricantes têm condições de agilizar, com o governo, a implantação de políticas de proteção ao mercado interno, como, por exemplo, reavaliar as concessões feitas à importação de vinhos chilenos e argentinos que, nos últimos anos, invadiram as gôndolas dos supermercados.
Com ou sem políticas protecionistas, o varejo de vinhos no Brasil passa por expressiva mudança nos últimos três ou quatro anos, na opinião de Alexandre Lessa Fadel, dono da importadora Max Brands. "Houve significativa redução da concentração das vendas", diz. "Hoje, há uma centena de pequenas empresas no ramo, com faturamento entre R$ 20 milhões e R$ 50 milhões, que competem oferecendo inovação e preço. Em média, os preços do vinhos importados caíram cerca de 10% nos últimos dois anos."
Com a experiência adquirida em grandes multinacionais de bebidas, Fadel cita como exemplo dessa movimentação do mercado o fato de a conhecida vinícola chilena Concha y Toro ter deixado a importadora Expand e ter aberto escritório próprio para vendas em São Paulo.
Antecipação. A antecipação de compras por parte dos importadores para fugir das novas exigências tem peso relativo no aumento das importações, nas considerações de Fadel - embora Fante, do Ibravin, considere esse um aspecto importante a impulsionar o aumento das compras de vinhos lá fora. "Acredito que essa iniciativa será postergada porque há muitas dúvidas sobre a implantação do selo fiscal, assim como falta estrutura nas barreiras alfandegárias para se fazer a selagem", argumenta.
A implantação do selo fiscal para garantir maior fiscalização sobre o contrabando e diminuir a informalidade era uma reivindicação antiga do setor vitivinícola do País. Os produtores acreditam que o selo servirá para estimular a competitividade do vinho nacional.
Veículo: O Estado de S.Paulo