Cerveja: Carlsberg melhora margens, mas dependência da Rússia é ponto fraco

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Do alto da sede da cervejaria Carlsberg, em sua sala de CEO, Jorgen Buhl Rasmussen poderia ter posicionado sua escrivaninha para ter uma vista geral de Copenhague. Em vez disso, a área de trabalho é dominada por um grande terminal de computador mostrando as mais recentes oscilações dos mercados financeiros, com as cotações das ações da Carlsberg e das cervejarias rivais exibidas em destaque.

 

Nos últimos tempos, o monitor também vem exibindo uma vista das melhores para o executivo. As ações da Carlsberg mais do que triplicaram de valor desde o ponto mais baixo da crise de 2008, enquanto o índice MSCI mundial de alimentos e bebidas subiu 44%.

 

Em parte, a elevação reflete a melhora das perspectivas econômicas da Rússia, onde a Carlsberg obtém quase metade de seus lucros, depois de ter investido bilhões de dólares para conquistar uma posição dominante no país.

 

Os investidores também reconheceram os esforços para melhorar o desempenho da Carlsberg na Europa Ocidental e para alimentar o crescimento na Ásia, dentro da estratégia da quarta maior cervejaria do mundo para concorrer com as rivais Heineken, SABMiller e Anheuser-Busch InBev (AB InBev).

 

"Havia algumas poucas áreas em que senti que precisávamos ir melhor", lembra-se Rasmussen, que assumiu há três anos. "Uma era a liderança - a gestão era muito de cima para baixo. Precisávamos de líderes que pudessem tomar decisões mais rápidas."

 

Rasmussen, de 55 anos, que havia sido chefe regional da Gillette, marca da Procter & Gamble, contratou mais executivos externos, para tentar renovar a cultura de uma empresa ainda muito arraigada a sua herança dinamarquesa.

 

A Carlsberg é controlada por uma fundação criada por J. C. Jacobsen para incentivar o progresso científico. Dos 12 integrantes do seu conselho, nove são professores ou funcionários. "Historicamente, a Carlsberg era uma empresa com administração fraca", diz o analista Trevor Stirling, da Bernstein. "Rasmussen transformou a governança corporativa."

 

Passaram-se dois anos desde que a Carlsberg selou seu lugar entre os grandes do setor ao aliar-se com a Heineken para comprar a Scottish & Newcastle, o que lhe transferiu operações na Rússia, França, China e Vietnã. Seguiram-se compras na Ásia, a mais recente em junho, quando elevou sua fatia na chinesa Chongqing Brewery. Agora Rasmussen diz que a prioridade é integração e execução.

 

Grande parte do foco é reduzir custos. A margem de lucro operacional subiu de 11%, quando ele assumiu o comando, para quase 16% no primeiro trimestre do ano.

 

Na crise do ano passado, o lucro operacional subiu 18%, apesar da queda de 4% nas vendas, levando em conta operações comparáveis.

 

Os analistas aguardam mais melhoras nas margens. O Barclays estima que a rentabilidade por cem litros de cerveja da companhia na Europa ainda seja 30% menor que a da Heineken e da AB InBev - o que mostra potencial para ampliá-la. A Carlsberg prevê que este ano as vendas em volume voltarão a cair na Rússia, devido ao aumento nos impostos sobre a cerveja promovido para reprimir o alcoolismo, e na Europa Ocidental.

 

Analistas dizem que a volatilidade na Rússia explica por que as ações da Carlsberg são negociadas com desconto em relação às das rivais. Matthew Webb, da JPMorgan Cazenove, descreveu a cervejaria como "o maior investimento de risco no setor de bebidas", por causa da incerteza política e econômica em seu maior mercado.

 

Rasmussen diz não se arrepender de ter feito uma aposta tão grande no país. "Quando se quer crescer, é preciso correr riscos. O mercado russo vem passando por um período de recomposição, mas há mais crescimento por vir."

 

Ainda assim, a Carlsberg almeja reduzir sua dependência da Rússia, desenvolvendo algum outro motor de crescimento na Ásia, especialmente na China, no Vietnã e na Índia. A Ásia representou apenas 13% das vendas em volume da Carlsberg em 2009, em comparação com os 43% da Europa Ocidental e 44% do Leste Europeu, mas seu peso vem subindo rapidamente.

 

Analistas questionam se a empresa poderá traduzir sua força no Oeste da China em uma presença mais abrangente no resto do país. O CEO diz que há espaço para "quatro ou cinco" grandes cervejarias na China e sustenta que a Carlsberg estará entre ela s. "Adoraríamos replicar o que fizemos na Rússia, mas não será fácil."
 

 

Veículo: Valor Econômico


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