Norte e Nordeste terão mais R$ 463 milhões para recuperar capacidade esgotada.
De São Paulo a Fortaleza são 3.094 quilômetros de estrada. Quando o consumidor da capital cearense abre uma latinha de cerveja da AmBev, ele nem desconfia que a bebida pode ter percorrido esse longo percurso, com duração média de dois dias e meio, de caminhão. Mas boa parte da cerveja que a Companhia de Bebidas da Américas tem vendido no Norte e Nordeste do Brasil tem feito essa viagem.
"Como as fábricas do Norte e Nordeste estão com a capacidade tomada, transferimos produto do Sul e Sudeste para lá", explicou Nelson Jamel, vice-presidente de relações com investidores da Ambev, em teleconferência de resultados do segundo trimestre ontem. O custo dessa operação, mais a importação de latas e as despesas mais altas com a importação de insumos, como cevada, acabaram reduzindo a margem de lucro bruta consolidada da companhia, de 67,8% há um ano para 65,9%.
"Houve uma pressão de custos muito grande no trimestre porque várias commodities que importamos subiram, mas não repassamos nada para o preço final", disse Jamel. Ele explica que a cervejaria teve espaço para absorver parte da alta dos custos por meio de sua política de descontos ao varejo. Ou seja: houve menos promoções, apesar da Copa do Mundo.
O torneio de futebol na África do Sul foi suficiente para ajudar a elevar as vendas de cerveja em 13,7% no trimestre. No ano passado, na mesma época, o crescimento das vendas foi de 5,2% em relação aos mesmos três meses de 2008. "As vendas tiveram um ótimo crescimento, apesar de a seleção brasileira ter saído antes do Mundial", afirmou Jamel.
Esse crescimento, segundo ele, foi maior no Nordeste e no Norte. Apesar dos investimentos de R$ 670 milhões já anunciados para essas regiões, as fábricas desses Estados não têm dado conta da demanda. Por isso, até outubro, a companhia deve anunciar mais dois investimentos focados nessas áreas.
Dos R$ 2 bilhões que a AmBev destinou este ano para ampliações e novas fábricas, a empresa já divulgou R$ 1,537 bilhão, divididos entre os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e também entre Norte e Nordeste. Os R$ 463 milhões restantes serão usados para melhorar a capacidade nessas duas regiões.
"O Norte e o Nordeste respondem por apenas 20% do consumo nacional, mas essa proporção deve mudar em breve porque o crescimento por lá está muito mais celerado que nas outras regiões do país", afirmou Jamel.
Já a importação de latas deve continuar até o fim do ano, uma vez que a produção nacional ainda não atingiu níveis suficientes. De toda cerveja feita pela AmBev, 30% é embalado em latas. "A importação é bem menos que a metade do volume total de lata que necessitamos", disse Jamel. No entanto, os custos dessa operação acabam pesando. Segundo informações do mercado, as latas importadas custam 60% mais que as nacionais.
A AmBev teve lucro líquido de R$ 1,510 bilhão no trimestre, comparado a R$ 1,375 bilhão do mesmo trimestre do ano anterior - alta de 9,8%. O lajida (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) teve alta de 1,7%, chegando a R$ 2,408 bilhões. A receita líquida da cervejaria cresceu 6,2%, alcançando R$ 5,678 bilhões no trimestre - graças ao salto de vendas em volume. Segundo o relatório, a AmBev vendeu 8,3% mais em volume. No Brasil, as vendas em volume (incluindo refrigerantes) deram um salto de 12,6%. A operação Quinsa (Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai) teve elevação de 2,2% e a Hila-ex (restante dos países latino-americanos), de 1,5%. O Canadá, entretanto, teve queda de 5,5%.
"Para o restante do ano, estamos trabalhando para melhorar a performance de países importantes como Argentina e Canadá, enquanto no Brasil esperamos continuar nos beneficiando das condições macroeconômicas e de nossa própria performance", disse João Castro Neves, diretor geral da Ambev, no relatório da empresa.
Veículo: Valor Econômico