Só aguardentes mais finas têm aumento de demanda no ano
No Brasil, os consumidores das classes C e D são responsáveis por 80% das vendas de cachaça. Mas esse público que parecia bastante fiel à mais tradicional bebida destilada brasileira, agora está mudando seu comportamento. Em busca de status, ele vem deixando a caninha de lado para experimentar bebidas mais sofisticadas, como vodca e uísque importado.
"A cachaça não está acompanhando a expansão da economia porque o consumidor quer ficar chique", diz César Rosa, diretor do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac) e da Indústria Reunidas de Bebidas Tatuzinho, fabricante da cachaça popular Tatuzinho e da Velho Barreiro, com posicionamento de preço acima da média do mercado.
De janeiro a julho, as vendas de cachaça regrediram 3,8% em volume em relação ao mesmo período de 2009, segundo a Nielsen. A vodca, por sua vez, teve aumento de 1,9% nas vendas em litros no mesmo intervalo. Em relação ao uísque, os dados são mais peculiares. Enquanto o uísque nacional ou engarrafado no Brasil despencou em vendas, com volumes 9,2% menores que no ano passado, conforme a medição Nielsen feita entre janeiro e setembro, o importado disparou. Nesses nove primeiros meses do ano as vendas em volume cresceram 18,5%.
"O consumidor não quer apenas beber algo. Ele quer o status que a bebida proporciona", diz Adalberto Viviani, consultor especializado no mercado de bebidas. Uma característica do comportamento de consumo da aguardente fundamenta essa teoria: do total de cachaças vendidas no país, 85% é consumida no chamado "ponto de dose", ou seja, bares, lanchonetes e restaurantes. Só 15% das vendas acontece em supermercados e padarias. "Com mais dinheiro no bolso, o brasileiro agora pode comprar as marcas que ele aspira", diz Luiz Eduardo Osório, diretor de relações corporativas da Diageo, fabricante do uísque escocês Johnnie Walker e da linha de vodcas e bebidas à base de vodca Smirnoff. Segundo ele, esse movimento das classes C e D tem beneficiado todas as bebidas do mix da empresa. "Batemos recorde de participação de mercado com Smirnoff, que agora tem 50,2% das vendas de vodca no país."
A italiana Campari, que na semana passada divulgou resultados do terceiro trimestre, comemorou vendas líquidas 13% maiores da vodca Sky "notadamente pelo desempenho do Brasil". Só no país, as marcas da empresa venderam 23,1% mais nos primeiros nove meses do ano em comparação com igual intervalo de 2009.
Fora do universo das vodcas e dos uísques importados, somente as cachaças mais sofisticadas têm conquistado vendas. "Enquanto a Tatuzinho, nossa marca mais popular, vêm andando de lado, a Velho Barreiro já cresceu 19% este ano em litros em comparação com o mesmo período do ano passado", diz Rosa. Graças ao desempenho da marca mais cara, a empresa vai fechar 2010 com faturamento de aproximadamente R$ 150 milhões - R$ 20 milhões a mais que em 2009.
Veículo: Valor Econômico