O brasileiro está mudando sua maneira de beber cerveja. Conforme pesquisas do setor, as vendas em volume estão crescendo, ou seja, as pessoas estão bebendo mais. Entretanto, os estudos também mostram que, diferentemente de anos anteriores, tem aumentado o número de consumidores que preferem comprar a bebida no supermercado para tomar em casa. Já o consumo do produto em bares e restaurantes está caindo.
De janeiro a setembro, os brasileiros consumiram 5,454 milhões de litros de cerveja, segundo a Nielsen. Um acréscimo de 5,94% sobre os 5,145 milhões de litros vendidos em igual período do ano passado. "Esse é um bom contra-argumento para os que acharam que a Lei Seca iria frear o consumo", comenta Adalberto Viviani, da consultoria Concept, especializada no mercado de bebidas.
Outro levantamento feito pela Nielsen, no mesmo período, mostra o crescimento da compra de bebidas em supermercados. "Entre os nove grupos de produtos que pesquisamos, o volume de vendas nos supermercados caiu em sete. Só bebidas alcoólicas e não-alcoólicas tiveram aumento", diz Filipe Aboláfio, coordenador de pesquisas especiais. As cervejas impulsionaram a alta no grupo de alcoólicas, com 5,2%. Vinhos de mesa (2,9%) e refrigerantes alcoólicos (11,8%) também tiveram vendas maiores. As aguardentes saltaram 4,7%. "No meu caso, aqui na companhia, sentimos esse mesmo percentual nos supermercados. Nos bares, não houve alteração. Mas sei de outras marcas que caíram bastante", diz César Rosa, presidente da IRB Tatuzinho 3 Fazendas, dona da cachaça Velho Barreiro.
No caso da cerveja, o cenário nos bares e restaurantes mudou mais drasticamente. Segundo um levantamento feito pela indústria com distribuidores de todo país, o consumo nos bares caiu 35%. Já nos estabelecimentos com auto-serviço (supermercados, por exemplo) saltou 20%, segundo Martinho Paiva Moreira, vice-presidente de comunicação da Associação Paulista de Supermercados (Apas). "Observamos essa alta em qualquer tipo de loja, grandes e pequenas, de bairro ou mais bem localizadas", afirma ele.
"Fica claro o impacto da lei que proíbe o consumo de álcool antes de dirigir", diz Jovino Campos Reis, diretor da rede de supermercados Bahamas, de Juiz de Fora (MG). "Subiu também, na mesma proporção, a venda das cervejas sem álcool", diz ele. "E olhe que em Juiz de Fora nem tem bafômetro para fiscalização", afirma ele.
Outro dado que deixa clara a influência da lei foi a queda do consumo do chope, que chegou a 50% depois da aprovação da nova regra, em relação aos mesmos meses de 2007. Isso porque 98% do consumo só é possível em bares. Para indústria, mesmo que possa ser compensada pelo aumento de venda de cervejas, a queda no consumo de chope pode se refletir no faturamento. Isso porque, enquanto uma garrafa de cerveja, com 600 ml custa em média R$ 3, o copo de chope (dependendo do colarinho) tem metade do volume e custa quase o dobro do preço.
Por isso marcas como a Femsa comemoram os resultados de seu mais novo produto: a cerveja sem álcool. O volume de vendas cresceu 44% de julho a setembro, comparado ao mesmo período do ano anterior. Na AmBev, a já veterana Liber, que nunca teve representatividade frente às outras marcas da empresa, conquistou em agosto 78,5% mais vendas versus mesmo período do ano anterior.
Na mesma esteira, ganham mercado também as marcas chamadas de "low price", com preço pelo menos 10% menor que a média. Isso vale tanto para cervejas como para bebidas alcoólicas em geral. Segundo a Nielsen, nos supermercados, do volume comercializado nos nove primeiros meses do ano, 73% ficou com os produtos mais baratos da categoria. É por isso que a cerveja Itaipava, da Petrópolis - uma baratas - é a preferida dos consumidores dos supermercados da Grande São Paulo, conforme o levantamento da revista "Super Varejo". Também é devido ao preço que o consumidor tem comprado mais cerveja. Se nos bares, uma lata custa R$ 2,50, no mercado da esquina sai por só R$ 1. Com R$ 10, em vez de quatro latas, o consumidor bebe dez. Mas em casa.
Veículo: Valor Econômico