Uma legião de nomes russos, ou pretensamente russos - como Leonoff, Skarloff, Askov, Moscowita, Ninnoff, Zvonka ou Rajska -, está invadindo as prateleiras de bebidas alcoólicas de bares e supermercados de todo país. Embalados pelo crescimento das vendas da bebida no Brasil, tradicionais fabricantes de destilados populares estão lançando ou relançando suas marcas de vodca e de "ice" vodca. Até o cervejeiro Grupo Petrópolis decidiu entrar na categoria.
"Queremos oferecer aos consumidores uma nova opção dentro de um setor que vem tendo crescimento de volume na faixa de 30% ao ano", diz Douglas Costa, gerente de marketing da Petrópolis, fabricante da cerveja Itaipava e dona de aproximadamente 10% do mercado nacional. A Blue Spirit Unique - a vodca da Petrópolis - foi lançada no mês passado e está sendo produzida pela Dialcool Fabricação, Beneficiamento e Comércio de Álcool, em São Roque (SP). A cervejaria também lançou a versão "ice" da bebida - categoria que cresce igualmente 30% ao ano - e com ela espera assumir a segunda posição nas vendas no segmento ainda em 2011.
Hoje, a liderança entre as vodcas "ice" está com a Smirnoff Ice, da Diageo, que tem 70% do mercado. "Os outros concorrentes são marcas pequenas, sem relevância", diz Sérgio Giorgetti, gerente de marketing da Smirnoff no Brasil. A "ice" da Diageo foi a primeira a ser lançada no país, há 11 anos. No início, mais de 90% das vendas aconteciam em bares e restaurantes. Hoje, 60% estão concentradas em supermercados. "Isso prova que as pessoas incorporaram o consumo da bebida no seu dia a dia", diz Giorgetti.
Com as vodcas, a relação entre as vendas nos "pontos de dose" (bares e restaurantes) e no autosserviço é parecida. Smirnoff é líder entre as nacionais, com 30% do volume. Orloff, da Pernod Ricard, tem 14,6%. Entre as importadas, a líder é a Absolut, também da Pernod, com 77,3%. Mas, conforme a Nielsen, 99% do consumo de vodca são de bebidas fabricadas no país.
"Com as classes C e D consumindo cada vez mais, muita gente está deixando a tradicional cachaça e indo para a vodca, em busca de status", diz o consultor especializado no mercado de bebidas, Adalberto Viviani. "Esses novos consumidores chegam à categoria por meio das marcas de entrada", afirma.
Essas marcas de entrada são as novas vodcas que estão surgindo. A Casa Di Conti, fabricante do vermute Contini, é uma das empresas que resolveu apostar nesse mercado de 38,5 milhões de litros ao ano (ou R$ 1,2 bilhão), no caso da vodca, e de 30,8 milhões de litros (cerca de R$ 300 milhões), para as "ice", segundo a Nielsen. Fundada em 1947, a companhia relançou no ano passado a vodca Polara (descontinuada no final dos anos 80) e prepara o lançamento da versão "ice" para o segundo semestre.
"Quem já tinha lançado está reposicionando e, quem não tinha, está lançando", diz Cesar Rosa, presidente do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac). Além de entrar em um mercado crescente e com boas margens (os preços vão de R$ 5 a R$ 55 para as vodcas nacionais), as empresas aumentam também a rentabilidade da distribuição, entregando mais produtos aos pontos de venda, diz Rosa.
No caso das "ice", há também uma vantagem tributária. Bebidas destiladas ou fermentadas de cana-de-açúcar ou de cereais (como cachaças e vodca) pagam 60% de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Mas há uma brecha na lei: fermentados ou destilados com teor alcoólico abaixo de 8% têm alíquota menor: 40%. É o caso das "ice", que têm em média 5% de graduação alcoólica.
Veículo: Valor Econômico