Muhtar Kent, presidente da Coca-Cola Co., disse ontem que a fabricante americana de refrigerantes pretende gastar outros US$ 4 bilhões na China nos próximos três anos. É o mais recente investimento de vulto por uma grande multinacional de bebidas e alimentos para conquistar a segunda maior economia do mundo.
Em entrevista exclusiva ao The Wall Street Journal, Kent disse que a verba seria usada para abrir mais engarrafadoras, ampliar instalações e custear iniciativas de distribuição, marketing e desenvolvimento de novos refrigerantes. "É nosso terceiro maior mercado no mundo, com um crescimento da ordem de dois dígitos", disse.
Nos planos da Coca-Cola para a China não há o seguinte: aquisições. "Isso já não está no nosso radar, pois vemos muito potencial de crescimento orgânico", disse Kent.
A Coca-Cola e a rival PepsiCo Inc. vêm investindo pesado na China. Com o crescimento do público consumidor no país mais populoso do mundo, as duas registram ali taxas de crescimento de dois dígitos - o que ajuda a compensar a queda das vendas no mercado americano. No ano passado, a PepsiCo criou um programa de US$ 2,5 bilhões a serem investidos em três anos pela divisão de salgadinhos e bebidas, o que inclui novas fábricas e até o cultivo de batata - e isso além do US$ 1 bilhão já investido desde 2008.
A rede americana de fast-food McDonald's Corp. pretende expandir o total de estabelecimentos na China dos atuais 1.300 para 2.000 até 2013. No mês passado, a gigante suíça Nestlé SA ofereceu US$ 1,7 bilhão pela fabricante de doces chinesa Hsu Chi Fu International Ltd.
A Coca-Cola, que informa que a China responde por 7% das vendas no mundo todo no quesito volume, está para encerrar o ciclo anterior de investimentos no país. Anunciado por Kent em 2009, previa gastos de US$ 2 bilhões em três anos. Na verdade, disse Kent na quinta-feira, foram investidos US$ 3 bilhões. Esses investimentos na China são grandes pelos padrões históricos: nas três décadas antes de 2009, a Coca-Cola gastou só US$ 1,6 bilhão no país, informou a empresa anteriormente.
"[A empresa] estabelece seu destino dois ou três anos antes de que se concretize, pelo menos no modo como nossos negócios operam", disse Kent.
O executivo indicou que o lucro reinvestido vai cobrir parte dos novos gastos. "Geramos muito caixa", disse. Parte do investimento também virá de projetos com sócias da empresa na área de engarrafamento, a Swire Beverages Ltd. e a Cofco Coca-Cola Beverages Co.
Na China, a Coca planeja mais iniciativas como a do suco de laranja Minute Maid Pulpy, nascido ali. Foi a primeira marca da empresa criada num país emergente a alcançar US$ 1 bilhão em vendas; hoje, está em mais de 30 países. "Não vemos a China só como um grande mercado para crescer. Para nós, a China é um mercado futuro para mais inovações que beneficiem a empresa mundialmente", disse.
Mas Kent, de 59 anos, já passou por dificuldades na China desde que assumiu o comando, em julho de 2008. Naquele ano, a Coca foi um dos patrocinadores das Olimpíadas de Pequim e do polêmico revezamento da tocha. Meses depois, em março de 2009, o acordo de US$ 2,4 bilhões pelo qual compraria a Huiyuan Juice Group Co., de capital fechado, foi rejeitado pelo órgão de defesa da concorrência do Ministério do Comércio da China.
Em retrospectiva, disse Kent, dá para ver que a empresa conseguiu, por conta própria, "uma liderança clara" no mercado chinês de sucos. Estamos focados no crescimento orgânico, não em aquisições, pois vemos muito potencial [no país]", disse.
No último trimestre, o volume de vendas do carro-chefe da empresa - a marca Coca-Cola - subiu 23% na China, o melhor resultado desde 2004. Em novembro, Kent vai inaugurar a 42a. engarrafadora ali; será no norte, na província de Liaoning. A Pepsi também se concentra em zonas menos desenvolvidas na campanha para abrir cerca de dez novas fábricas na China. O serviço de informação americano Beverage Digest calcula que a Coca-Cola ficou com 60,1% do mercado chinês de refrigerantes no ano passado, seguida da PepsiCo, com 34,6%.
Kent não quis discutir em detalhe a alta nos preços do açúcar, do milho e de outras commodities. Segundo ele, a empresa tem alternativas para lidar com isso, o que incluiria aumento de preços e produtividade. "Estamos vivendo o mesmo que vive todo fabricante de alimentos", disse.
A valorização recente do yuan não teve impacto nas operações da empresa, afirmou.
Assim como várias multinacionais, a Coca-Cola está "mantendo conversas" com autoridades em Xangai sobre a possibilidade de lançar ações da empresa na bolsa local, disse Kent; mas não há um desfecho iminente.
Veículo: Valor Econômico