A AB Inbev está pesquisando o continente africano em busca de empresas para comprar, segundo apurou o Valor. A maior cervejaria do mundo, cuja estratégia é se fortalecer em mercados emergentes, já tem forte presença na América Latina e comprou uma série de companhias na China, mercado considerado prioritário. Falta, de fato, colocar a África no seu mapa de operações, continente onde ainda não está presente.
A AB Inbev não é a única a prospectar oportunidades na região. Em agosto, a holandesa Heineken adquiriu a Bedele e a Harar, ambas pertencentes ao governo da Etiópia, por US$ 163 milhões. Também a inglesa SABMiller estaria buscando alvos na Nigéria, Sudão, Etiópia, Uganda, Zâmbia e Moçambique. No Brasil, a SABMiller foi uma das cervejarias que disputou o controle da Schincariol este ano, que acabou sendo vendido para a japonesa Kirin.
Entre 2005 e 2010, o consumo de cerveja na África e no Oriente Médio cresceu 32% em volume, segundo a Euromonitor, para 13,7 bilhões de litros. Trata-se do dobro do índice do crescimento mundial, que foi de 16% no período, chegando a 186,7 bilhões de litros no ano passado.
A SABMiller é a maior cervejaria que opera na África. No mês passado, adquiriu a australiana Foster's, o que elevou o seu faturamento anual para US$ 30,6 bilhões.
A belgo-brasileira AB Inbev, com vendas de US$ 36,3 bilhões, ainda está pagando a compra da americana Anheuser-Busch, feita em 2008, por US$ 52 bilhões. O pagamento da dívida para esta aquisição tem sido antecipado, mas ainda deve levar dois anos para ser quitado totalmente. A dívida líquida da AB Inbev é de US$ 40 bilhões, segundo balanço do primeiro semestre. No período, o caixa da empresa somou US$ 4,5 bilhões.
Questionada pelo Valor se estaria em negociações com a SABMiller, a AB Inbev respondeu que "não comenta rumores de mercado ou especulações". A resposta foi a mesma sobre o seu interesse no continente africano. Analistas ouvidos pela agência Bloomberg minimizaram a especulação feita ontem pela imprensa brasileira, de que a AB Inbev teria uma oferta de US$ 80 bilhões pela SABMiller. Para os analistas, tal negócio seria contrário à orientação recente da gestão da AB InBev, de se tornar menos alavancada. Na quarta-feira, o valor de mercado da SABMiller estava em US$ 55 bilhões.
Ontem, as ações da SABMiller subiram 7% na Bolsa de Londres, cotadas a 2,24 libras, enquanto o papel da AB Inbev recuou 0,42% na NYSE Euronext, a 39,46.
Segundo um estudo da consultoria Canadean, referência no setor de bebidas, a África é uma das regiões com maior potencial de crescimento em cervejas no mundo. Entre os anos de 2009 e 2015, o consumo no continente deve crescer 5%, mesmo percentual previsto para a Ásia. A região que engloba o Norte da África e o Oriente Médio é destacada pela Canadean como a de maior crescimento potencial no período, 5,5%. Por outro lado, as vendas nos Estados Unidos devem crescer só 1,5%, enquanto que as da Europa ficarão estagnadas. Na América Latina, a previsão é que o consumo de cerveja suba 3%.
"A África é um mercado que interessa às maiores cervejarias, especialmente a África do Sul, por conta do potencial de crescimento do nível de renda da população", diz o consultor Adalberto Viviane. A África do Sul e a Nigéria se tornaram os principais parceiros comerciais dos chineses no continente. A China tem expandido os seus investimentos na região, nos setores de construção, têxteis, iluminação, petróleo e gás, o que vem incentivando a geração de empregos.
Desbravar a África, assim como outros emergentes, é um caminho natural para as maiores cervejarias, diz Viviane. "Para ganhar market share, os grandes players têm que partir para fusões ou aquisições, o crescimento orgânico é pouco significativo", diz.
Veículo: Valor Econômico