A Jadangil, sócia minoritária da Schincariol, segunda maior cervejaria do país, aceitou ir para a mesa de negociações com a Kirin. Segundo apurou o Valor, representantes dos primos José Augusto, Daniela e Gilberto Schincariol Júnior, donos da Jadangil, estão em conversas com os japoneses que compraram em agosto a Aleadri, dona de 50,45% da empresa. A Kirin foi impedida de assumir a Schincariol por conta de liminar obtida na Justiça pela Jadangil.
A Kirin está pronta, inclusive, a pagar pelas ações dos minoritários algo semelhante ao que desembolsou pela Aleadri, empresa dos irmãos Alexandre e Adriano Schincariol: R$ 3,95 bilhões. Proporcionalmente, o valor da Jadangil seria de R$ 3,88 milhões. A negociação independe do resultado do julgamento da liminar, marcado para o dia 11, em São Paulo.
"Eles [acionistas da Jadangil] não estavam dispostos a vender mas, se for para negociar, não vão aceitar nada menos do que foi pago aos primos", diz uma fonte próxima à Jadangil. Quando foi a Itu (SP), sede da fabricante, fechar a compra da Aleadri, dos irmãos Adriano e Alexandre Schincariol, a Kirin cogitou pagar R$ 2 bilhões pela Jadangil, mas os primos se recusaram a conversar.
Na compra das ações de minoritários, em que não há prêmio de controle, o valor costuma ser pelo menos 20% inferior ao que é pago aos controladores, segundo especialistas. "Ninguém paga ao minoritário o mesmo que desembolsou ao controlador, se já tem a capacidade de tomar decisões por conta própria na companhia", diz um advogado. Se assumisse a Schincariol, a Kirin levaria os assuntos estratégicos para votar em assembleia, mas poderia decidir sozinha, segundo o estatuto da empresa.
A iniciativa mostra o quanto a Kirin, quinta maior fabricante mundial de cervejas, está ansiosa em assumir seu lugar na Schincariol e impedir que a companhia sofra com a briga societária. Segundo dados da Nielsen divulgados por empresas do setor, a participação em volume das marcas da Schincariol no mercado de cervejas era de 11,1% em abril. Em agosto, caiu para 10,3%. Nesse período, a Ambev, principal concorrente, subiu de 68,8% para 69,8% e, a Heineken, de 8,3% para 8,5%. A Petrópolis, rival mais próxima da Schincariol, saiu de 10,4% para 10,1%.
Foi em abril que Adriano Schincariol, presidente da companhia, avisou o primo Gilberto do valor que desejava pela Aleadri, entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões. Gilberto ficou de arranjar o dinheiro, enquanto Adriano abriu a empresa para que potenciais compradoras, como a Heineken, a Kirin e a SABMiller, fizessem "due dilligence".
"Um conflito societário sempre depõe contra a companhia", diz o advogado Eduardo Boccuzzi, especialista em fusões e aquisições. Nesses casos, diz, é plausível que o comprador pague um valor maior ao minoritário para se ver livre do problema. "Já acompanhei o caso de minoritário em uma fabricante de artefatos de borracha que conseguiu negociar sua parte por 90% do que foi pago ao controlador".
Mesmo porque, um minoritário pode até bater o pé, mas sabe que dificilmente vai acompanhar os aportes de capital de uma multinacional. "A luta é inglória", ressalta. "No primeiro aporte bilionário que o controlador fizer e não for acompanhado pelo minoritário, a participação dele é diluída."
Veículo: Valor Econômico