A Miolo, com sede em Bento Gonçalves, concluiu um amplo processo de reestruturação societária iniciado em 2009 que tem como meta colocar a vinícola entre as três maiores do setor na América do Sul e prepará-la para a abertura de capital até 2020. A operação incluiu o ingresso das famílias Randon e Benedetti, oficializado na sexta-feira, como sócias da nova holding Miolo Wines, uma sociedade anônima de capital fechado que passa a controlar cinco empresas. O projeto de expansão do grupo será financiado pela holding, que recebeu um aporte dos sócios, cujo valor não foi informado, e pela geração de caixa da operação.
A família Miolo, que fundou a empresa em 1990, segue como acionista majoritária do grupo, que agora controla as vinícolas Miolo, Seival e Almadén, no Rio Grande do Sul, mais a Ouro Verde, na Bahia, além da comercializadora Miolo Wine Group. Os percentuais precisos de cada sócio não são revelados, mas os Randon e os Benedetti dividem a participação restante em partes iguais por intermédio das holdings familiares Dramd e Lovara, respectivamente.
Na reestruturação societária da Miolo foi criado um conselho de administração com cinco integrantes presidido por Darcy Miolo e formado pelos irmão Paulo e Antônio Miolo (pai e tios de Adriano, respectivamente), além de Raul Randon e João Benedetti. Também foi criado um comitê consultivo com um representante de cada família. Na diretoria executiva, Adriano ocupa a superintendência e a área técnica. Seu irmão Alexandre comanda a área comercial. O diretor administrativo e financeiro ainda será contratado.
Concluída a reestruturação, a Miolo Wines vai agora investir na expansão da capacidade produtiva e dos canais de comercialização nos mercados interno e externo. O orçamento ainda não está pronto, mas o plano para o período 2011-2020 prevê a ampliação da produção de vinhos e espumantes de 12 milhões para 20 milhões de litros. A área de videiras próprias deve avançar de 1,2 mil para 2 mil hectares e o faturamento, de R$ 120 milhões para R$ 500 milhões.
Segundo o superintendente do novo grupo, Adriano Miolo, as três famílias já tocam projetos em comum há cerca de dez anos. Em 2000, João Benedetti, dono da indústria de móveis Bentec e da pequena vinícola Lovara, associou-se à Miolo para comprar a Ouro Verde, que permitiu o início das operações da Miolo no Vale do São Francisco, onde são produzidos os vinhos e espumantes da marca Terranova. Em 2002 foi a vez do empresário Raul Anselmo Randon, fundador do grupo Randon, que produz implementos rodoviários, ferroviários e autopeças, se associar aos Miolo para a produção do vinho RAR. O produto é elaborado a partir de uvas cultivadas pelo próprio Randon no município de Vacaria, no nordeste do Rio Grande do Sul, com tiragens limitadas a 50 mil garrafas por ano.
Mas o ensaio mais importante para a formação da nova sociedade começou em 2009, quando as três famílias se uniram para comprar a Almadén, de Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai, que pertencia à Pernod Ricard Brasil. O controle da empresa foi dividido em partes iguais e abriu para a Miolo as portas do mercado de vinhos finos de preços mais acessíveis.
Segundo Adriano Miolo, a partir de agora o grupo, que já é o maior produtor de vinhos finos do país, também vai brigar pela liderança no segmento de espumantes, no qual atualmente ocupa o terceiro lugar, atrás da Salton e da Chandon. Em 2011, 38% das quase 11 milhões de garrafas produzidas pela Miolo serão de espumantes; e 62%, de vinhos. Em 2020 a relação estará próxima do "meio a meio", diz o superintendente. Parte da produção anual de vinho também é estocada em barricas ou destilada para produção de brandy.
Os planos preveem uma presença mais forte no exterior. Em 2011 as exportações não devem passar de 4% do faturamento do grupo, mas até 2020 a meta é chegar a 30%. A Miolo também produz vinhos em parceria com as vinícolas Via Wines, no Chile, e Bodegas Septima (do grupo espanhol Codorniú), na Argentina, que respondem por 7% do faturamento.
Veículo: Valor Econômico