Na sua segunda visita ao Brasil desde 2008, quando assumiu a presidência da Pernod Ricard, Pierre Pringuet tem dúvidas sobre o lugar do país no ranking mundial da fabricante de bebidas. "É um dos nossos 10 principais mercados?", pergunta Pringuet a Bryan Fry, presidente da Pernod Ricard Brasil. "Não, é um dos 15 maiores", responde Fry. "Então temos trabalho pela frente", brinca o CEO mundial da francesa Pernod Ricard. "O Brasil tem capacidade para se tornar rapidamente um dos nossos 'top ten'", disse Pringuet ao Valor.
A dúvida do presidente mundial da Pernod Ricard - uma das maiores fabricantes de bebidas destiladas do mundo, dona da vodca Absolut e do uísque Chivas - tem sua razão. O Brasil teve desempenho admirável nos negócios da multinacional nos últimos meses. No ano fiscal encerrado em 30 de junho, as vendas no país cresceram 12%, só atrás das subsidiárias da Ásia (média de 15% de crescimento orgânico). No mundo, a receita líquida subiu 7% no ano, para € 7,6 bilhões.
No primeiro trimestre do ano fiscal 2011/2012, que terminou em 30 de setembro, o Brasil voltou a surpreender: alta de 17%, puxada por Absolut, Chivas Regal e Passport. No mundo, a receita líquida cresceu 6%, para €1,98 bilhão.
Para a Pernod, o aumento do poder de compra da classe média nos últimos anos favorece a busca por produtos mais sofisticados. A empresa aposta que o consumidor dos seus uísques Natu Nobilis (R$ 26) ou Passport (R$ 39), por exemplo, migre para marcas de maior valor do seu portfólio, como Ballantine's Finest (R$ 61,55) ou mesmo Chivas 12 anos (R$ 110).
"Tornar os nossos produtos cada vez mais premium é uma das nossas três estratégias globais, ao lado da globalização e da descentralização", diz Pringuet, referindo-se à presença global da Pernod (70 países em cinco continentes) e à necessidade de conferir poder local aos presidentes das subsidiárias para que tomem decisões rápidas.
Por isso, o australiano Fry não descuida do portfólio para a base da pirâmide. Depois de uma década longe da mídia, a vodca Orloff volta a estrelar campanha no mês que vem. Em nova embalagem, o produto custa R$ 21,90. Uma nova garrafa do uísque Natu Nobilis (R$ 25,80) também será apresentada este ano.
Fry trabalha para que o Brasil atinja logo um lugar entre os dez mais da Pernod. "Nos últimos dois anos, aceleramos os nossos investimentos em pessoas e marcas", diz Fry. Este ano, os investimentos locais cresceram 50%. Foram contratadas 50 pessoas para completar o quadro da empresa, de 500 funcionários. Em 2012, Fry planeja aumentar em mais 30% a injeção de recursos.
No país, a empresa acaba de lançar a Absolut Elyx, uma vodca premium que custa R$ 190 (o dobro da versão original). A bebida batiza a primeira loja da Pernod Ricard no mundo, aberta ontem em São Paulo. O ponto de venda sazonal, no Shopping Cidade Jardim, vai oferecer drinques e kits da bebida até o fim de dezembro. O marketing se justifica: o Brasil acaba de se tornar o segundo maior mercado do mundo para a Absolut, atrás apenas dos Estados Unidos.
A aposta no luxo continua na edição limitada do Royal Salute 62 Gun Salute, um uísque vendido a R$ 10 mil a unidade no Brasil. O país terá apenas 50 exemplares da garrafa de cristal, pintada a ouro.
Veículo: Valor Econômico