A cadeia da laranja brasileira foi motivo de amplo debate em dois importantes eventos internacionais realizados neste mês: a conferência mundial de sucos World Juice, em Madrid, e a tradicional feira de alimentos Anuga, na Alemanha.
Na presença de 300 engarrafadores compradores e responsáveis pelo destino de 98% do suco do Brasil, mostrou-se que o custo operacional de produção da laranja colocada no portão das fábricas saltou de US$ 1,31 para US$ 4 por caixa de 40,8 quilos entre 2003 e 2010.
O custo operacional médio de processamento, armazenamento e logística do suco até o mercado europeu subiu de US$ 348 para U$S 535 por tonelada. Cobrindo apenas custos operacionais, o suco chega à Europa a US$ 1.576 por tonelada.
A mensagem passada é que, se existe o desejo de manter o Brasil fornecendo suco, é necessário novo patamar de preço para o produto.
Existiram mudanças no mundo emergente e o consumidor europeu não mais se beneficiará de mão de obra e terras baratas nos países produtores de frutas e sucos, pois isso não existe mais.
Além disso, países emergentes criaram mercados internos consumindo seus produtos, antes majoritariamente exportados.
Os preços atuais da tonelada do suco na Europa (US$ 2.750) permitirão oxigênio para a cadeia no Brasil ter um ambiente adequado e sincero para o estabelecimento rápido e definitivo do Consecitrus, mudando de uma vez por todas a agenda negativa de estresse de negociação para busca contínua da eficiência produtiva e do desenvolvimento de novos mercados.
Resolvido isso, resta agora pensar nos impactos que esses novos preços terão no consumo de suco, algo que não dá para adivinhar.
Mas o momento é bom para esse teste, pois concorrentes do Brasil na oferta de suco de laranja apresentam problemas de volume e doenças (EUA e México, entre outros) e o suco de maçã tem preços altos porque os chineses resolveram comer as maçãs que produzem seu suco.
Para preservar as margens do engarrafador, importante agente da cadeia, o suco precisa subir de preço nos supermercados da Europa, de maneira bem trabalhada e bem comunicada.
Afinal, foi dito em Madrid que não faz sentido o suco de laranja, com tudo o que existe de custo por trás, ter o mesmo preço da água. Afinal, US$ 0,15 a mais por litro, para quem toma 15 litros por ano, representaria apenas um sanduíche ou um maço de cigarros de diferença.
Engarrafadores líderes na Europa estão disponíveis para trabalhar em ações inovadoras de marketing, usando suas estruturas de comunicação e vendas para desenvolver um novo posicionamento e conceito para o suco, como alimento líquido e identificação de origem brasileira.
A USP se coloca à disposição para apoiar cientificamente essa inovadora iniciativa que visa a sustentabilidade futura de toda a cadeia.
Veículo: Folha de S.Paulo