Por meio de um acordo familiar, qualquer cheque ou documento da Schincariol precisa, até hoje, ter a assinatura dos diretores de cada uma das empresas acionistas - Aleadri, dona de 50,45% do grupo, e Jadangil, que detém os demais 49,55%. Foi a forma encontrada para manter o equilíbrio de poder entre os primos, donos da segunda maior cervejaria do país. Mas, segundo apurou o Valor, os japoneses da Kirin, que compraram a Aleadri dos irmãos Adriano e Alexandre Schincariol, não querem depender dos minoritários.
Em reunião realizada na segunda-feira, dia 17, a Kirin propôs uma assembleia para mudar a diretoria das holdings Schincariol Participações e AAJDG Participações. No organograma do Grupo Schincariol, essas holdings estão abaixo da Aleadri e da Jadangil e controlam todas as 17 empresas do grupo (fábricas, empresas de logística, de transportes, de propaganda, de franquias, entre outras).
Os quatro diretores dessas holdings são os irmãos Adriano e Alexandre e os primos deles, José Augusto e Gilberto Schincariol Júnior, acionistas da Jadangil, que tentaram, na Justiça, anular a compra da Aleadri pela Kirin.
Agora, a multinacional japonesa quer colocar na diretoria das holdings só executivos da sua inteira confiança. Os nomes já estão escolhidos: o advogado Pedro Seraphim, sócio de TozziniFreire na área de fusões e aquisições, que assessorou a Kirin na compra da Aleadri; Ryosuke Okahashi, vice-presidente da Tozan (fabricante de saquê e outros produtos japoneses, que pertence à Kirin) e outros dois executivos da Kirin. Ainda não há data para a assembleia.
Pedro Seraphim e Ryosuke Okahashi já se tornaram diretores da Aleadri, no lugar de Adriano e Alexandre, em reunião realizada na semana passada, assim que a liminar que impedia a Kirin de tomar posse da Schincariol caiu.
O atual presidente da Schincariol, Adriano, deve continuar no comando até janeiro, quando outros executivos japoneses serão indicados para assumir o comando. Durante os nove meses seguintes, Adriano permanece como consultor da Schincariol. Esse era o acordo previsto em agosto, até os minoritários conseguirem na Justiça a liminar para suspender a venda da Aleadri.
Segundo apurou o Valor, os japoneses não querem mexer, pelo menos nesse primeiro momento, na diretoria executiva da empresa. Assim, os responsáveis pelas áreas de marketing, financeiro, de operações, entre outras, continuam nos respectivos cargos. Gilberto Schincariol Júnior ocupa a diretoria comercial. Mas os japoneses fazem questão de eliminar os acordos familiares que não fazem sentido dentro da nova composição acionária e, mais do que isso, não querem depender dos primos para mexer no caixa da empresa.
Enquanto isso, prosseguem as negociações para a Kirin comprar a Jadangil e se tornar a única acionista da empresa. Os minoritários estão reticentes em aceitar a venda. O Valor apurou que Gilberto tinha planos de voltar ao mercado de bebidas, por isso propôs a retirada da cláusula de não concorrência do contrato de venda da Jadangil, que estava sendo discutido antes do julgamento da liminar. Mas a Kirin não aceitou. Agora, como controladora, tem o poder de mudar a diretoria executiva.
Veículo: Valor Econômico