Produto conquista o paladar dos mineiros e já aquece o mercado.
Elas nascem em pequenas fábricas, passam longe da mídia e estão alheias à guerra milionária das grandes marcas. As cervejas artesanais conquistam cada vez mais o paladar dos mineiros e aquecem o mercado nacional. Quem está no ramo garante: a tendência é de crescimento e público não falta. De olho no cenário, o município de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, com 81 mil habitantes e 15 produtores, investe para ser reconhecida como polo da cervejaria.
A prova de fogo foi a Uaiktoberfest, a primeira edição da versão mineira da Oktoberfest, com direito a música, comidas típicas alemães a regado bebida feita pelos produtores locais. O objetivo da festa é incentivar a cultura da cerveja artesanal em Minas Gerais. E deu resultado. Em três dias, o evento atraiu 15 mil pessoas que consumiram 8 mil litros de cerveja e gerou cerca de R$ 200 mil. Para a secretária municipal de Turismo, Renata Couto de Souza, não resta dúvida: "Nova Lima caminha para se tornar a capital da cervejaria artesanal".
"A ideia era explorar a vocação da cidade, que abriga 15 produtores e mais 25 mestres cervejeiros, mas a resposta do público foi muito positiva, ultrapassamos nossas expectativas. uma festa que entra para o nosso calendário anual de eventos turísticos. Queremos ser reconhecidos como a cidade com maior número de produtores artesanais de Minas Gerais e do Brasil", disse Renata Souza.
Com a proposta de fomentar o setor, o Departamento Municipal de Turismo criou a cartilha com Circuito de Cervejarias Artesanais, com os produtores que fabricam a bebida de forma caseira, utilizando receitas originais e variadas. Algumas inspiradas em marcas produzidas na Alemanha, Inglaterra, Irlanda e Bélgica.
O grande diferencial, porém, são as fórmulas que utilizam ingredientes típicos da região, como cravo, casca de laranja, mandioca, rapadura e, até mesmo, boldo, com o objetivo de criar aromas e sabores únicos. " uma produção altamente limpa", disse Renata Souza.
Incentivo - A fim de estimular a nova potencialidade turística da cidade, a prefeitura enviou à Câmara de Vereadores um projeto de lei criando o Programa Municipal de Desenvolvimento da Produção Artesanal e Orgânica Associada ao Turismo (Pró-Artesão).
"Com essas ações, buscamos incentivar o processo artesanal e a manutenção da geração de trabalho e renda, fortalecendo as tradições culturais, além de impulsionar o potencial turístico da cidade", afirma a secretária. Um estudo está em andamento para mensurar o impacto de setor na economia do município.
Com nove microcervejarias registradas e outras centenas de produtores informais, produzindo 300 mil litros de cervejas artesanais, Minas Gerais é o terceiro maior fabricante do país. Perde apenas para o Rio Grande do Sul, que lidera o ranking, com 25 fábricas, seguida de Santa Catarina, com 18. O faturamento anual gira em torno de R$ 25,2 milhões e o mercado de cervejas artesanais tem crescido, em média, 15% ao ano.
O cenário é positivo e não há crise financeira internacional que chegue a amargar as expectativas otimistas dos pequenos produtores. o que assegura Alfredo Lúcio de Lima Figueira, dono da marca de cervejaria VMBeer. Segundo ele, os 15 produtores de Nova Lima produzem pouco mais de 200 litros da bebida por mês. "Esse volume deverá aumentar em até 40% no ano que vem", avisa.
O analista de sistemas Luiz Paulo Ramos de Melo, dono da MG-30 diz que a produção começou há dois anos como hobby e hoje produz em média 50 litros. "Agora vamos dar um salto maior na produção".
Embora as microcervejarias estejam caindo no gosto do consumidor, o desafio para o setor ganhar, de vez, o mercado ainda é grande. Essas empresas precisam conquistar espaço dentro da ínfima parcela de 1% que resta ao segmento considerando a indústria como um todo, além de ter que driblar o peso da carga tributária.
ICMS - Além do incentivo municipal proposto por Nova Lima, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) tramita, desde 2009, projeto de lei do deputado Gustavo Valadares que propõe incentivos fiscais à fabricação de cervejas e chopes artesanais no Estado. A iniciativa propõe isenção de impostos como forma de favorecer a produção.
Ao defender o projeto, o parlamentar cita que o mercado está aquecido, especialmente em Minas Gerais, com a expansão de algumas das marcas mineiras que aos poucos estão ganhando o país.
"Considerando o volume muito pequeno de produção, não há que se falar em renúncia de receita pelo Estado ao conceder um regime diferenciado de tributação. As possibilidade de aumento na geração de empregos pelo setor, além de fomento da economia local, por si compensa a redução na alíquota do ICMS. A ideia é transformar Minas em um polo de produção de cerveja, seguindo o caminho da cachaça artesanal, hoje um produto tipicamente mineiro", diz o texto do projeto.
Veículo: Diário do Comércio - MG