Até sexta-feira da semana passada, os irmãos José Augusto, Daniela e Gilberto Schincariol Júnior, sócios da Jadangil, dona de 49,55% da fabricante de bebidas Schincariol, tinham R$ 2,5 bilhões nas mãos. Esse era o valor proposto pela Kirin para tomar de vez o controle da empresa, depois de ter pago R$ 3,95 bilhões em agosto pela Aleadri (dona de 50,45% da Schincariol) e ser impedida de assumir o negócio, por conta de liminar obtida pela Jadangil. Mas veio o fim de semana e, segundo apurou o Valor, os minoritários fizeram outros pleitos que acabaram por minar a negociação. Na terça-feira, a liminar que barrava a Kirin foi cassada e a múlti japonesa pode rever as bases da sua oferta à Jadangil.
Uma equipe da Kirin está no Brasil para assumir o controle da Schincariol ainda nesta semana. Oficialmente, a defesa da Jadangil, representada pelo escritório Teixeira Martins Advogados, diz que vai recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, instância onde o caso deve demorar bem mais tempo para ser julgado. Mas os minoritários ficaram em posição bastante delicada na negociação com a Kirin: a Câmara de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo negou, por unanimidade, a anulação da venda da Aleadri aos japoneses, que não aceitaram as novas condições impostas pela Jadangil para vender sua participação.
Segundo apurou o Valor, Gilberto Schincariol Júnior, atual diretor financeiro da fabricante, queria que a Kirin pagasse os honorários dos seus advogados e que fosse retirada do acordo a cláusula de não concorrência por cinco anos (o que lhe daria direito de voltar ao mercado de bebidas). O primo de Adriano e Alexandre também pleiteou uma lista de imóveis da fabricante, entre eles, fazendas onde estão as principais fontes de água da Schincariol.
A Kirin negou e as negociações pararam. O anúncio do acordo seria feito na segunda-feira, o que dispensaria o julgamento da liminar na terça. No início de agosto, quando comprou a Aleadri, a Kirin chegou a oferecer R$ 2 bilhões pela Jadangil, que não aceitou negociar. Agora, segundo fontes, pode ser que a Kirin não volte aos R$ 2,5 bilhões da semana passada.
Em nota divulgada pela sua assessoria de imprensa, a Kirin mandou uma mensagem de paz à Jadangil. A múlti japonesa afirmou estar "satisfeita pelo pedido [de derrubada da liminar] ter sido aceito". De acordo com a nota, a Kirin não tem intenção de afastar os minoritários e espera que possa desenvolver com eles um "relacionamento favorável".
No julgamento do caso, dois dos três desembargadores afirmaram que determinar uma indenização aos minoritários seria mais viável do que anular o negócio caso seja provado que o direito de preferência foi violado.
Em relação à violação do direito de preferência dos minoritários, o relator Enio Zuliani afirmou que a venda do controle da companhia não poderia ter passado despercebida entre os interessados. "Como se alega desconhecimento se a ação judicial [para suspender a venda] foi proposta um dia depois à concretização do negócio, com detalhes?", questionou. Os desembargadores também ressaltaram que, se a Jadangil queria exercer a preferência, deveria ter depositado o valor em juízo.
"Eles [Jadangil] nunca demonstraram capacidade para exercer a preferência", diz Eduardo Munhoz, advogado do Mattos Filho, que defendeu a Aleadri e elogiou a atuação da Câmara, órgão criado há apenas quatro meses. "Tomaram uma decisão rápida e prudente, preservando os interesses da empresa", disse. Na ação, a Kirin foi defendida pelo Tozzini Freire.
Para manter a transação suspensa, os minoritários alegavam que o preço pago pela Aleadri tinha ágil. O desembargador Pereira Calças considerou o argumento "frágil". "O pagamento do prêmio de controle aos majoritários é o que ensinamos aos alunos do terceiro ano de Direito", disse Calças, ressaltando que o montante também envolvia valores intangíveis, como a entrada no mercado brasileiro e as possibilidades de crescimento e futuros investimentos.
Veículo: Valor Econômico