Em meio à onda de calor do verão, a Austrália enfrenta interrupções na produção do gás que dá aos refrigerantes sua efervescência. Resultado: há falta de refrigerantes. "No período de pico, meu estoque acaba de manhã, às 9h30", diz Mark Reynes, gerente do supermercado Ritchies Supa IGA, em Balnarring, cidade litorânea a sudeste de Melbourne. "Nosso volume de negócios dobra nesta época do ano e dizer que não há refrigerantes para os drinques é como dizer que não há champanhe na véspera de Ano Novo."
O verão é o período mais movimentado para o mercado de refrigerantes do país, de 3,2 bilhões de dólares australianos (US$ 3,3 bilhões) por ano, graças às altas temperaturas, férias escolares e os dias de folga que muitos trabalhadores pegam entre o Natal e o Dia da Austrália, em 26 de janeiro. A Schweppes Australia, segunda maior fabricante de refrigerantes do país, já perde vendas e a Coca-Cola pode ser a próxima afetada. A Schweppes, que também tem o direito de engarrafamento das marcas Pepsi e Sunkist, informa que a produção está sendo afetada pela falta de dióxido de carbono provocada pelo fechamento de fábricas de fornecedores locais, a Orica e a Origin Energy.
A fábrica de amônia da Orika, na ilha Kooragang, que obtém o gás como subproduto da produção de explosivos, está fechada desde agosto, depois de um acidente industrial. Um porta-voz informou que embora a produção tenha sido retomada em 3 de janeiro, levará três semanas para que as instalações voltem à capacidade total. A Origin Energy, por sua vez, está no primeiro dos quatro meses de um plano de atualização de um projeto de gás natural marítimo (o dióxido de carbono é frequentemente encontrado em campos de petróleo e removido durante o processamento para produção de combustível).
O fornecimento à Schweppes também foi afetado por uma greve de três semanas na fábrica no Estado de Victoria, resultado de uma disputa salarial. A fábrica, que fornece 30% da produção total da empresa, vem operando com capacidade reduzida desde 15 de dezembro.
A Schweppes Australia, que é uma unidade do Asahi Group Holdings, de Tóquio, é segunda maior em vendas de refrigerantes no país. Em 2009, teve receita de 670 milhões de dólares australianos, segundo os dados mais recentes disponíveis. "Nosso nível de serviços ao consumidor está bem abaixo do que nossos clientes esperam de nós", disse Sara Lettieri, porta-voz da Schweppes.
O analista Michael Nolan, do Royal Bank of Scotland Group, alerta para a possibilidade de a Coca-Cola Amatil, líder de mercado, ser a próxima a ser atingida. A engarrafadora, que tem 29% do capital em mãos da Coca-Cola, de Atlanta, teve receita de 2,8 bilhões de dólares australianos. A Coca-Cola Amatil, que não quis comentar o assunto, também conta com a Orica como fornecedora.
"Qualquer novo atraso no processo inicial [da fábrica em Kooragang] deixaria a Coca-Cola Amatil com falta de dióxido de carbono e provavelmente levaria a algum comunicado ao mercado", escreveu Nolan, em informe aos clientes, em 22 de dezembro.
Veículo: Valor Econômico