Temor de mais restrições faz suco disparar em NY

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No mesmo dia em que em fontes ligadas às principais indústrias exportadoras de suco do Brasil estimaram perdas da ordem de US$ 100 milhões com a eventual retenção de embarques de suco de laranja brasileiro para os EUA, a commodity disparou em Nova York. A razão foi a expectativa de maiores restrições ao suco importado. Os contratos de segunda posição de entrega (vencimento em maio) fecharam o pregão a US$ 1,9645 por libra-peso, alta de 1.000 pontos.

Na sexta, a Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês) divulgou os primeiros resultados dos testes realizados com as cargas de suco de laranja importado desde a semana retrasada, quando o fungicida carbendazim, vetado nos EUA, foi encontrado em suco importado do Brasil.
 
Os resultados divulgados na sexta-feira, no entanto, não incluíram amostras de suco brasileiro, contrariando a expectativa inicial de exportadores do Brasil, que já trabalhavam com a perspectiva de anúncio da retenção de carregamentos.

Do total de 45 amostras coletadas pelo FDA, 19 já foram testadas e liberadas e 26 ainda aguardam pelos processos de avaliação e revisão. Conforme a agência americana, os lotes aprovados continham níveis seguros do fungicida. Segundo as fontes consultadas pelo Valor, as amostras cujos resultados não foram divulgados são em sua maioria de suco brasileiro.

O FDA também informou que contactou o governo brasileiro, antes do envio da carta ao setor industrial em 9 de janeiro. O Ministério da Agricultura, por sua vez, nega que tenha recebido o aviso dos americanos. De acordo com uma fonte do ministério, o problema, se existir, "não é oficial". Oficialmente, o ministério não recebeu nenhum documento atestando o uso do defensivo ou de testes realizados.

As autoridades americanas teriam dúvidas quanto à metodologia a ser utilizada nos testes, de acordo com fontes do setor. Isso porque, nas amostras de suco congelado e concentrado (FCOJ), a quantidade detectada do fungicida fica acima do limite de segurança de 10 ppb (partes por bilhão), enquanto que nas amostras de suco diluído (NFC), as análises não revelam presença significativa do agrotóxico.

A questão é que o FCOJ não será consumido na forma "concentrada" como se encontra, mas sim misturado em água, diluindo a presença do fungicida, explicam as fontes. Com isso, os testes indicariam presença abaixo dos limites de segurança.

Essa interpretação, contudo, é vedada pela lei americana, que diz que os testes devem ser realizados na forma em que o produto se encontra. Por esse motivo, a indústria nacional acredita na retenção dos embarques de FCOJ brasileiro, que representa 50% do total exportado.

Com a postergação da decisão sobre o suco brasileiro, tanto os exportadores brasileiros quanto a própria indústria americana ganharam tempo. "Os EUA não podem prescindir do suco brasileiro", disse uma fonte. Atualmente, o Brasil responde por 56% das importações americanas. Além disso, 80% do suco produzido nos EUA é misturado com suco brasileiro.

Maior produtor mundial da commodity, o Brasil já exportou para os EUA cerca de 30% dos embarques previstos para o país no ano safra 2011/12. Desconsideradas as possíveis restrições americanas, as previsões indicam exportações entre 170 mil e 200 mil toneladas de "FCOJ equivalente" (volume que também inclui NFC e suco para outros fins) para o país. Os EUA representam 15% de todas as exportações brasileiras de suco.


Veículo: Valor Econômico


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