Verticalizar a produção, fabricando, além de bebidas, os insumos necessários para a geração do produto final, é hoje uma tendência das grandes empresas que atuam no mercado cervejeiro, acredita o gerente de Desenvolvimento de Novos Produtos da Heineken Brasil, Nilso Filho. Segundo ele, ao adquirir as operações de cerveja da mexicana Femsa, em 2010, a Heineken deu um passo neste sentido, passando a contar com produção própria de garrafas e latas no México.
Agora, a empresa holandesa estuda a possibilidade de verticalizar suas operações também no Brasil. "Se isso vier a acontecer, será através de aquisição", diz o executivo. "Você só pode melhorar suas margens a partir do momento em que melhorar seus custos para gerar o produto, então se isso for uma oportunidade para contribuir com a melhoria das margens do nosso negócio, com certeza será feito", afirma.
A líder de mercado Ambev conta com uma fábrica de vidros no Rio de Janeiro, desde 2008, e realiza produção própria de rótulos em sua unidade no bairro do Cambuci, em São Paulo. A companhia também possui uma fábrica de rolhas metálicas (tampinhas de garrafa) em Manaus (AM), desde 2001, que está sendo ampliada para passar a produzir também embalagens plásticas (filme shrink). A companhia hoje compra no mercado plásticos PET, latas, filme shrink, caixa cartão, pallets e garrafeiras.
Já o Grupo Petrópolis informou, através de sua assessoria, que não tem fabricação própria de embalagens. "Todas são feitas por fornecedores do mercado. O Grupo Petrópolis, informa também, que não planeja fabricar suas próprias embalagens."
Sidra
Outra novidade da Heineken no País deve ser a introdução da sidra Strongbow Gold no mercado nacional. Bebida alcoólica à base de maçã, a sidra pode cumprir a função de atrair o público feminino, que consome menos cerveja do que os homens. "A sidra vai num certo momento ser testada no Brasil, quando eu não sei, mas está no target da companhia abrir o portfólio de todos os produtos para o nosso mercado", diz.
Para o presidente da consultoria Concept e especialista em bebidas Adalberto Viviani, será um complemento interessante ao mix de produtos da empresa. "Além de atrair o público feminino, pode aumentar a penetração da Heineken no ambiente noturno, com embalagens para consumo imediato", avalia.
Segundo o consultor, o mercado de sidra tem potencial de crescimento no Brasil, mas precisa de um reposicionamento, pois a imagem da bebida é de um produto muito popular. "Reposiconada, a sidra tem condição de ocupar um espaço no mesmo patamar dos ices", acredita.
Novas cervejas
Como parte do plano de trazer ao mercado brasileiro todas as suas marcas globais, a Heineken estuda a fabricação local das cervejas Desperados, com sabor de tequila e apelo noturno, e Amstel Pulse, hoje importada da Holanda.
"Estamos estudando como possibilidade a produção local de todas as nossas marcas globais, porque em termos de rentabilidade para o negócio é muito interessante", diz Nilso Filho. "Uma vez que os estudos sejam concluídos, esses lançamentos devem acontecer no médio ou curto prazo."
Segundo ele, para produzir essas marcas não serão necessárias novas plantas, mas apenas a modernização das atuais - hoje a Heineken tem oito fábricas no País. "Temos uma taxa de ocupação alta, mas existem várias formas de dar esse upgrade produtivo, como atualizar a tecnologia, melhorar a produtividade para as linhas existentes e, quando necessário, adquirir novas linhas", afirma. Segundo ele, mesmo para eventualmente produzir a sidra, as fábricas atuais poderão dar conta, com pequenos ajustes.
Apesar da intenção de produzir todas as marcas globais localmente, a empresa deve continuar a trazer cervejas estrangeiras ao mercado brasileiro. "Nós sempre vamos importar, como parte da estratégia de integrar mercados, diversificar o portfólio e do foco no mercado premium, que é o que mais cresce no Brasil", diz.
A empresa já tem equipes dedicas à elaboração de estratégias para a Copa do Mundo de 2014. "Estamos pensando não só em produtos, mas na infraestrutura para as pessoas que vão vir para o Brasil", diz o executivo. Segundo ele, estão sendo pensados serviços para conforto, mobilidade e informação do visitante.
A número dois
A meta da Heineken no Brasil é clara: ser a segunda colocada do mercado em até cinco anos, desbancando Petrópolis e Schincariol. Para o gerente, o objetivo pode ser atingido apenas com crescimento orgânico. "Hoje, o que nos diferencia do concorrente mais próximo não chega a 1% de market share e o que nos diferencia do segundo mais próximo não chega a 2%. Então, organicamente, é possível atingir essa meta", acredita. Mas, segundo ele, o mercado mundial de cerveja está cada vez mais concentrado. "Se tiver alguma oportunidade de aquisição interessante, a Heineken não vai desperdiçar."
A entrevista com Nilso Filho foi concedida com exclusividade ao DCI durante evento da Associação Brasileira de Embalagens (Abre), em São Paulo.
Veículo: DCI