Depois de anunciar o aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para bebidas, o governo federal republicou a decisão para uma alta menos intensa. As ações da Ambev, que caíram em seguida à divulgação, começaram a se recuperar. No pregão de terça, o papel chegou a ser cotado a R$ 72,05. Na quarta-feira, fechou a R$ 75,49, um alta de 4,77%.
Analistas haviam rebaixado estimativas de produção da companhia, por conta da menor demanda, mas, após a nova medida, Barclays, Itaú BBA e Bank of America Merrill Lynch (BofA) também voltaram atrás em suas análises.
No "Diário Oficial da União" desta semana, a alta do IPI foi alterada para 19%, em vez dos 27% anunciados em 31 de maio. Nos cálculos dos analistas, esse recuo vai representar um impacto menor no preço da cerveja no varejo: um aumento de 4%, contra os 5% de alta esperados antes.
Alexandre Cruz e Felipe Miguel, analistas do Itaú, vêem um aumento ainda menor nos preços, de 2%. Além disso, para eles a notícia é positiva porque mostra a habilidade da empresa de negociar com o governo, o que retira a sombra de preocupação do mercado sobre intervenções estatais mais duras.
O BofA calcula também um reajuste de 2% nos preços. Marcelo Santos, analista do banco, acredita ainda que há espaço para o governo recuar mais no aumento do IPI, uma vez que o Brasil é um dos países em que o consumidor paga mais impostos sobre bebidas no mundo. "Taxas federais e regionais já representam perto de 38% do preço dos produtos", avalia.
Gabriel de Lima, do Barclays, avalia que a reação dos investidores sobre os papéis da Ambev foi exagerada. Desde o anúncio do IPI maior, a fabricante de bebidas perdeu R$ 14,5 bilhões em valor de mercado. Os investidores projetavam em 11% a queda na produção, enquanto o banco britânico esperava 5%, caso o IPI subisse 26%.
A instituição não revela novas projeções com a mudança do imposto e mantém o corte de R$ 3 no preço-alvo das ações, realizado anteriormente, para R$ 82. A recomendação é dar peso maior na alocação em carteira para a Ambev.
Em 31 de maio, após a publicação do primeiro aumento do IPI, a recém-criada Associação Nacional da Indústria da Cerveja (CervBrasil), que reúne as quatro maiores fabricantes do país (Ambev, Schincariol, Heineken e Petrópolis), divulgou comunicado dizendo que "o reajuste de impostos federais implicará diretamente em repasse nos preços de cervejas e refrigerantes", o que poderia prejudicar o volume vendido.
Dessa forma, as empresas seriam obrigadas a rever os investimentos previstos para este ano, de R$ 7,9 bilhões. Desse total, R$ 2 bilhões viriam da Ambev.
Para a CervBrasil, que reúne fabricantes do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv) e da Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe), o aumento da carga tributária "quebra o ciclo virtuoso de crescimento econômico e social proporcionado pelas indústrias do setor".
Veículo: Valor Econômico