As maiores fabricantes de cerveja do Brasil, Ambev, Schincariol, Heineken e Petrópolis, representadas desde maio pela Associação Nacional da Indústria da Cerveja (CervBrasil), dizem que pretendiam, no longo prazo, nacionalizar 100% das matérias-primas que utilizam, estimulando assim o setor agrícola nacional. Segundo a entidade, no entanto, o plano será adiado devido ao reajuste do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de bebidas frias, que entra em vigor em 1º de outubro.
De acordo com o porta-voz da CervBrasil, Paulo Macedo, vice-presidente de Relações Corporativas da Heineken, o plano era constituído de duas fases: um investimento inicial em pesquisa e desenvolvimento em órgãos independentes que pudessem desenvolver sementes de cevada adequadas ao clima tropical brasileiro; e uma segunda fase, onde seria incentivada a produção agrícola local, através de contratos de preço mínimo com maltarias, garantindo a compra da matéria-prima.
"Esse investimento na nacionalização das matérias-primas estava previsto dentro dos R$ 7,9 bilhões que o setor havia planejado em aportes para o ano, mas agora esse valor terá de ser revisto", diz Macedo. Segundo o executivo, a indústria projetava crescimento de vendas de 7% a 8% para 2012, em relação ao ano passado. No entanto, como o reajuste tributário deverá levar a um repasse de preços ao consumidor de até 4%, segundo cálculo da indústria, o setor agora estima uma queda das vendas de até 3,5% em volume. O representante da CervBrasil afirma que só de janeiro a abril deste ano já houve queda de consumo de 2,1% em volume, de acordo com dados da consultoria Nielsen.
"O aumento de volume que estávamos projetando justificava o investimento em nacionalização, mas no cenário que se anuncia, de queda de vendas, o aporte não seria compensado", afirma o executivo. Segundo ele, hoje 60% dos custos do setor cervejeiro são dolarizados, ou seja, ligados a compra de matérias-primas importadas ou de commodities no Brasil, que mesmo sendo nacionais, têm seu preço definido pela variação da moeda americana.
"A nacionalização permitiria um melhor planejamento de custos, o que hoje é dificultado pela flutuação cambial. Também haveria ganhos com uma logística mais barata", acredita o representante da CervBrasil. Segundo ele, o setor ainda tem esperança de que o governo possa oferecer até outubro benefícios na cadeia que compensem o reajuste, minimizando o repasse ao consumidor.
Veículo: DCI