O chá quente, vendido em saquinho ou a granel, começa a conquistar os brasileiros. Segundo dados da Euromonitor, o consumo no país cresceu 16% em volume, para 3 mil toneladas, entre 2009 e 2011. Em valor, o aumento foi bem mais expressivo - de 72%, para US$ 516 milhões. Sinal de que o consumidor está escolhendo produtos mais caros - os sabores tradicionais, como camomila e hortelã, vêm dando lugar a flores e frutas e outras misturas de maior valor agregado.
O avanço do consumo da bebida no Brasil superou a média mundial - de 12% em volume e 25% em valor entre 2009 e o ano passado - e os percentuais verificados em países como os Estados Unidos, onde as altas foram de 7% e 9,6%, respectivamente. Apesar da expansão, o mercado brasileiro ainda está na lanterninha global. De acordo com a Euromonitor, o consumo per capita ao ano no Brasil é de apenas 8,5 xícaras - menor volume considerando um ranking de 52 países. O primeiro da lista é a Turquia, com 1,6 mil xícaras por pessoa.
Por aqui, as marcas têm buscado incentivar o consumo com ampliação do portfólio, novas formas de apresentar o produto e brindes, como canecas. Segundo Elaine Cristina Verbena, compradora comercial da categoria de chás do Grupo Pão de Açúcar, até 2009 os chás mais vendidos nas lojas da holding eram de sabores "básicos", como erva-doce, cidreira, camomila e hortelã. Em 2010, os fabricantes passaram a oferecer opções diferenciadas, com sabores de flores e frutas, e, no ano passado, introduziram embalagens com brindes. A varejista trabalha com sete fornecedores - dois deles são importadores.
Essas mudanças ajudaram a aumentar o tíquete-médio e explicam em parte o salto nos gastos com o produto. Enquanto uma caixa de chá de hortelã custa R$ 4, uma de flores e frutas pode sair por R$ 8. Em 2011, as vendas de chás aumentaram 15% em valor nas diversas bandeiras do Grupo Pão de Açúcar. De acordo com a executiva, a expectativa é que este ano esse crescimento se repita. A empresa não abre informação sobre volumes.
Nas gôndolas do grupo, o mais procurado entre os diferenciados é o sabor morango, principalmente para quem "não conhece e quer experimentar", diz Elaine. Ela cita também outros tipos como rosas com framboesa e laranja com especiarias.
Líder no mercado brasileiro com a marca Leão Jr., a Coca-Cola tem uma equipe dedicada à linha seca desde 2010 e investe em pesquisas para mostrar os benefícios para o corpo das plantas que usa nos produtos. "O chá é multifuncional, porque acalma, esquenta ou refresca, dependendo da situação", diz Renato Fukuhara, diretor de marketing de chás da Coca-Cola. Segundo ele, o consumidor tem percebido melhor o valor da bebida e, por isso, o mercado está crescendo. Em abril e maio, por exemplo, as vendas da empresa do segmento de chá verde e branco aumentaram 26% em volume, na comparação com igual período do ano passado. Em valor, o salto foi de 32%.
Fukuhara explica que os preços desse segmento são maiores que os de outras ervas, como camomila ou boldo. E admite que houve aumento nos preços. "A indústria de chás ficou atrás em reajustes. Nos últimos dois anos estamos voltando a patamares aceitáveis", diz. A empresa não revela dados de mercado de mate.
Fukuhara acrescenta que o consumidor está migrando para novas embalagens, como as que levam envelopes individuais. Elaine, do Pão de Açúcar, concorda: "Os fabricantes passaram a oferecer mais opções de embalagens, que têm grande apelo de vendas".
O aumento do interesse por chás abriu outra oportunidade de negócios, as casas especializadas. Pelo menos cinco estabelecimentos foram abertos nos últimos dois anos na capital paulista.
A The Gourmet Tea chegou ao mercado em 2010, vendendo infusões. Naquele ano, os empresários Daniel Neuman e Leandro Toledano perceberam que havia "um nicho não explorado em chás gourmet", diz Neuman, e decidiram investir na criação da marca. A empresa compra ervas de cerca de 60 fornecedores localizados em 32 países e faz o 'blend' (mistura) em uma fábrica nos Estados Unidos. Depois, importa o produto para o Brasil, embala aqui e vende no atacado.
Segundo Neuman, é inviável produzir no país porque não há mercado consumidor que compense o investimento em máquinas. "Usaríamos de dois a três meses ao ano de uma fábrica pequena", afirma. Os produtos da marca podem ser encontrados em 300 pontos de venda e no comércio eletrônico. E, desde o ano passado, nas três lojas que os empresários abriram na capital paulista. "O brasileiro só conhecia chá de saquinho e hoje está bastante aberto para a infusão.", diz Neuman.
Antes de investir na empresa, os sócios fizeram algumas pesquisas e constataram: por aqui, o consumidor gosta de sentir a combinação de sabores marcantes. "No mundo todo, o green moroccan mint (chá verde com folhas de hortelã) é feito de 40% hortelã e 60% chá verde. A gente faz 70% hortelã e 30% chá."
Localizada na região dos Jardins, na capital paulista, a concorrente Tea Connection abriu as portas em janeiro de 2011. A loja faz parte de uma rede argentina com nove unidades, sendo essa a única fora do país de origem. Mas a direção da Tea Connection já estuda abrir um segundo ponto no bairro paulistano do Itaim Bibi até o fim do ano, diz Juan Vartanian, gerente de operações em São Paulo. "Planejamos uma grande expansão em São Paulo."
Além da The Gourmet Tea e da Tea Connection, a Tal Chá também apostou no segmento e já abriu duas unidade, nos shoppings Higienópolis e JK Iguatemi.
Veículo: Valor Econômico