Quem era grande se tornou ainda maior. A compra da totalidade do Grupo Modelo, dono da marca Corona, pela AB Inbev, anunciada na sexta-feira, pode ser compreendida como uma blindagem do mercado das Américas: a partir da aquisição da totalidade da Modelo, a AB Inbev não deixa espaço para mais ninguém ganhar participação sobre as marcas da empresa no continente.
Na América do Norte, a fabricante domina com Budweiser; na América Central, passou a ser a dona absoluta de Corona; e na América do Sul, tem a argentina Quilmes e as brasileiras Skol, Brahma e Antarctica. A partir da aquisição, a AB Inbev se consolida como a líder mundial do setor, com produção anual de 40 bilhões de litros de cerveja e faturamento de US$ 47 bilhões previsto para este ano.
Antes da compra, 88,3% do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da AB Inbev e 70,1% do volume vendido já vinham do continente americano. A Europa responde por 14,1% do volume da companhia, parcela semelhante à das vendas na região da Ásia Pacífico (14%). "Há enormes oportunidades a partir da união de dois portfólios de marcas líderes, expandindo ainda mais as marcas do Grupo Modelo ao redor do mundo através da rede de distribuição da AB Inbev", disse, em comunicado, Carlos Brito, presidente da AB Inbev.
A nova cervejaria passa a deter cinco das seis maiores marcas mundiais: Bud Light, Budwiser, Corona (quarta colocada), Skol e Stella Artois. A única do ranking que não pertence à AB Inbev é a holandesa Heineken, que ocupa a terceira posição entre as marcas de cerveja mais valiosas do mundo, de acordo com o relatório 2012 Global BrandZ, da consultoria Millward Brown.
"A estratégia da Ambev é conquistar mercados a partir da conquista de territórios, acumulando marcas expressivas", diz o consultor Adalberto Viviane. "É como um jogo de War", brinca. Segundo dados divulgados pela AB Inbev, a segunda cervejaria do ranking mundial, SAB Miller, produz 23,4 bilhões de litros de cerveja, seguida pela Heineken (16,5 bilhões), pela dinamarquesa Carlsberg (11,9 bilhões) e pela japonesa Kirin (5,6 bilhões).
A empresa belgo-brasileira pagou US$ 20,1 bilhões pela participação de 49,8% que ainda não detinha na Modelo. É a maior aquisição desde 2008, quando a gigante cervejeira comprou a Anheuser-Busch e, consequentemente, herdou 50,2% da Modelo. A aquisição deve gerar sinergias de pelo menos US$ 600 milhões ao ano, segundo a AB Inbev.
A operação abre espaço para o controle exclusivo dos preços no continente e também para uma eventual "migração" de marcas de um mercado para outro. "Uma marca como a Skol, que está entre as maiores do mundo, pode ser exportada para o México, um dos maiores consumidores mundiais de cerveja", avalia Viviane.
Segundo pesquisa da Plato de maio deste ano, divulgada pela AB Inbev, o México deve contribuir com 3,7% do crescimento do mercado global de cervejas entre os anos de 2011 e 2020, depois de China (42,9%), Brasil (8,9%), Índia (5,3%), Vietnã (4,6%) e Estados Unidos (4,6%). Também a Rússia (3,7%) está entre as maiores promessas de vendas para o mercado cervejeiro nesta década.
No Brasil, nos Estados Unidos e no México a AB Inbev é líder absoluta. Mas na China, que detém o maior potencial de crescimento de mercado nos próximos anos, está em terceiro lugar, assim como na Rússia. Já na Índia, terceiro país com maior potencial de consumo, a companhia opera através de uma joint venture e não tem participação expressiva.
O mercado indiano é dominado pela fabricante local United Breweries, seguida pela cervejaria inglesa SAB Miller. Sobre essa última, já existiram várias comentários de ser o próximo alvo da AB Inbev. De qualquer forma, pode vir da China ou da Índia a próxima investida da gigante cervejeira, que detém nada menos que US$ 24 bilhões em caixa e linhas de financiamento.
Veículo: Valor Econômico