Nos bares da capital paulista, maior mercado consumidor de cervejas do país, uma garrafa de 600 ml da bebida é encontrada a R$ 7, em média. Não se trata de cerveja premium, mas de distribuição massiva. O valor é semelhante em Recife (R$ 6,50) e em Porto Alegre (R$ 6). No ano passado, o consumidor desembolsou 15% a mais para beber cerveja nos bares e 14% a mais para beber em casa, em relação a 2010, de acordo com o IPCA. Este ano, até maio, o aumento médio do preço continua bem acima da inflação, em 4,30% (ver gráficos ao lado).
A consequência é imediata: o preço maior faz o consumidor beber menos. Em 2011 foram tomados 1,5% menos litros de cerveja no país e, no acumulado de janeiro a maio deste ano, o volume foi 1,6% menor. A maior queda do ano foi verificada em maio: 5,5% em relação a abril. Essa retração já era de certa forma esperada pelas cervejarias, que vêm reajustando o preço acima da inflação para aumentar suas margens. O movimento é liderado pela Ambev, que concentra cerca de 70% do volume de cerveja vendido no Brasil, e seguido pelas outras três grandes concorrentes: Petrópolis, Schincariol e Heineken.
O governo, por sua vez, decidiu aumentar a carga tributária sobre as bebidas frias (cervejas, refrigerantes, águas e sucos) o que, por si só, já deve gerar um novo aumento de 4% nos preços, a partir de outubro, segundo estimam os fabricantes. Para manter a sua margem de lucro, as grandes cervejarias deram início a um forte movimento de corte de custos.
"Estamos renegociando contratos com fornecedores, postergando planos de aumento de produção, reduzindo gastos com consultorias, viagens e até congelando vagas", diz Paulo Macedo, vice-presidente de relações corporativas da Heineken, que também é dona da marca Kaiser. "Todo o setor está fazendo isso", diz o executivo, que acumula o cargo de presidente da CervBrasil, entidade recém-criada para defender os interesses das quatro maiores cervejarias do país. Segundo Macedo, o setor está chegando ao limite da absorção de qualquer aumento de preços.
Na opinião da analista Ana Carolina Boyadjian, não é bem assim. "Enquanto a queda de volume não for tão expressiva, as cervejarias vão continuar aumentando os preços, porque acreditam que o consumidor pode arcar com isso", diz a especialista.
A Heineken está revendo os planos de investimento no Brasil, por conta da alta nos impostos. No mês passado, a CervBrasil já havia informado que as cervejarias iriam refazer as contas sobre quanto iriam aplicar este ano, devido ao aumento na carga tributária. Segundo a CervBrasil, estava prevista uma injeção de R$ 7,9 bilhões este ano.
"Os fabricantes não aumentaram muito a produção em 2011, o que levava a crer que este ano investiram mais na produção e menos no aumento de preços, mas não estamos vendo isso", diz Ana Carolina, da Lafis. Este ano, o aumento do preço da cerveja foi maior nos supermercados (4,30%) do que nos bares (2,39%).
A favor dos aumentos consecutivos no preço da bebida - que geraram uma alta superior a 7% no faturamento do setor em 2011, chegando a R$ 40 bilhões -, as cervejarias chamam a atenção para o reajuste da carga tributária e para os insumos, cotados em dólar. É o caso do malte e do lúpulo, que são importados, e do alumínio usado para latas que, embora seja produzido nacionalmente, é uma commodity.
Douglas Costa, diretor de marketing e relações com o mercado da Petrópolis, dona da marca Itaipava, lembra que o aumento de preços depende da estratégia de cada fabricante. "A líder influencia o reajuste dos demais competidores, cujo preço não pode ter muita defasagem em relação à primeira colocada, para que o consumidor não entenda mal esse posicionamento", diz o executivo. Em outras palavras: no mercado de cerveja, produto barato é entendido como produto ruim. "Por isso, decidimos reposicionar para cima o preço em algumas regiões".
Segundo Costa, com o aumento de tributos previsto para outubro, existe a alternativa de diluir essa alta em "parcelas", desde já, para que o consumidor não sinta o impacto de uma só vez. O executivo acredita que a diminuição dos volumes também pode estar relacionada a uma migração da classe C para outras bebidas, mais baratas. "O consumidor que obteve maior ganho de renda nos últimos anos e passou a comprar mais cerveja, está se deparando com preços mais altos do produto agora e pode estar voltando a consumir mais destilados, como cachaça e conhaque".
De acordo com a consultoria Euromonitor, no entanto, o volume vendido de cachaça caiu 3% no ano passado em relação a 2010. No mesmo período, o volume de conhaque caiu 2,3%.
Veículo: Valor Econômico