A Coca-Cola está expandindo as responsabilidades de Steve Cahillane e Ahmet Bozer, transformando os dois executivos seniores em principais candidatos para suceder Muhtar Kent no comando da maior empresa de bebidas do mundo.
A corrida para suceder Kent, de 59 anos, deve durar anos, segundo pessoas de dentro e de fora da empresa de refrigerantes, sucos e bebidas esportivas. Mas quem quer que seja o escolhido, terá pela frente uma missão difícil: Kent é elogiado em Wall Street por ter aumentado os lucros e roubado fatia de mercado da rival PepsiCo desde que se tornou diretor-presidente da Coca-Cola em julho de 2008.
A empresa com sede em Atlanta informou ontem que irá racionalizar a estrutura de sua administração, tornando Cahillane, de 47 anos, responsável pelas operações da Coca-Cola nas Américas e posicionando Bozer, de 52 anos, como líder das operações no resto do mundo. A reestruturação, que entra em vigor no dia 1º de janeiro, corta em cerca de metade o número de executivos diretamente subordinados a Kent, que também é presidente do conselho da Coca-Cola desde abril de 2009.
Um terceiro grupo será liderado por Irial Finan, um executivo de 55 anos de idade que continuará supervisionando os investimentos da Coca-Cola em engarrafadoras próprias fora das Américas. Fora dos EUA, a maioria das bebidas da empresa é engarrafada por centenas de parceiros independentes. Finan é visto como um candidato menos provável à sucessão.
"A consolidação da liderança'' em apenas três grupos "vai agilizar os canais de comunicação'' e "intensificar nosso foco em mercados-chave", disse Kent em um comunicado. Cerca de metade do volume de vendas da Coca-Cola vem das Américas.
Cahillane tem sido um dos líderes das operações norte-americanas da Coca-Cola desde que entrou na empresa em 2010, quando a Coca comprou as operações norte-americanas da Coca-Cola Enterprises, que ele dirigia. Ele foi elogiado por seu projeto de integração do negócio, que era a principal engarrafadora da Coca-Cola nos EUA. Antes, Cahillane ocupou vários altos cargos executivos na Europa e EUA em empresas como State Street Brewing Company, Coors e InBev, a maior cervejaria do mundo.
Atualmente, Bozer supervisiona as operações em mais de 90 países, como diretor-superintendente da Coca-Cola para as regiões da Eurásia e da África. Ele começou a carreira na empresa em 1990, em Atlanta, como o gerente de controle financeiro. Ele foi nomeado chefe da Eurásia em 2000, antes de receber outras responsabilidades, incluindo a Rússia, em 2006, e a Índia, em 2007. Como Kent, Bozer tem dupla cidadania, a de turco e de americano.
"Acho que a [nova] estrutura foi criada basicamente para dar a esses executivos um palco maior de atuação para ver como eles se desempenham'', disse John Sicher, editor da "Beverage Digest", uma publicação setorial especializada no mercado de bebidas não-alcoólicas. É muito cedo para dizer qual dos dois executivos têm preferência interna para suceder a Kent, adicionou.
A reestruturação ocorre depois que a rival PepsiCo também reformou sua cúpula administrativa em março, nomeando o executivo veterano da empresa John Compton como diretor-superintendente e contratando Brian Cornell, ex- executivo da Wal-Mart Stores para dirigir o negócio de salgadinhos nas Américas. Essa mudança também alinhou os potenciais sucessores para a atual presidente da PepsiCo Indra Nooyi, que vem enfrentando a insatisfação de investidores com o desempenho da empresa, com alguns pedindo uma cisão da PepsiCo.
Kent, pelo contrário, é elogiado por investidores por conduzir a Coca-Cola durante vários anos de forte crescimento na receita e no lucro, apesar da volatilidade da economia global.
A versão dietética da Coca, a Diet Coke, superou a Pepsi como o segundo refrigerante mais vendido nos EUA em 2010, atrás da líder, a Coca-Cola tradicional.
As ações da Coca-Cola, que também é dona de marcas como Sprite, Minute Maid e Powerade, subiram mais de 50% desde que Kent se tornou diretor-presidente em 1º de julho de 2008, superando de longe o desempenho do índice S&P 500 e o da PepsiCo.
Kent não deu qualquer indicação de que planeja deixar o cargo em breve e a Coca não exige que seus altos executivos se aposentem aos 65 anos de idade. O diretor-presidente prometeu dobrar negócios da Coca-Cola esta década e alguns observadores especulam que ele poderia ficar até 2020 para ver cumprida essa meta.
"Enquanto eu estiver me divertindo, minha saúde me permitir, eu continuar gerando bons retornos para nossos acionistas e, acima de tudo, enquanto eu estiver sorrindo, o que é crucial em qualquer coisa que você faça, então eu vou continuar", disse Kent ao "The Wall Street Journal" em uma entrevista em maio.
Veículo: Valor Econômico