A Ambev aumentou a venda direta de produtos no segundo trimestre de 2012, a fim de enfrentar melhor a concorrência no Nordeste. Com isso, as despesas com distribuição no Brasil cresceram, conforme apontou o balanço da companhia para os meses de abril a junho, divulgado ontem.
No Brasil, as despesas com vendas gerais e administrativas cresceu 19,7% para R$ 1,35 bilhão, puxadas principalmente pelos custos de distribuição, além de investimentos em marketing para o mercado de refrigerantes. No país, a empresa somou receita líquida de R$ 4,34 bilhões no segundo trimestre, com aumento de 11,5% em relação ao mesmo período de 2011. O valor equivale a 63,5% da receita líquida total.
A Ambev opera com dois modelos de venda no Brasil: via revendedores, reunidos na Confederação Nacional das Revendas Ambev e das Empresas de Logística da Distribuição (Confenar), que buscam os produtos nos armazéns da fábrica para levá-los ao ponto de venda. No outro modelo, de venda direta, a Ambev contrata operadores logísticos para transportar a carga da fábrica ao depósito da companhia (são mais de 70 em todo o país), e depois para entregá-la em até 50 pontos de venda por dia.
"Como o volume de distribuição direta cresce mais do que a média, eu acabo tendo mais custo logístico. Por outro lado, o meu preço de venda para o bar é maior do que quando eu vendo ao revendedor", afirmou ao Valor o vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Ambev, Nelson Jamel.
Segundo o executivo, em algumas áreas, como o Norte e o Nordeste do país, a distribuição direta foi mais intensa no trimestre. "É uma área que vem crescendo três vezes mais que a média nacional", diz Jamel, ressaltando que o incremento da venda direta da Ambev no período procurou atender essas regiões e também a maior venda de refrigerantes em nível nacional.
No Norte e Nordeste, a maioria dos revendedores da Ambev atua em cidades do interior, apurou o Valor. Para garantir presença mais competitiva nas capitais, a companhia precisa assumir a distribuição direta. "Se aumentaram a venda direta, é porque estão enfrentando maior concorrência na região", diz uma fonte do setor.
No segundo trimestre, segundo a Ambev, a sua participação de mercado caiu dois décimos, para 68,8%. "O volume de cerveja cresceu 2,8%, ligeiramente abaixo do crescimento da indústria no trimestre", informou a companhia em relatório de resultados. A venda de não alcoólicos cresceu 6,9%.
Nas regiões Norte e Nordeste do país, a concorrência tende a ser cada vez mais acirrada. Em julho, a Schincariol, principal rival da Ambev na região, anunciou o lançamento da cerveja "No Grau", um rótulo local. Já a vice-líder Petrópolis, dona da Itaipava, anunciou a instalação de uma nova fábrica na Bahia, em Alagoinhas, onde a Schincariol já tem uma unidade fabril. É o desembarque da Petrópolis na região.
Em relação aos investimentos, no primeiro semestre de 2012, a Ambev investiu no Brasil R$ 750 milhões. Nos demais países da América Latina e Canadá o volume aplicado foi de R$ 250 milhões. Os recursos gastos no país representam praticamente a metade do que foi injetado pela companhia no mesmo período do ano passado: R$ 1,3 bilhão. "Essa retração não significa uma resposta ao aumento da carga tributária para bebidas frias, que só vai entrar em vigor em outubro", diz Jamel. "A diminuição está relacionada aos fortes investimentos feitos no primeiro semestre do ano passado na filial de Pernambuco".
João Castro Neves, presidente da Ambev, já disse que poderá rever os investimentos, da ordem de R$ 2,5 bilhões neste ano, caso o governo federal mantenha o aumento da carga tributária para bebidas frias, anunciado há dois meses. Com essa alta, o preço da cerveja deve subir até 4,5% e, o dos refrigerantes, até 9%, informou Jamel.
Segundo ele, o principal destino dos recursos no primeiro semestre foi o incremento do volume de produção, da ordem de 600 mil hectolitros. "Estavam previstas oito novas linhas de produção este ano e, destas, já abrimos duas, em Aquiraz (CE) e Recife (PE)", disse.
Na teleconferência de ontem com analistas, Castro Neves afirmou que a empresa está confiante na sua estratégia para o terceiro trimestre. "Continuamos construindo novas opções [em preço e embalagem]", disse, acrescentando que quatro marcas têm crescimento acelerado: Original, Boehmia, Stella Artois e Budweiser.
No segundo trimestre, a operação global da Ambev, nos 16 países, registrou receita líquida de R$ 6,82 bilhões, com aumento de 17,4% sobre o mesmo período de 2011. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (ebitda) subiu 14,3%, para R$ 2,84 bilhões. Já o lucro foi 5,4% maior: R$ 1,93 bilhão. O resultado ficou um pouco abaixo do esperado pelos analistas consultados pelo Valor na semana passada.
Veículo: Valor Econômico