Em seu surgimento no século XVII, o champanhe não era exatamente branco, e sim, às vezes castanho, às vezes acinzentado, às vezes rosa pálido. A limpidez, o brilho e a cor amarelo dourada que vemos hoje só foi alcançada ao longo de mais de um século de evolução em sua elaboração.
As primeiras borbulhas intencionalmente rosadas datam de 1804 e são creditadas a Nicole-Barbe Clicquot-Ponsardin (1778-1867), mais conhecida como "viúva Clicquot". Esta grande dama do champanhe foi muito feliz em sua inovação, pois é inegável o grande charme conferido à bebida de viva coloração, que vai de um delicado tom de casca de cebola até o cereja intenso, quase tinto.
Os espumantes rosados são obtidos por dois métodos possíveis. O primeiro e mais comum é a "mistura" ou "adição", onde acrescenta-se um percentual pequeno (10-15%) de vinho tinto ao vinho branco base, antes da segunda fermentação em garrafa, que confere as borbulhas aos espumantes. O segundo e mais raro é a "sangria", que consiste deixar as cascas tintas fermentando junto com o mosto até o ponto em que a cor seja considerada ideal. Depois desta etapa, que dura de algumas horas a poucos dias, as cascas são separadas e o processo segue normalmente.
Os espumantes rosados são muito versáteis à mesa. Uma combinação infalível seria com salmão em geral, fresco e melhor ainda o defumado. Ovas de salmão são uma ótima opção, são menos intensas que o caviar, que brigaria com as bolhas rosadas. Há quem opte por pratos menos condimentados da cozinha oriental, como a chinesa ou tailandesa. É testar para comprovar. Em um jantar em que se pretenda servir apenas espumantes do início ao fim, um rosé pode ser a solução para o "prato de resistência", que pode ser porco ou aves de caça. Alguns rosados mais leves podem também combinar bem com sobremesas à base de frutas vermelhas.
Quem acompanha esta coluna já sabe de cor: os espumantes brasileiros são de ótima qualidade. Esta semana testei 8 rosados, às cegas, em taças tipo tulipa. Vejamos o resultado, todos boas compras:
Conde de Foucauld Rose Brut, Vinícola Aurora, Serra Gaúcha-Brasil (R$ 14, 75/100). Charmat. Cor-de-rosa, cereja, perlage de tamanho grande e pouco abundante. Aromas bastante frescos, focado nas frutas vermelhas, como morango e groselha, cerejas em calda, além de flores. Paladar leve e macio, suave.
Casa Perini Brut Rosé, Casa Perini, Garibaldi (R$ 18,15, 84/100). Charmat. Cor entre casca de cebola e cereja, brilhante, perlage perfeita. Aromas muito frescos, frutado, com cereja em calda, frutas cristalizadas, toque de tutti frutti. Paladar leve, boa acidez, média persistência, doçura aparece. Provei este espumante no ano passado. A qualidade cresceu, está elegante e bem equilibrado.
Poética, Salton, Bento Gonçalves-Brasil (R$ 35, 78/100). Charmat, 100% Pinot Noir. Cor cereja intenso e brilhante, perlage de tamanho médio, abundante e persistente. Aromas frutas vermelhas maduras, cereja, groselha, especiarias. Paladar suave, leve e macio, boa cremosidade, percebe-se o açúcar residual.
Rosé Brut, Don Giovanni, Bento Gonçalves-Brasil (R$ 28,20, 83/100). Cor entre casca de cebola e tangerina, mas carregado, perlage muito fina e abundante. Aroma intenso, de frutas maduras, groselha, tangerina, framboesas, especiarias, panetone. Paladar de médio-bom corpo, muito cremoso, macio, doçura aparece.
Veículo: Gazeta Mercantil