A maior companhia do mercado brasileiro, a fabricante de bebidas AmBev, fará uma reorganização para ter seu capital formado apenas por ações ordinárias. Trata-se de uma típica empresa do chamado velho mercado brasileiro que decidiu adotar comportamentos de governança do Novo Mercado, sem contudo, aderir ao segmento oficialmente.
A empresa, que desde o mês passado, vale cerca de R$ 260 bilhões na BM&FBovespa e ultrapassou a estatal Petrobras em capitalização (pouco menos de R$ 250 bilhões), seguirá um script de quem quer afastar a polêmica desse movimento.
As ações preferenciais e ordinárias terão a mesma avaliação (cada PN será trocada por uma ON), o controlador, Anheuser-Bush Inbev (AB Inbev), não votará e a operação dependerá apenas do aval dos minoritários das ações ordinárias e preferenciais.
Ao fim da reestruturação, o controlador, a Fundação Antonio e Helena Zerrenner (FAHZ), e os minoritários terão a mesma participação no capital total que a atual, 61,9%, 9,6% e 28,5%, respectivamente.
Portanto, na bolsa, é uma transação que movimentará quase R$ 75 bilhões, com a migração de espécie de ações. O banco de investimentos Rothschild é o coordenador.
O Valor apurou que o objetivo da operação é, principalmente, colocar-se em situação de igualdade na comparação com as principais empresas do setor, frente os investidores. A despeito de ser a terceira maior companhia do ramo de bebidas do mundo (atrás apenas da Coca-Cola e da controladora AB Inbev), é a única entre as oito maiores a ter ações preferenciais - justamente as mais líquidas.
Muitos acionistas, em especial estrangeiros, queixam-se do fato de a empresa não ter uma estrutura simples de uma ação, um voto. Além disso, a despeito de ser a maior companhia da BM&FBovespa, não está nem mesmo entre as cinco ações mais negociadas e sua participação no Índice Bovespa, o principal do país, está longe de ser de destaque.
No Ibovespa, a mineradora Vale lidera com 13,5% de peso, seguida pela estatal do petróleo, com 9,7%. E antes da fatia de 1,77% da AmBev, aparecem diversas outras companhias como Gerdau, Cielo, entre outras, além de todos os bancos e a própria BM&FBovespa.
Somente com a unificação de espécie de papéis, a companhia deve saltar da 12ª para a 10ª posição de mais negociada na bolsa brasileira, tomando-se como base os últimos 30 dias, conforme apresentação da companhia. Juntas, ordinárias e preferenciais da AmBev movimentam R$ 130 milhões, em média, ao dia.
A expectativa é que a transação esteja encerrada no fim do primeiro semestre de 2013 e que melhore o posicionamento da empresa quando o assunto é liquidez. A operação não será apenas a conversão da espécie de ações. Haverá uma incorporação. A Inbev Participações vai absorver as ações da AmBev e depois terá se nome modificado para AmBev S.A.
Outro benefício da transação será o aproveitamento de ágio na incorporadora, cujo valor de estoque é da ordem de R$ 105 milhões e deve render, portanto, benefício fiscal de aproximadamente R$ 35 milhões.
Além da unificação do capital em ordinárias, a companhia também decidiu ampliar o dividendo mínimo estatutário de 35% para 40% e acrescentar dois membros independentes ao conselho de administração, atualmente formado apenas por representantes do controlador.
Entre os itens relevantes do Novo Mercado que ficarão de fora das práticas da empresa está o acesso ao prêmio de controle no direito de venda conjunta, o chamado "tag along". A empresa oferecerá o mínimo previsto da Lei das Sociedades por Ações, de 80% do valor pago por ação ao controlador, enquanto no segmento especial de governança esse benefício é de 100%.
Conforme o Valor apurou, a AmBev não tem planos de captação para o curto prazo. A meta principal é uma melhor percepção de valor da companhia pela comunidade de investidores.
Veículo: Valor Econômico