Reorganização da Ambev já altera preço das ações

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A decisão da Ambev de ter apenas ações ordinárias (ON) foi vista com bons olhos pela maior parte dos gestores e analistas. A evolução em termos de governança corporativa foi um ponto de concordância. A divergência se concentrou no impacto sobre o pagamentos de dividendos, já que, pelo estatuto da fabricante de bebidas, os detentores de ações preferenciais (PN) teriam direito a proventos mais fartos do que os que têm ON.

O saldo das posições conflitantes se deu na bolsa ontem. O papel ON subiu 11,13%, para R$ 85,13, enquanto o PN subiu apenas 0,28%, para R$ 88 (ver gráfico). A convergência entre as cotações das duas classes de ações deve ser o principal impacto da reorganização societária, segundo Eduardo Roche, analista de renda variável da gestora Modal. A Ambev determinou que serão atribuídos valores iguais às duas classes de papéis.

Uma dúvida que surgiu ontem é se os donos de ações PN sairiam perdendo. Pelo estatuto da Ambev, o dividendo destes é 10% maior do que o de donos de ações ON. Em relatório, analistas do Bank of America Merrill Lynch (BofA) dizem que o investidor interessado nos proventos passará a embolsar menos daqui para frente. A empresa é figura comum em fundos e carteiras de dividendos.

Para Pedro Quaresma, sócio da STK Capital, o acionista preferencialista não perde. A empresa aumentou o dividendo mínimo obrigatório de 35% para 40% do lucro líquido ajustado. "Uma coisa atenuou a outra. A empresa manobrou muito bem", diz Quaresma. Para ele, que tinha somente ONs da Ambev em carteira, a capacidade de gerar caixa e pagar dividendos não mudou.

Um dos resultados práticos, escrevem os analistas do Barclays, será o aumento do volume negociado. "A liquidez das ações irá aumentar", dizem. Com isso, o peso da empresa nos índices, como no Ibovespa, tende a aumentar.

O que não passou batido pelo mercado foi qual seria o próximo passo da Ambev, ou seja, o real objetivo da medida. Nas mesas de operações, um comentário recorrente foi de que a mudança poderia sinalizar um apetite por aquisições. "A reorganização torna a estrutura de capital mais simples e fortalece a ação da empresa como moeda de troca em uma eventual aquisição", diz Eduardo Roche, da Modal. Para ele, a medida abre mais uma possibilidade de financiamento desse tipo de operação.

"Esse não é um dos objetivos da transação proposta", respondeu a Ambev, em nota. "Dada a geração de caixa da Ambev e o seu nível de endividamento atual, acreditamos que a companhia tem condições financeiras suficientes para realizar possíveis aquisições no futuro, se surgir alguma oportunidade".

Para o investidor, a substituição das PNs pelas ONs traz um ganho de governança, na opinião de Clodoir Vieira, economista-chefe da corretora Souza Barros. "O investidor passa a ter direito a voto, e a empresa fica obrigada a garantir o 'tag along' [prêmio pelo controle], em caso de venda", diz. A Ambev precisaria garantir 80% do valor pago ao controlador - no Novo Mercado a exigência é de 100%. Vieira chama a atenção para o fato de a empresa ter se comprometido em aumentar o número de membros independentes no conselho de administração: "Eles vão cumprir regras do Novo Mercado sem estarem listados lá".

A Ambev, que desde novembro é a empresa mais valiosa do mercado, totalizando R$ 270 bilhões na BM&FBovespa, afirmou que seu objetivo imediato não é preparar-se para o Novo Mercado. A decisão não foi compreendida por parte do mercado. Os analistas do BofA ponderaram que as exigências de governança nesse segmento da bolsa são maiores. "As companhias do Novo Mercado têm maior dificuldade para sair da listagem, precisam ter 25% de free float [ações em circulação] e um mínimo de 20% de membros independentes no conselho", escrevem. Ao que tudo indica, a empresa "deseja flexibilidade nesses assuntos".

A extinção das PNs pode contribuir para que a Ambev atraia o investidor estrangeiro, diz Pedro Galdi, da SLW. Há gestores de recursos e corretoras internacionais que não têm autorização de seus clientes para investir em empresas com ações que não dão direito a voto. "Normalmente, o investidor estrangeiro não gosta das duas classes de ação porque o padrão deles é apenas um tipo de ação. Nesse sentido, a Ambev está ajustando o seu modelo [societário] ao padrão global", afirma.

"Somos a única entre as oito maiores empresas de bebidas globais a não ter apenas um tipo de ação", disse o diretor financeiro da Ambev, Nelson Jamel, ontem. Além de eliminar as diferenças com seus pares globais, a reestruturação da Ambev, caso seja aprovada em assembleia a ser convocada no primeiro semestre de 2013, deverá trazer a redução de custos operacionais, de auditorias, registros e outros, com o fechamento de cinco subsidiárias. As empresas a serem extintas serão definidas nos próximos meses. A Ambev informou que são razões sociais inoperantes, resquícios da fusão entre Brahma e Antarctica, de 1999.

A simplificação da estrutura da Ambev inclui também uma incorporação. A Inbev Participações vai absorver as ações da Ambev e passará a chamar-se Ambev S.A. A redução de custos operacionais vai possibilitar o aproveitamento em benefício de todos os acionistas do ágio de aproximadamente R$ 105 milhões hoje existente na InBev Part. O benefício fiscal, diz a Ambev, decorre da dedutibilidade para fins tributários da despesa com amortização do ágio atualmente contabilizado na Inbev Part.



Veículo: Valor Econômico


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