As commodities usadas na produção da bebida, o câmbio desvalorizado e a correção dos impostos pressionaram o preço da cerveja
Sair do trabalho e tomar uma cerveja para dar aquela relaxada nunca foi tão caro. No ano passado, o valor da garrafa em bares e restaurantes subiu 12,8% - mais de duas vezes a inflação do ano, que foi de 5,84%, de acordo com o indicador oficial, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O preço da cerveja comprada nos supermercados encareceu mais ainda: 13,55%. O motivo? Vários. A começar pelo custo da matéria-prima, como o milho e o arroz, commodities cujos preços dispararam no último ano. Entram nesta conta também o aumento do custo da mão-de-obra, a desvalorização do real e até a correção tributária. De fato, o custo de produção da indústria de bebidas havia crescido 12,46% desde o início no ano até novembro. Porém, o lado da demanda também penalizou o bolso do consumidor: segundo a coordenadora do IPCA do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes, o ganho de renda do brasileiro em 2012 aqueceu a demanda e ajudou a empurrar os preços da cerveja para cima. Com isso, os apreciadores da bebida pagaram ainda mais caro do que em 2011, quando o preço da cerveja aumentou 8,07%.
O primeiro fator que pesou diretamente sobre o preço final foram as cotações de arroz e milho, dois dos produtos não maltados mais utilizados pela indústria cervejeira, empregados para a produção de leveduras. O preço do arroz do tipo longo fino em casca ao produtor, por exemplo, aumentou 48,4% entre novembro de 2011 e de 2012, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), e a cotação do arroz branco do tipo 1 em casca do Rio Grande do Sul na BM&FBovespa subiu 34,6% no ano. Já o preço do milho teve um peso menor: a saca de 60 kg do grão subiu 8,9% entre novembro de 2011 e de 2012, segundo a Conab, enquanto, na bolsa, as cotações do milho paulista subiram 13,2%.
Outros ingredientes essenciais para a produção de cerveja também encareceram, mas por influência do dólar mais caro, como o lúpulo. O câmbio passou de um patamar de R$ 1,87 no primeiro dia útil de 2012 para R$ 2,04 em 31 de dezembro, o que fez com que a matéria-prima importada ficasse mais custosa para o produtor.
A incidência de impostos é o terceiro fator específico do setor que pressionou os preços. Embora o governo federal tenha reduzido e adiado para abril deste ano a previsão de aumento da carga tributária para a indústria cervejeira, em 2012 os produtores já foram obrigados a contribuir mais por causa da correção automática da tabela de recolhimentos de impostos, uma vez que as bebidas pagam como imposto um valor fixo por unidade, e não um porcentual do preço, que é corrigido todo ano.
Conjuntura
Além dos fatores específicos do mercado da cerveja, outros pontos de caráter conjuntural da economia brasileira contribuíram para a inflação do produto, como o aumento do custo da mão-de-obra, pelo lado da oferta, e a crescente procura como consequência do aumento da renda média do brasileiro, pelo lado da demanda.
“As pessoas tem saído para comer fora, a demanda tem sido bastante favorável”, avalia Eulina Nunes, do IBGE. Essa pressão também contribuiu para que o custo de alimentação fora do domicílio em geral também ficasse acima da média da inflação do ano passado: 9,51%.
De acordo com dados da última Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), do IBGE, relativa a 2008, o brasileiro consome em média 31,1 gramas de cerveja por dia, sendo que 63,6% deste consumo ocorre fora do próprio domicílio. O consumo da bebida dentro de casa corresponde a 1,3% de todos os gastos familiares, enquanto fora de casa já representa 2,2%. Este peso, porém, varia de acordo com a renda da família, e o consumo fora de casa é proporcionalmente maior para aquelas que recebem mensalmente entre R$ 1.245 a R$ 2.490, que consomem em média 2,4% da renda com cerveja em bares e restaurantes.
Veículo: DCI