Produtores de vinho de São Paulo e do sul de Minas Gerais começam a lançar este ano no mercado os primeiros vinhos finos produzidos em suas próprias terras depois de anos de investimentos no desenvolvimento de variedades de uva adaptadas à Região Sudeste e com novas tecnologias de manejo do cultivo. O conjunto de investimentos quer fazer do interior paulista e do sul mineiro um novo polo de vinhos finos no País.
Em São Roque (SP), a Vinícola Góes acabou de colher, em 4 de março, a primeira safra para venda em escala da espécie francesa cabernet. O vinho já está sendo comercializado em pequena escala desde dezembro de 2012, a partir da safra plantada em 2008 e colhida em 2010. Essa foi a primeira experiência de plantação comercial da espécie no estado, e, pelos resultados obtidos, os planos são de expansão da área cultivada com uva cabernet franc.
"Este ano deu uma uva de boa qualidade, o resultado foi surpreendente", conta o diretor da vinícola, Claudio Góes que também preside a Câmara Setorial da Uva e do Vinho do Estado de São Paulo. Ele projeta que a safra deste ano chegará ao mercado já em 2014 e, em até três anos, a produção de sua vinícola alcançará 15 mil litros de vinho ao ano, equivalente a cerca de 20 mil garrafas.
Desde 2001, a vinícola investiu R$ 2 milhões em área de 2 hectares para análises e 8 hectares para implantação de parreiral comercial para testar 38 variedades de uvas americanas, europeias e híbridas que resultam de cruzamentos de espécies desenvolvidas pela Embrapa e pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC).
Outras variedades europeias que começam a ser testadas em solo paulista e já são comercializadas por vinícolas mineiras são a syrah, para vinhos tintos, e a sauvignon blanc, para vinhos brancos. Segundo o consultor da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) Murillo de Albuquerque, "a syrah foi a que mais se adaptou [ao clima do estado] e atualmente já se encontra em cultivo comercial".
Em São Paulo, ela também vem apresentando bons resultados, segundo o enólogo responsável pela Vinícola Guaspari, Cristian Donoso, de Espírito Santo do Pinhal (SP). De acordo com o técnico, essa variedade francesa vem apresentando "alta produtividade e alta qualidade na produção de vinho". Depois de seis anos de testes, a vinícola planeja colocar no mercado vinhos produzidos a partir da syrah e da sauvignon blanc até o fim deste ano.
Para a Câmara Setorial da Uva e do Vinho paulista e a Epamig, já existem cerca de 150 hectares de videiras europeias sendo cultivadas nos municípios mineiros de Três Corações, Cordislândia, Três Pontas, Varginha, Santo Antônio do Amparo, Andradas e Baependi, e nas cidades paulistas de Espírito Santo do Pinhal, Divinolândia, Itobi, Louveira, Indaiatuba, Vinhedo, Valinhos, São Roque, São Carlos e Jambeiro.
Longo prazo
Apesar de os vinicultores da Região Sudeste começarem a lançar os primeiros vinhos finos de uvas europeias produzidas na região, os produtores reconhecem que a ideia de fazer com que a produção regional seja de referência no País é um projeto de longo prazo.
"Hoje, [os locais onde] as variedades se dão melhor e estão mais adiantadas são os da fronteira do Rio Grande do Sul, distante da Serra Gaúcha, nos limites com o Uruguai. No próprio estado, onde se respira vinho, com 90% da produção nacional, [os produtores] estão procurando outras regiões e adaptações", considera Claudio Góes.
Segundo o empresário, a prioridade agora é "qualidade e aceitação", não retorno financeiro. "Ainda não temos projeção de retorno dos vinhos finos. É preciso ter produtividade para que o custo seja diluído", observa.
Veículo: DCI