Antes carregada de conotações negativas, a cachaça passou por um processo de valorização e atingiu status de bebida premium. O reconhecimento como produto genuinamente brasileiro por parte dos Estados Unidos, que ocorre no próximo dia 11, é visto, inclusive, como um meio de preservar mercado para os fabricantes nacionais do famoso destilado.
As estimativas do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac) são de que o País tem capacidade instalada para produzir 1,2 bilhão de litros, possui quatro mil marcas e 40 mil produtores - 99% são de pequeno porte. Mesmo sem dados estatísticos sobre faturamento, o presidente da diretoria executiva do instituto, Vicente Bastos Ribeiro, afirma se tratar de um segmento em ascensão.
De acordo com Ribeiro, a cachaça era barata e ninguém queria ter sua imagem associada ao produto. Mas nos últimos cinco anos, ocorreu um processo de valorização da bebida, resultado de uma combinação de fatores. O interesse do consumidor por produtos brasileiros autênticos aumentou e os produtores se esforçaram para melhorar a qualidade.
Além disso, mesmo com o rótulo artesanal, as marcas de destaque não pararam no tempo e investem em tecnologia para trazer mais profissionalismo à produção. É o caso, por exemplo, do fundador da cachaça Vale Verde, Luiz Otávio Pôssas Gonçalves, conhecido por idealizar a cerveja Kaiser e a água de coco Kero Coco.
"O que acontece comigo parece destino. Sempre mexi com bebida. Quando fundei a Kaiser, estudei fermentação na Alemanha. Eu já tinha um alambique para fazer cachaça para consumo próprio, então resolvi aprimorar o produto e o público foi se interessando", conta. Interesse que rendeu R$ 4,5 milhões de faturamento em 2012 - cifra que o empreendedor espera aumentar para R$ 5,4 milhões neste ano.
O negócio de Gonçalves funciona em Betim, Minas Gerais. Tradicionalmente, o estado sempre foi famoso por suas cachaças, mas não é a única região do País onde despontam produtores de sucesso. "O Brasil inteiro fabrica cachaças incríveis. O que importa é a qualidade e não de onde ela veio", destaca Vicente Ribeiro.
Prova disso é a empresa Weber Haus, localizada em Ivoti, no Rio Grande do Sul. O negócio exporta para sete países e cresceu 30% em 2012. "Somos uma empresa pequena, que trabalha com valor agregado e não com quantidade", diz o diretor Evandro Luis Weber. De origem alemã, a família sempre trabalhou com destilados. "Como temos parentes que ainda vivem na Alemanha, temos facilidade de trazer a tecnologia de lá para melhorar a qualidade da bebida", afirma o empresário.
Recentemente, a Weber lançou o Lote 48 - o destilado passou seis anos em carvalho francês e mais seis em madeira de bálsamo - com edição limitada de 2 mil garrafas numeradas. O preço, aliás, sobe na medida em que o estoque da bebida diminui. A garrafa número 1.999 custou R$ 701 e a número 2, por exemplo, R$ 2.699. A unidade 2000 ficará no acervo da empresa e a número 1 será leiloada.
Exportação. Com a proximidade dos grandes eventos esportivos no País, a bebida deve ganhar ainda mais popularidade no exterior. O que vai ser muito bom para o segmento ganhar mercado de uma maneira geral.
Por enquanto, menos de 1% da produção é direcionada para fora do Brasil. Em 2012, foram exportados 8 milhões de litros, o que gerou receita de US$ 14,9 milhões. A Casa Bucco, de Bento Gonçalves, já exporta para Suíça e Alemanha e negocia com os Estados Unidos. "O Brasil está em evidência e a bebida brasileira é a cachaça", reforça Moacir Menegotto, um dos sócios.
Setor dominado por pequenos produtores aproveita momento de evidência da bebida para aumentar o lucro
Veículo: O Estado de S.Paulo