Cerveja gourmet cai no gosto brasileiro

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O Brasil é o terceiro maior mercado de cervejas, com um consumo de 140 milhões de hectolitros por ano, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Supera até mesmo a Alemanha. O volume, contudo, está ligado diretamente às cervejas de massa, porque em termos da bebida gourmet, ainda estamos engatinhando. Hoje, as cervejas especiais representam 7% do consumo no Brasil e, as chamadas gourmet, por não mais do que 2% desta fatia, o equivalente a menos de 0,5% do mercado total da bebida no país. Todavia, desde 2010 o setor tem dobrado seu ritmo de crescimento e despertado o interesse de novos empreendedores.

A resposta para o aumento da demanda passa pela mudança do perfil econômico do país, declaram os especialistas. De acordo com Adalberto Viviani, presidente da Concept, consultoria especializada em bebidas e alimentação, ao mesmo tempo que a nova classe média começou a tomar mais espaço no mercado de consumo, mais pessoas passaram a buscar produtos de desejo, patamar onde se situam as cervejas de preço médio e elevado das marcas líderes. Na outra ponta, os consumidores de cervejas das classes A/B passaram a migrar com mais intensidade para os produtos diferenciados e exclusivos. O segundo movimento que reforça o aumento do consumo, diz Viviani, é provocado pelos apreciadores de vinho e whisky, que buscam degustar a cerveja com uma percepção diferenciada.

"O mercado de cervejas gourmet tem crescido a uma média de 15% ao ano. Ainda é pouco. Tem muito espaço a ser explorado, levando-se em conta que a bebida está disponível em não mais do que 3.000 restaurantes classe A, em um universo de 1,5 milhões de pontos de venda da cerveja tradicional", reforça Viviani. "A grande questão é como ficará este mercado nos próximos cinco anos".

Segundo o consultor, há 12 anos surgiram vários rótulos de cachaças premium. Muitos não decolaram por conta da falta de fidelização e dificuldades na distribuição. "Com base neste histórico, vingarão os fabricantes de cervejas gourmet que construírem a marca, conquistarem uma percepção de fidelização e ganharem distribuição", declara Viviani. A distribuição é a pedra no sapato das microcervejarias que têm de convencer os donos de restaurantes que sua bebida gourmet é uma boa oportunidade de negócio, desde que tenha giro, porque o seu tempo de consumo é curto, menor do que o vinho, e precisa de refrigeração.

Advogado de formação e cervejeiro por paixão, Marco Falcone experimentou pela primeira vez uma genuína cerveja gourmet em 2000, na Alemanha, o que reforçou seu interesse em produzir a bebida em Ribeirão das Neves, nos arredores da capital mineira. "Em 1988, fiz um curso de fabricação de cerveja artesanal e passei a produzir no sítio da família para consumo próprio e dos amigos", conta Falcone. "A brincadeira acabou pela dificuldade de encontrar matéria-prima de qualidade a preço justo".

Anos mais tarde, o que era hobby começou a tomar ares de negócio. Antes de montar a microcervejaria, Falcone viajou três anos seguidos para a Europa para visitar pequenos fabricantes da Bélgica, Dinamarca e Alemanha; fez cursos, estudou o mercado e, em abril de 2004, inaugurou ao lado dos sócios e irmãos, a Falke Bier.

Primeiro produziu chope, quebrando o paradigma de que em Belo Horizonte não se bebe chope. Foi pioneiro na fabricação da bebida com malte torrado na própria fábrica. Mas, para sobreviver ele sabia que não poderia bater de frente com os grandes fabricantes. "A saída foi abrir a fábrica para ensinar a fazer cerveja e desenvolver a cultura cervejeira", lembra Falcone. "Desde o início, a nossa proposta não era volume e sim inovação."

Com o reconhecimento do Instituto Estrada Real, que cuida do turismo no estado de Minas Gerais e endossa os produtos genuinamente mineiros, a microcervejaria entrou no mercado de cervejas em garrafa, com a Estrada Real Índia Paliali. Mais tarde veio a Falke Monasterium, um resgate da receita dos monges carmelitas do séc. XIV, maturada por 75 dias em uma adega subterrânea ao som de canto gregoriano e envasada e enrolhada como espumante. Hoje, são sete rótulos, de sete estilos distintos, vendidos em restaurantes de todo o país, a preços que podem chegar a R$ 200 a garrafa, no caso das edições limitadas. A produção está na casa dos 10 mil litros mensais e deverá dobrar este ano com a abertura da nova fábrica.



Veículo: Valor Econômico



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