Aumento de 2% do IPI "é uma pancada"
A Ambev, maior fabricante de cerveja do país e a de maior valor na bolsa de valores, tem um ano desafiador pela frente. O câmbio desfavorável torna a compra de commodities como açúcar e malte mais cara, a demanda está em desaceleração e, desde a segunda-feira, o Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para cerveja carrega um aumento real de 2%.
"Este vai ser um ano mais difícil que a média dos dois últimos anos", disse o presidente da Ambev, João Castro Neves em entrevista ao Valor. A combinação de fatores macroeconômicos e de mercado deixa o executivo com o "otimismo neutro" para 2013.
O impacto nos preços da cerveja virá, mas não é imediato. No ano passado, o preço da cerveja no país subiu 13,56%, segundo o IBGE, que mede o índice da inflação oficial no país, o IPCA. Este índice geral fechou 2012 com alta de 5,84%.
O comando da Ambev costuma dizer que baliza o aumento de preço de seus produtos de acordo com a inflação. O ideal, num horizonte de dez anos, é que o preço da cerveja suba de acordo com a inflação, observa o presidente da Ambev. "Desta vez deverá ficar acima desta média", diz.
Em sua visão, um aumento real de 2% no IPI em um cenário de desaceleração de demanda e câmbio desfavorável para comprar insumos cotados em dólar "é uma pancada".
Para o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (Cerv Brasil), Paulo Petroni, a indústria estava preparada para este aumento previsto para acontecer uma vez a cada semestre pelos próximos três anos. "Mas é um fator ofensivo a mais no crescimento que já não está tão alto". No primeiro trimestre deste ano a produção de cerveja somou 3,3 bilhões de litros, segundo o Sicobe (sistema da Receita Federal), com queda de 0,6% em relação ao mesmo período do ano passado.
Castro Neves trabalha com a possibilidade de o governo reverter a decisão de aumentar a carga tributária da cerveja a cada seis meses. "Estamos sempre dizendo ao governo, explicando o peso do setor na economia e que podemos ajudar no crescimento do país", diz ele. Segundo a CervBrasil, o setor emprega 1,7 milhão de pessoas e equivale a 1,7% do PIB.
"O que torna 2013 interessante é que teremos que fazer um plano estratégico para enfrentar aspectos negativos deste ano e balancear com os positivos do ano que vem com a Copa do Mundo, eleição e aumento de volumes", diz o presidente da Ambev.
Para este ano, Castro Neves fala em adotar medidas cirúrgicas, com aceleração e desaceleração tão rápidas quanto os movimentos do mercado. Ele dá um exemplo: o estoque pode ser ajustado para baixo, mas sem comprometer a oferta futura do produto. É um ajuste fino já que as compras de alguns insumos são feitas com 12 meses de antecedência. "Uma das nossas virtudes é a adaptação rápida aos cenários do mercado".
Em junho próximo, por exemplo, quando será realizada a Copa das Confederações, pode trazer vendas equivalentes a um "meio verão", mas ainda é cedo para saber como a demanda vai se comportar.
Apesar do cenário atual, os investimentos anunciados em fevereiro deste ano pela cervejaria estão mantidos e vislumbram o aumento da demanda em 2014, ano da Copa do Mundo. São R$ 3 bilhões, dos quais entre 60% e 80% aplicados no Brasil - e o restante nos países da América Latina e Canadá, áreas de atuação da Ambev. No Brasil, o investimento deve contemplar a construção de uma fábrica em Uberlândia, Minas Gerais, e outra na região de Ponta Grossa, no Paraná.
Não só o Brasil do futebol deve puxar os negócios da cervejaria, que tem o maior valor de mercado entre as empresas brasileiras, de R$ 260 bilhões. A América Central está entre as apostas de crescimento. "Se tudo der certo, em dois a três anos, a América Central e o Caribe podem se transformar em dois Cone Sul", diz Castro Neves. A operação no Cone Sul inclui, além da Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e Bolívia.
Em 2012, a Ambev se tornou a marca líder na República Dominicana e nos últimos dois anos ampliou sua fatia de mercado de 10% para 30% na Guatemala. No final de março fechou sua fábrica na Venezuela e manteve a presença naquele mercado com operação terceirizada através da Cerveceria Regional, numa parceria firmada em 2010.
A atuação em mercados tão distintos fez a Ambev identificar que tipo de inovação funciona em países emergentes e países desenvolvidos. Consumidores de países como o Brasil têm vivido o fenômeno da migração para marcas mais caras, o que explica o crescimento das marcas premium. Já no Canadá, a Ambev identificou um movimento horizontal de mercado que leva os consumidores a experimentar outras bebidas. Por isso está vendendo aos canadeneses cidra, num mercado onde a marca líder entre as cerveja é a Budweiser, com 13%.
Veículo: Valor Econômico