A operação brasileira da Campari vendeu menos no ano passado e está perdendo espaço dentro do grupo italiano de bebidas. As vendas das linhas nacionais, mais baratas, como Old Eight, Dreher e Drury's, caíram 12,7% em 2012. O faturamento da empresa no Brasil recuou 14,7%. Este ano, a companhia está ampliando o portfólio com produtos mais caros, como uísque americano e tequila.
Em 2010, o grupo faturou globalmente € 1,16 bilhão e o Brasil representou 8,4% (€97,3 milhões); em 2011, o faturamento mundial subiu para €1,27 bilhão, e a fatia do Brasil caiu para 8,3%, apesar de as vendas terem atingido seu pico (€106 milhões). A compra da cachaça Sagatiba, em 2011, ajudou a elevar as vendas da Campari no país naquele ano. Mas o avanço não se sustentou e as vendas caíram 14,7% no ano passado, para €90 milhões, representando 6,8% do faturamento global do grupo, que somou €1,34 bilhão em 2012.
A diferença é ainda maior quando observada a representatividade do Brasil em relação à operação regional da Campari. O país é o segundo mercado do continente americano para a empresa, atrás dos Estados Unidos, mas sua participação relativa na região é a menor desde 2001. No ano passado, o Brasil representou 19,5% das vendas, ante 24,9% em 2011.
A Campari divide o continente em Estados Unidos, Brasil e "outros países". Todos ganharam espaço e faturaram mais em 2012, com exceção do Brasil. "A Jamaica cresceu muito em importância por causa da aquisição da Lascelles deMercado [fabricante de rum comprada em setembro de 2012]", diz Sascha Cumia, diretor-geral da unidade de negócios América do Sul.
A queda de vendas no Brasil no ano passado foi de 14,7% - impactada de maneira negativa, em parte, pelo câmbio (em 6,7%). Cumia diz que a receita em reais cresceu, mas não cita valores. No primeiro trimestre, houve crescimento no faturamento da filial brasileira de 7,6% sobre igual período de 2012, para €12,6 milhões. Mas ainda ficou abaixo do patamar alcançado de janeiro a março de 2011 - €17,5 milhões.
Este ano, a Campari está ampliando seu portfólio no país, importando um novo uísque e entrando na categoria de tequila. O consumo de uísque e tequila cresceu no mercado brasileiro no ano passado - 4,6% e 4,4%, respectivamente. A venda de vodca cresceu mais, 6,1%, segundo a consultoria Euromonitor. Já a categoria "bitter" (aperitivo amargo), em que está a bebida Campari, ficou praticamente estável (queda de 0,4%) em volume e recuo de 10% em valor.
Claudio Czarnobai, analista de mercado da consultoria Nielsen, diz que as categorias "tradicionais", como a de bitters, "ficaram para trás". A falta de inovação - diferentemente do que ocorreu com as vodcas, que ganharam linhas com sabores - tornou essas bebidas "coadjuvantes", restritas à preparação de coquetéis.
A diretora de marketing da Campari, Julka Villa, diz que o plano de aumentar a oferta de itens mais caros no país começou há alguns anos, quando a companhia percebeu que o consumidor está disposto a gastar com produtos de maior valor agregado. "Não é uma decisão deste momento. Há três anos a Campari está implementando mudanças, ampliando o portfólio premium." Nos dois últimos anos, o crescimento da Campari no Brasil foi puxado pela vodca Skyy, pela cachaça Sagatiba e pelo rótulo Campari.
Czarnobai, da Nielsen, diz que os segmentos que puxam o crescimento das categorias de destilados são de valor "ainda intermediário". "O consumidor está experimentando uísque importado, mas não o de 18 anos."
No último relatório anual, a Campari diz que, no Brasil, "apesar de ligeira melhora no segundo semestre de 2012, as vendas foram afetadas pela tendência negativa em marcas locais, ou seja, Dreher, Old Eight e Drury's, bem como Cynar". A empresa cita o bom desempenho da vodca Skyy e diz que a marca Campari "fechou o ano com ligeira queda em vendas, o que deve ser positivo tendo em conta o ambiente de mercado difícil".
Rivais da Campari, a britânica Diageo e a francesa Pernod Ricard também sentiram dificuldades no Brasil em 2012, segundo seus relatórios, que não informaram os números específicos do país.
Os novos produtos da Campari chegam a um mercado dominado pela Diageo (líder em uísque, com o Johnnie Walker; em vodca, com a Smirnoff; e em tequila, com a José Cuervo). No portfólio da Pernod Ricard estão os uísques Chivas e Ballantine's e a vodca Absolut. Segundo Sascha Cumia, da Campari, as novas bebidas da empresa no Brasil - o uísque Wild Turkey 81 e a tequila Espolòn - não vão enfrentar dificuldades para crescer. Mas a Diageo vai continuar defendendo seu espaço: tem como meta aumentar as vendas na região que engloba Paraguai, Uruguai e Brasil para 1 bilhão de libras até 2017. Em 2012, a Diageo vendeu 600 milhões de libras na região.
Veículo: Valor Econômico