Rio - O Tio Sam pode estar querendo conhecer a nossa batucada, como diz o samba-exaltação de Assis Valente, mas quer também trazer sua cervejinha para acompanhar a festa. E não é qualquer cerveja: são as "craft beers", de fabricação artesanal, cuja presença está invadindo o mercado brasileiro especializado na bebida, depois de sucessivas ondas de belgas e alemãs. As exportações de cervejas deste tipo dos Estados Unidos, segundo dados da Associação Americana de Cervejeiros (BA, na sigla em inglês), cresceram 150%, passando de 215 mil litros (1,8 mil barris) em 2011 para 539,8 mil litros (4,6 mil barris) em 2012.
O número representa, porém, apenas 1,03% dos 44,6 milhões de litros de cerveja importados pelo Brasil no ano passado, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), e 0,03% dos 1,5 bilhão de litros produzidos pelas pequenas e médias empresas nos EUA. Para garantir que os números deste ano sejam melhores, uma comitiva de integrantes da BA vai desembarcar em São Paulo para participar da Brasil Brau, maior feira do setor cervejeiro no país, de 25 a 27 de junho. Eles farão palestras sobre o mercado americano, exportação e ações sustentáveis, além de degustações, no evento.
A Associação de Cervejeiros dos EUA classifica como artesanais as que produzem abaixo de 6 milhões de litros por mês e são independentes, ou seja, não têm ligações com as grandes indústrias. No ano passado, elas representaram 6,5% do volume total de cervejas nos Estados Unidos e 10,2% do faturamento. Atualmente, 10 cervejarias artesanais americanas relatam ter vendas para o Brasil, explica o diretor de Operações da BA, Eric Rosenberg, que representa o Programa de Apoio à Exportação que a associação mantém em parceria com o Departamento de Agricultura dos EUA.
"Algumas cervejarias estão tendo sucesso com as exportações para o Brasil e isto está atraindo o interesse de outras cervejarias dos Estados Unidos. Acho que o interesse neste comércio com o Brasil vai continuar crescendo", diz ele.
Convencimento - A onda começou em 2009, quando representantes da BA vieram ao Brasil e encomendaram um amplo estudo sobre o mercado local de cervejas artesanais e "premium" - designação adotada pela indústria para as cervejas de estilos e ingredientes diferenciados. Os resultados não foram muito animadores, mas eles voltaram nos dois anos seguintes, com munição na bagagem. Trouxeram amostras, contataram especialistas em gastronomia, fizeram apresentações e jantares harmonizados para convencer os potenciais compradores.
O esforço foi compensado e alguns contratos foram fechados. A realidade de impostos elevados detectada no estudo do mercado não mudou, diz Rosenberg, mas algumas mudanças fundamentais ocorreram na área de logística:
"A alfândega brasileira requer um certificado sanitário para cerveja importada, mas apenas de laboratórios aprovados nos Estados Unidos. Anos atrás, havia poucos laboratórios e a maioria era afiliada a uma das grandes indústrias cervejeiras. Hoje, existem mais, o que torna o trabalho das cervejarias mais fácil. Além disso, quando visitamos o Brasil pela primeira vez, os importadores não estavam preparados para manter a cerveja sob refrigeração, o que é muito importante para as cervejarias artesanais americanas. Hoje, há importadores capazes de atender a essa necessidade. Mas o principal motivo para a maior presença das cervejas artesanais é o próprio aumento do consumo deste tipo de bebida entre o público brasileiro. Existe demanda comprovada e os produtos estão vendendo apesar de chegarem a preços altos", sentencia.
Veículo: Diário do Comércio - MG