Estoques de vinho crescem 30% em um ano

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O setor vitivinícola, que movimenta anualmente perto de R$ 1,5 bilhão, está prestes a receber a nova safra de uva, estimada entre 550 e 580 milhões de quilos. A parte que será transformada em vinho, algo próximo de 400 milhões de uva, corresponderá a 300 milhões de litros, volume que será adicionado aos 300 milhões de litros que as mais de 700 vinícolas do País não comercializaram em 2008 e que irão sobrecarregar os depósitos neste ano. Ou seja, as empresas terão 600 milhões de litros de vinhos para um mercado que absorve um terço. Os dados são do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin).

 

Em janeiro de 2008, a indústria contava com 196 milhões de litros de vinhos refugados do ano anterior. No início de 2009 o volume era 53,1% maior. A situação preocupa na medida em que paira muitas incertezas em relação ao comportamento do mercado nacional e estrangeiro. No início do ano passado o estoque de vinhos finos (com alto valor agregado, classificado de Reserva e de Gran Reserva) era de 58 milhões de litros. Em dezembro último, já eram 78 milhões de litros, aumento de 34,5%. Já os estoques dos vinhos de mesa (feitos com uvas comuns e com menor valor agregado) passaram de 130 milhões em janeiro de 2008 para 236 milhões, o que representa um crescimento de 81,5%.

 

O cenário não é nada animador: assiste-se à manutenção do bolo, mas com um número maior de participantes para dividi-lo, enquanto a área cultivada cresce: em 1995 a área plantada no Rio Grande do Sul era de 24,3 mil hectares e em 2007 foi de 38,5 mil, alta de 58,3%, conforme o Cadastro Vitícola, elaborado em parceria entre o governo do estado do Rio Grande do Sul, por meio da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Pesca e Agronegócio, e o Ministério da Agricultura, por intermédio da Embrapa Uva e Vinho, e o Ibravin. O estado gaúcho é responsável por mais de 90% da uva produzida no País.

 

Leilão federal

 

O setor vitivinícola aguarda, ainda para janeiro, o anúncio do governo federal para realização de leilões que permitam escoamento de parte desse vinho. Trata-se do Programa de Escoamento da Produção (PEP). Em 2008 foram realizados sete leilões, sendo quatro para destilação - nos quais houve uma oferta de 165 milhões de litros, dos quais 14,7 milhões de litros foram arrematados - e três de escoamento, somando 11,9 milhões de litros, com 100% de comercialização.

 

Para melhorar o desempenho do PEP destilação, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mudou as regras, que atualmente estão em fase final de aprovação pelo Ministério da Agricultura, redefinindo a operação: "Antes, a indústria recebia a uva, pagava o produtor e depois fazia o vinho. Pela nova regra, ela poderá pegar a uva, fazer o vinho, vendê-lo e só depois pagar o produtor", informou o superintendente da Conab, Carlos Eduardo Tavares. Ele afirmou, no entanto, que os 100 milhões de litros pretendidos pelo setor não se concretizem nesta primeira fase. "Talvez inicie com 20 milhões", estimou.

 

A comercialização total de vinhos em 2008 não está fechada, mas a estimativa do Ibravin é que fique ao redor de 220 milhões a 230 milhões de litros, em 2007 foi de 260 milhões de litros. "É a nossa terceira queda consecutiva", observou o diretor do Ibravin, Carlos Paviani. O recorde do setor foi em 2005, com 290 milhões de litros comercializados.

 

Qualquer prognóstico para 2009 terá consistência no segundo trimestre do ano, às vésperas das encomendas para o inverno. O setor aposta no selo de fiscalização emitido pela Receita Federal a partir deste ano, que garante o controle de derivados, tais como coquetéis, sangrias, sidras e koolers, cuja procedência do açúcar terá que vir do vinho - e não adicionado.

 

"Vamos lançar novos produtos no mercado" para driblar a crise, informou o diretor da Adega Lídio Carraro, no Vale dos Vinhedos, na serra gaúcha, Juliano Carraro. Outra estratégia é a exportação, que hoje representa 5% da receita e deve avançar para 8% com a conquista de mais quatro mercados no exterior.

 

"Curioso é que a cada ano o consumidor retarda as compras, o varejo também e se cria uma situação de insegurança", contou o diretor técnico da Chandon do Brasil, Danilo Cavagni. "O problema do setor vitivinícola não é conjuntural e sim estrutural", comentou, projetando para este ano redução do volume de comercialização, talvez, com melhora no segmento de espumantes. "Temos sérios problemas", enfatizou Cavagni, ex-presidente da União Brasileira dos Viticultores (Uvibra).

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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