A Easter Elchies House, uma mansão que serve de sede para a Macallan Distillery, possui vista panorâmica para as montanhas e a vegetação das Terras Altas da Escócia. Mas ultimamente a visão se tornou menos idílica.
Atrás da mansão, as obras de quatro construções de aço e concreto se elevam. Trata-se de um projeto de US$ 80 milhões, que inclui três grandes depósitos para guardar mais de 100 mil barris de uísque. "Não podemos atender a demanda do jeito que estamos indo, especialmente na Índia e China", diz o gerente da destilaria, Alexander Tweedie.
Há apenas alguns anos um investimento como esse seria quase impensável. Mais de 20 destilarias escocesas foram fechadas nos anos 80 e 90 e no início desta década. Poucos adeptos do álcool compravam uísque escocês, já que os jovens e modernos saboreavam vinho, cerveja e outros destilados.
A produção de "scotch" caiu de 415 milhões de litros em 1980 para apenas 268 milhões no ano seguinte. O volume recuperou-se para 429 milhões de litros em 1990, mas ficou abaixo desse patamar até 2006, apesar das crescentes exportações da bebida.
Nos dias de hoje, o uísque escocês (especialmente o de malte único) voltou a ficar em alta. As vendas, em 2007, subiram 75% na China; 36% na Índia; 27% na Europa; e 6% na América do Norte. Apesar da desaceleração econômica mundial, poucos esperam que as vendas de uísque escocês recuem drasticamente, uma vez que mais pessoas passaram a beber em suas casa em vez de nos bares.
O quadro alimenta uma onda de investimentos na Escócia. A Glenlivet, da Pernod Ricard, dobrará a produção. A Glenmorangie, da Moët Hemmessy, planeja aumento de 50%. A Diageo investe US$ 200 milhões no que será a maior destilaria de malte da Escócia, em Roseisle. No total, estão programados investimentos em torno a US$ 800 milhões entre 2007 e 2010, que ampliarão a capacidade anual de produção em cerca de 50 milhões de litros. "O tempo virou na Escócia", diz Gavin Hewitt, chefe do grupo setorial Associação de Uísque Escocês.
O problema é que o uísque normalmente precisa passar uma década ou duas em barris de carvalho antes de poder alcançar preços elevados. Como os estoques da desaceleração dos anos 90 definhando, algumas destilarias estão ficando com o produto em falta. "Todos estão com problemas de oferta, especialmente [de] uísque envelhecido mais de 12 anos", diz Nick Morgan, diretor global de malte da Diageo, fabricante do Oban, Cardhu e Talisker.
Até que os novos investimentos gerem mais bebidas, as destilarias comercializam criativamente uísques mais novos. A Glenmorangie produz, há bastante tempo, uísques com um toque final de dois anos em barris de madeira e xerez depois de dez anos em carvalho americano (considerado o mínimo para o "single malt"), alcançando preços similares aos de uísques mantidos por mais anos. No outono passado (primavera no hemisfério Sul), a destilaria lançou uma garrafa de US$ 185, a "Signet", que inclui uísques "jovens" e não informa quanto tempo a bebida envelheceu. "O setor encurralou-se com a informação sobre a idade", afirma Alistair Longwell, gerente de uma destilaria em Ardmor, que há dois anos lançou o "Barril Tradicional", produto que não informa o envelhecimento.
A Ardbeg, da Moët Hennessy, talvez tenha sido a mais engenhosa. A destilaria fechou em 1981 e reabriu em 1997. Para gerar dinheiro enquanto esperava pelo envelhecimento de suas novas levas de uísque, começou a vender a bebida com as denominações "Muito Jovem", de seis anos, "Ainda Jovem", de oito anos, e "Quase Lá", de nove anos. Essas ofertas tornaram-se "cult" e agora são vendidas por US$ 350 a US$ 400 a garrafa, mais do que o uísque de dez anos da destilaria. "A idade pode comunicar o status", diz Bill Lumsden, mestre destilador da Ardbeg e Glenmorangie. "Mas nem sempre se traduz no melhor sabor."(Tradução de Sabino Ahumada)
Veículo: Valor Econômico