Apesar de um cenário de curto prazo ainda difícil para a Ambev, a notícia de que o volume de cervejas vendido pela companhia no Brasil caiu apenas 0,4% no segundo trimestre sobre um ano antes - retração bem menos agressiva que a de 8,2% de janeiro a março - animou os investidores.
Preços maiores combinados a uma expansão da fatia de cervejas premium na receita mais do que compensaram a queda nos volumes. A Copa das Confederação, em junho, também ajudou. Com isso, a receita líquida cresceu 9,9%, para R$ 7,5 bilhões; o Ebitda avançou 9,5%, para R$ 3,21 bilhões.
Após a divulgação do resultado, pela manhã, as ações da Ambev (preferenciais) subiram e fecharam o pregão em alta de 4,76%, enquanto o Ibovespa caiu 0,67%.
Impactado por maiores impostos e despesas financeiras, o lucro líquido no segundo trimestre ficou em R$ 1,88 bilhão, ligeira queda de 1,1% na comparação anual. A performance veio em linha com a média das projeções de analistas consultados pelo Valor, que apontava ganho final estável.
Para o consolidado de 2013, a Ambev projeta estabilidade ou suave retração no volume vendido. A demanda doméstica ainda pressionada pela menor disponibilidade de renda do consumidor impede a projeção de um cenário mais favorável para expansão de margem no ano. Na prática, volumes mais baixos dificultam a diluição de custos fixos.
Se houver elevação da carga tributária federal em 2% sobre a cerveja, previsto para outubro, a Ambev tende a repassar os custos ao consumidor, disse Nelson Jamel, diretor financeiro da companhia. "Nossas margens já estão bastante pressionadas pelo câmbio".
A companhia continua fazendo o dever de casa para compensar o ambiente adverso e preservar a rentabilidade. A estratégia de lançamentos de novas embalagens, segundo João Castro Neves, presidente da empresa, tem se mostrado uma eficiente alavancadora de vendas.
A companhia pretende, em breve, lançar no Brasil a cerveja mexicana Corona, do grupo Modelo, para compor a linha premium. Esse segmento ainda representa cerca de 6% do portfólio da Ambev e tem puxado o crescimento da empresa. Além disso, a empresa quer ampliar a capacidade de produção nacional de Budweiser, vendida como produto premium, este ano.
A melhora dos volumes para o ano ficaria mais ameaçada, no caso de um eventual aumento de preços. O dilema entre crescimento e perda de margem da companhia ficou bastante evidente na retração de 4,7% no volume de não alcoólicos no segundo trimestre. A queda, mais acentuada que a registrada no negócio de cervejas, tem um motivo específico, na visão de Jamel: o repasse do aumento dos impostos para refrigerantes foi maior, no intuito de suavizar a pressão na rentabilidade.
Segundo Castro Neves, uma campanha de marketing do refrigerante Guaraná Antarctica deve impulsionar as vendas da categoria de não alcoólicos no resto do ano. O segmento não terá outro trimestre tão difícil em 2013 como o segundo, disse o executivo.
Em paralelo, a Ambev toca uma política de redução de custos, tradicionalmente acionada pela gestão em momentos de pouca fartura. Deve ajudar o fato de que, na segunda metade do ano, haverá uma menor concentração de despesas com marketing, que foram particularmente mais elevadas no primeiro semestre por causa da Copa das Confederações.
A Ambev mantém a meta de investir R$ 3 bilhões no Brasil em 2013. Desse total, foram desembolsados R$ 986 milhões no primeiro semestre. A ideia é preparar a capacidade para suportar a demanda prevista nos próximos anos.
Veículo: Valor Econômico