A Coca-Cola Femsa, maior engarrafadora da Coca-Cola no mundo, está seguindo à risca seus planos de se consolidar na liderança no Brasil. No sábado, a companhia, joint venture entre a Coca-Cola e a varejista mexicana e engarrafadora Femsa, anunciou a aquisição de 100% da Spaipa, distribuidora para todo Estado do Paraná e parte do São Paulo, por US$ 1,85 bilhão. A estratégia agressiva de compras do grupo não vai se limitar à Spaipa - a companhia quer ocupar todo o Estado do Rio de Janeiro e São Paulo, apurou o Valor.
"A estratégia da companhia é fazer aquisições contíguas. A empresa está presente em parte de Minas, de São Paulo e Rio de Janeiro e ocupa todo Mato Grosso do Sul e agora o Paraná. O próximo passo será avançar em regiões onde já está presente para dominar o território", disse uma fonte ao Valor. Esse processo de consolidação foi desenhado pela multinacional Coca-Cola nos anos 90 para o Brasil - que chegou a ter 35 distribuidoras e agora cerca de 15 franquias. "A expectativa é de que apenas cinco grupos dominem o país."
Com a aquisição no Paraná, a Femsa passa a atender 66 milhões de consumidores no Brasil e amplia sua capacidade, de 680 milhões para mais de 1,1 bilhão de caixas unitárias por ano. A fatia da Femsa no país, que era de cerca de 30%, aumentou em 40% com a compra da Spaipa. Neste ano, a companhia completa dez anos de atuação no país. Essa é a sétima aquisição desde 2003, quando assumiu o controle da Panamco. Nesse período, comprou a Sucos Mais, da Sucos Del Valle e da Matte Leão, empresas que hoje fazem parte da Leão Alimentos, da qual a Coca-Cola Femsa Brasil é acionista. Em 2008, comprou a Remil, franquia com atuação em Minas Gerais. Em junho, fechou a aquisição da Companhia Fluminense de Refrigerantes, engarrafadora com atuação em parte dos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, por US$ 448 milhões.
Em comunicado, o presidente da Coca-Cola Femsa Brasil, José Ramón Martínez, disse que a compra da Spaipa traz boas possibilidades de crescimento para a companhia. "Há grande complementaridade entre os territórios da Coca-Cola Femsa Brasil e os que pertencem a Spaipa. Isso nos permitirá ganhos logísticos e maior eficiência no atendimento de nossos clientes." O negócio depende de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Há cinco anos, a Femsa iniciou conversas com o Grupo Andina, controladora da Coca-Cola Andina Brasil e a maior do Chile, que atua em parte do Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo, apurou o Valor. "A Andina atua na Argentina, com exceção de Buenos Aires. A Femsa é a principal concorrente deles lá. A ideia era trocar os ativos. As contas de comparação foram feitas e os volumes negociados de bebidas nessas regiões eram parecidos. O negócio não foi levando adiante à época porque a Andina queria fazer cogestão, o que foi descartada pela Femsa", afirmou a mesma fonte. As negociações se arrefeceram, mas não foram enterradas. A empresa, que é conhecida no mercado como uma "mini- Ambev ", por ser um trator em corte de custos, também sondou empresas paulistas, como a Sorocaba Refrescos, que tem como sócia a Andina, com 40% de participação, e a Refrescos Ipiranga, com atuação em Ribeirão Preto (SP), também adquirida pela chilena em julho. Procurado, nenhum porta-voz do grupo chileno foi encontrado para comentar o assunto.
A estratégia da Femsa, que tem forte na América Latina, é também avançar nos Estados Unidos, com atuação em Estados com forte imigração mexicana, como Texas, Nevada e Califórnia, segundo fontes.
Também com estratégia agressiva no mercado brasileiro, a Solar, formada a partir da fusão entre Norsa, Renosa e Guararapes, com cerca de 20% de fatia no país, a companhia planeja dobrar de tamanho nos próximos cinco anos, alcançando faturamento de R$ 10 bilhões. Anunciada no fim do ano passado e aprovada pelo Cade em janeiro, a transação originou a segunda maior franquia da Coca-Cola no Brasil e uma das 15 maiores do mundo. Os sócios da Solar são a própria Coca-Cola Company - que sozinha tem 44% do capital -, e as famílias fundadoras da Renosa e da Norsa (do Grupo Jereissati), donas da fatia restante. "A estratégia da Solar é diferente. Eles vão fazer aquisições onde aparecer", disse uma fonte ao Valor.
Veículo: Valor Econômico