O ambiente de consumo permanece difícil para Ambev, mas seus executivos demonstraram certo entusiasmo quanto às perspectivas para 2014, após a divulgação dos resultados do terceiro trimestre ontem.
Segundo o presidente da Ambev, João Castro Neves, os cenários micro e macro serão melhores para a companhia no próximo ano. Para ele, que falou ontem a analistas e investidores, a economia no Brasil dá alguns sinais de melhora em questões como inflação de alimentos e renda disponível, que tornaram 2013 um ano bastante complicado para o setor de bebidas.
No curtíssimo prazo, no entanto, ainda há pouca luz para a companhia. Dados preliminares do Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe) mostram queda de 8% na produção de cerveja no mês de outubro e de 15% na de refrigerantes, na comparação anual.
A Ambev reiterou a projeção de que a indústria de cervejas no Brasil este ano vai ficar estável ou apresentar retração de "um dígito baixo" em relação a 2012. "Acreditamos agora que vai ficar mais próximo do patamar mais baixo do 'guidance'", afirmou Castro Neves.
Em um trimestre que não contou com o impulso das vendas durante a Copa das Confederações, os volumes de cervejas da Ambev no Brasil caíram 5%. Na categoria de bebidas não alcoólicas, o recuo foi de 2% no país.
Por meio de aumento de preços e maior participação de produtos premium, a Ambev expandiu sua receita líquida em 5,3% no trimestre, para R$ 8,46 bilhões, um pouco abaixo da estimativa de analistas ouvidos pelo ValorPRO, serviço de notícias em tempo real do Valor.
Bank of America Merrill Lynch (BofA), Ágora, Safra, Banco Espírito Santo (BES) e Ativa projetavam, na média, aumento de 7,72% na receita.A maior decepção foi o lucro líquido, que caiu 7,9%, para R$ 2,28 bilhões, enquanto as projeções apontavam para um aumento de 6,4%.
Dois fatores contrariaram as estimativas dos analistas para o ganho final da Ambev: uma maior despesa financeira líquida, devido a perdas com variação cambial, e aumento da alíquota efetiva de imposto de renda na Argentina.
A boa notícia dos resultados da Ambev, em parte já prevista pelos analistas, é que a companhia conseguiu melhorar a sua margem Ebitda (antes de juros, impostos, amortização e depreciação) impedindo o crescimento das despesas operacionais.
Na terça-feira, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) concedeu o registro de companhia aberta à Ambev S.A., etapa da reorganização societária da companhia em curso. A listagem na BM&FBovespa e na bolsa de Nova York é aguardada para o mês que vem.No ano, as ações da Ambev recuam 0,77%, enquanto o Ibovespa cai quase 11%.
Castro Neves reforçou também que a Ambev vem trabalhado próxima ao governo federal para criar um "ciclo virtuoso" de "ganha-ganha": menos carga tributária para estimular investimentos, menores preços, crescimento de vendas e, consequentemente, mais arrecadação.
Com esse discurso, as fabricantes do setor conseguiram adiar, no mês passado, o aumento da carga tributária sobre as bebidas frias que estava previsto para outubro. A data para o novo aumento de impostos para o setor ainda não está definida.
Segundo Nelson Jamel, diretor financeiro da Ambev, a postergação terá impacto na redução da inflação da cerveja. Além disso, disse o executivo, a medida do governo contribuiu na decisão da Ambev de manter os investimentos para este ano em patamar recorde (cerca de R$ 3 bilhões).
Castro Neves afirmou que os investimentos mostram que a Ambev está comprometida e otimista com 2014, ano da Copa do Mundo no Brasil.
Veículo: Valor Econômico