O clima quente impulsiona as vendas nos estabelecimentos, informa o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes da regional São Paulo
O consumo de bebidas alcoólicas e não-alcoólicas cresceu 5% neste início do ano (janeiro até o momento) ante o mesmo período do ano passado. O clima quente impulsiona as vendas nos estabelecimentos, informa o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes da regional São Paulo (Abrasel-SP), Joaquim Saraiva de Almeida.
"O que vimos nos bares e restaurantes do Estado foi a saída muito grande de refrigerantes, sucos (pelo conceito de saudabilidade) e de cerveja. Não foi tão significativo quanto gostaríamos, porque a população, no geral, está consumindo menos por conta da inflação e da economia fraca, mas está sendo bom", disse o executivo, em entrevista exclusiva ao Broadcast. Almeida ressaltou que no período não houve casos de desabastecimento de nenhuma bebida e que não sente risco de falta de produtos no carnaval.
Já o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), Paulo de Tarso Petroni, reafirmou a expectativa de que fevereiro marcará o quarto aumento mensal consecutivo na produção da cerveja no País. "Veremos o efeito do calendário do carnaval em fevereiro e acredito que vamos ter o ritmo de produção de janeiro de 2012 neste mês, já que o evento é realizado neste ano em março", disse. Ele comentou há a sensação no mercado que o ponto de venda varejo superou o consumo fora do lar na comercialização da bebida neste mês. O autosserviço é responsável por cerca de 30% a 40% das vendas de cerveja no País.
Bebida saudável
O recente movimento de aumento de renda da população e a ocupação das pessoas no mercado de trabalho impulsionam a procura por bebidas saudáveis e práticas. O refrigerante e as bebidas concentradas e em pó praticamente estão sendo trocadas pelos sucos prontos, chás e líquidos contendo substâncias consideradas boas para a pele e corpo, como o colágeno.
Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas (Abir), com base em pesquisa preliminar da Nielsen, mostram uma queda no consumo de sucos concentrados no País (-1,3%), refrescos em pó (-3,7%) e bebidas à base de soja (-14,8%) em 2013 ante o ano anterior. Ao mesmo tempo, as vendas de sucos em néctares (+9,8%), água mineral (+10,2%), isotônicos (+3,5%) e chá prontos (+11,7%) tiveram expressivo crescimento. Os dados oficiais de refrigerantes são os da produção que, segundo o Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe), da Receita Federal, registrou queda de 3,6%. O consumo costuma seguir o movimento dos dados de produção.
A busca por uma vida mais saudável, com a prática de exercícios físicos, vem abrindo espaço para os sucos em néctares e isotônicos, na visão do presidente da Abir, Herculano Anghinetti, segundo o qual há uma migração do consumo de sucos concentrados, refrescos em pó e até um pouco dos refrigerantes para esses tipos de bebidas.
A água mineral é favorecida pelo aumento da renda da população, com a substituição da água filtrada/de torneira, conforme especialistas, além de ainda ganhar fatia de mercado, por exemplo, da hidratação durante a prática de exercícios. Nos supermercados já se sente esse movimento. Levantamento da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), também realizado com a Nielsen, mostrou que, até agosto (dado mais recente), os itens que registraram maior elevação de vendas em volumes nos autosserviços foram leite fermentado, com expansão de 10,7% ante o mesmo período de 2012, suco de frutas pronto para consumo (9,9%), água mineral (8,2%). Do lado oposto, apareceu bebida à base de soja (-18,5%), cerveja (-4%) e refrigerantes (-3,9%).
A procura de alimentos e bebidas funcionais, para dietas e controle do peso, e até de itens naturais, ligados ao conceito de saúde e bem estar, origina-se em fatores como o envelhecimento das populações, mostra outra pesquisa, do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) no âmbito do projeto Brasil Food Trends (BFT) 2020. Descobertas científicas que vinculam determinadas dietas a doenças, bem como a renda e a vida nas grandes cidades, também influenciam a busca de um estilo de vida mais saudável e o consumo desse perfil de produto.
Nesse caso, o que se observa é um crescimento dos lançamentos de produtos unidos à cosmética. Em dezembro, por exemplo, a Vigor lançou, em parceria com a companhia da empresária Cristiana Arcangeli, a Beauty'In, o primeiro "iogurte-beleza". O produto tem 0% de gordura e traz em sua composição colágeno hidrolisado, nutriente que proporciona firmeza e elasticidade à pele, segundo a empresa. É adoçado com estévia, um adoçante natural que teria a propriedade de reduzir o aumento de glicose no sangue e de proteger o organismo de doenças como diabetes e obesidade.
Já a busca por itens que remetam à praticidade e conveniência, ainda segundo o Ital, são motivadas, principalmente, pelo ritmo de vida nos centros urbanos e pelas mudanças verificadas na estrutura tradicional das famílias, fatores que estimulam a demanda por produtos que permitem a economia de tempo e esforço dos consumidores.
Cervejas
O mercado nacional de cerveja está caminhando para mais um ano de estagnação ou até o terceiro ano seguido de queda de volume de vendas. Por ser um item suscetível a reajustes de preços e disponibilidade de renda, a comercialização da bebida está prejudicada pela inflação dos alimentos e pelo comprometimento do orçamento da população. E nessa situação, ganham espaço no paladar dos consumidores outros itens, como uísque e vinho, apesar de serem mais caros do que a cerveja.
De acordo com a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe), a cerveja tem uma grande representatividade no mercado nacional de bebidas, de 88%. A cachaça tem uma fatia de 7,5% e os 4,5% são divididos nas outras categorias (vinho, conhaques, uísque, licores, vodcas, entre outros). Porém, conforme dados da empresa de pesquisa Nielsen, o uísque, a vodca e as ices são as categorias que mais crescem no País, enquanto a cerveja registra quedas no volume comercializado nos últimos dois anos. O especialista em mercado de bebidas, Adalberto Viviani, da Concept Consultoria, acredita que há uma tendência de queda de até 1% no volume de vendas de cervejas em 2013. Segundo ele, o processo na economia é de estagnação e nessa etapa não há mudança de camada social. E quando há, esses estão com a renda já comprometida, o que prejudica as vendas da bebida.
A própria Ambev, líder no segmento, com cerca de 70% de participação no mercado, não está otimista com o desempenho do setor no ano. Na ocasião da apresentação dos resultados do segundo trimestre, a gestão da companhia informou que o mercado brasileiro está apresentando uma melhora com relação à inflação dos alimentos e um pequeno avanço da renda disponível do consumidor. Mas que o cenário ainda é difícil. A empresa reiterou a previsão de que a indústria de cerveja no Brasil fique estável ou até tenha uma queda de um dígito porcentual baixo (até 4%) em 2013. Se o fator preço-inflação-renda é o que mais pesa no consumo de cervejas, em compensação, o momento de fraca expansão da atividade econômica e estagnação da renda mexe com a autoestima dos consumidores. E, nesse aspecto, o brasileiro quer ter experiências novas e um maior relacionamento com marcas que oferecem prestígio, status. Nesse sentido, é onde está a oportunidade de expansão das bebidas premium e que acabam disputando mercado com a cerveja.
Dados do fim de julho do instituto TNS Research e encomendados pela fabricante britânica Diageo, com 900 entrevistados brasileiros, 74% afirmaram que consomem mais uísque hoje do que há três anos - período que coincide com o recuo no volume de vendas da cerveja. Além disso, 50% citam o uísque como bebida favorita, seguida por cerveja (27%) e vinho (10%). A questão da sociabilidade também conta na hora do consumo da bebida: apenas 10% afirmam consumir uísque quando estão sozinhos; 81% oferecem para os amigos quando os recebem em casa e 24% assistem a partidas de futebol com os amigos tomando umas doses da bebida.
O aumento de renda da população e a migração das classes D e E para a C vistos há dois anos também tem efeito no consumo por região da bebida no País. Ainda conforme dados do TNS Research, 51% declaram, na média geral, ter consumido uísque na semana anterior à pesquisa. No Nordeste, esse número era de 66% e no Centro Oeste, 59%. No Brasil, o consumo da bebida se dá, em sua maioria, com alguma mistura, como energético ou água de coco, por exemplo.
O setor de vinhos também está otimista com a busca por experiências do consumidor. De acordo com o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), a expectativa para 2013 é de um crescimento de 20% para a comercialização, em volume, de vinhos finos, para cerca de 27 milhões de litros e alta de 6% a 7% de vinhos de mesa.
Veículo: Agencia Estado