Por Carine Ferreira | De São Paulo
A portuguesa Delta Cafés, que desembarcou no Brasil no fim de 2012, estima que o país represente em dois a três anos o segundo mercado para a empresa, depois de Portugal, onde é líder no segmento de cápsulas. A previsão é de Rui Miguel Nabeiro, CEO do grupo Nabeiro, que engloba a Delta. A companhia também está iniciando no país a comercialização de seu café no setor de hotéis e restaurantes.
Na prática, a operação brasileira foi formada em 2013, com a abertura de pontos de venda em redes de varejo. A Delta também comprou a fatia majoritária de uma loja que mantinha com parceiro no Espírito Santo, onde inicialmente se estabeleceu. Atualmente, são 135 pontos de venda em São Paulo e Campinas e quase 40 no Espírito Santo, além da presença no Nordeste com a rede de cafeterias Deltaexpresso, de uma distribuidora que já vendia café da Delta no país há cerca de oito anos. Atualmente, há 32 cafeterias Deltaexpresso no Nordeste e uma em São Paulo, inaugurada na semana passada, no Shopping Tietê.
A Delta Cafés deve faturar este ano € 307 milhões, ante € 300 milhões em 2013, estima Nabeiro. A fatia do Brasil na receita ainda é ínfima. Rui Miguel Nabeiro pertence à terceira geração da família fundadora da empresa.
Entretanto, Nabeiro enxerga um grande potencial para o Brasil diante da dimensão do país e das taxas de crescimento registradas. Portugal, com apenas 10 milhões de habitantes, representa a maior operação da empresa, que diz ser líder no mercado de cápsulas português, com cerca de 35% de participação.
No país europeu, são comercializadas por ano de 100 mil a 120 mil máquinas para as cápsulas de café espresso da companhia (compatíveis apenas com as cápsulas da Delta), mais de 50% do total que é comercializado pela empresa globalmente - 180 mil unidades, citou Nabeiro.
No Brasil, foram vendidas no ano passado 16 mil máquinas do sistema Delta Q. A estimativa para este ano é alcançar 30 mil unidades. Segundo a Delta Cafés, com base em números de empresas de pesquisa, a companhia deverá abocanhar este ano de 15% a 20% do mercado brasileiro de máquinas para cápsulas de café, estimado em 200 mil unidades por ano.
Depois de Portugal, Angola é o segundo mercado para a companhia, que opera diretamente em seis países, além de Portugal, Brasil e Angola, Espanha, França e Luxemburgo.
Originada na vila de Campo Maior, região de tradições agrícolas no Alentejo, há 53 anos, a Delta Cafés está em 35 países na Europa, América do Norte, África e este ano iniciou operações na China, por meio de um distribuidor local.
Tradicional produtora de café torrado e moído e também de solúvel, a empresa lançou em 2007 o sistema de cápsulas Delta Q, hoje o carro-chefe da companhia. As máquinas, em dois modelos, são comercializadas por R$ 359 e a caixa com dez cápsulas custa no varejo R$ 14,50.
O Brasil é o maior fornecedor de matéria-prima para a Delta desde os anos 1970. Os grãos verdes são adquiridos de tradings, em torno de 8 mil toneladas por ano. Mas como existem sete "blends" diferentes, várias origens de cafés compõem as cápsulas.
A produção de cápsulas é feita apenas em uma unidade em Portugal. A empresa também é dona da torrefação Camelo, a maior da Península Ibérica, mas que não fabrica cápsulas. A capacidade de produção total do grupo é de 38 mil toneladas de café por ano. Nabeiro diz que uma unidade industrial no Brasil "pode estar no horizonte", mas não existem planos nesse sentido no momento.
Além do desenvolvimento do "mercado institucional" (hotéis e restaurantes) no Brasil, a empresa pretende trazer ainda este ano a distribuição de vinhos para o país. O grupo também é dono de uma adega em Portugal e se dedica a áreas como hotelaria, negócios imobiliários, agroindústria e serviços.
A empresa inaugurou este ano, quando o fundador da Delta, Manuel Rui Nabeiro completou 83 anos de vida, o Centro de Ciência do Café. "É uma maneira diferenciada de se apresentar ao nosso consumidor", disse João Manuel Nabeiro, do conselho de administração da Delta e filho do fundador da companhia.
Veículo: Valor Econômico