O melhor que se pode oferecer com chenin blanc

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O trecho central do Vale do Loire , composto pelas áreas de Anjou, Saumur e Touraine - devem sua denominação às cidades de Angers, Saumur e Tours que elas rodeiam - é o tema deste último artigo envolvendo os vinhos da terceira maior região vitivinícola da França. Se o fato de elas abrangerem quase 90% das cerca de 70 Denominações de Origem (as A.O.C., Appellation d´Origine Contrôlé, francesas) existentes no Loire torna difícil sua compreensão, o esforço compensa. É onde estão alguns dos vinhos mais intrigantes do país. 

 

Nem todos, é bem verdade. Para quem está em busca do melhor que a região pode oferecer a primeira recomendação é se concentrar em vinhos essencialmente com chenin blanc, se a opção for brancos secos ou doces, e cabernet franc para tintos. A primeira se caracteriza por um bom corpo e interessante grau de acidez, aspectos que garantem vinhos longevos. São características distantes das homônimas cultivadas na África do Sul e na Argentina. A cabernet tem sutis toques florais e vegetais; bem conduzida, tem taninos firmes e elegantes. 

 

Vale notar que isso tem a ver com as condições de solo e clima do trecho central do Vale do Loire, diferentes, portanto, da zona de Sancerre e Pouilly-Fumé, comentadas na semana passada, onde reina a sauvignon blanc, sem esquecer da pinot noir, que compõe o sancerre rouge. Vinhos tintos descompromissados utilizam ou usam mesclas com castas como gamay (a uva do beaujolais) e grolleau, enquanto brancos de segunda linha o fazem com chardonnay e a própria sauvignon. Resumindo, vai em seguida um roteiro das melhores A.O.C. e suas especialidades: 

 

- Savennières: área beirando o rio Loire em sua margem direita, dá origem a vinhos brancos secos, minerais, com potencial de envelhecimento. Seu diferencial é o solo xistoso, em particular os dois vinhedos considerados "crus": Coulée de Serrant, monopólio do carismático e propulsor da biodinâmica, Nicolas Joly, e Roche-aux-Moines. 

 

- Coteaux du Layon: bem em frente a Savenniéres na outra margem do Loire, é cortada por um afluente dele, o Layon, que cria um clima propício ao desenvolvimento da botrytis, fungo nobre que ataca as uvas e concentra seu grau de açúcar, gerando excepcionais vinhos doces. 

 

- Quarts de Chaume: numa área nobre de Coteaux de Layon, tem condições mais favoráveis à progressão da botrytis, proporcionando a elaboração dos melhores vinhos doces da região. 

 

- Bonnezeaux: situação semelhante a Quarts de Chaume, também ocupa área privilegiada de Coteaux de Layon. 

 

- Saumur: o solo mais calcário produz belos brancos secos, mais leves que os Savennières, além de espumantes e tintos. No caso destes, ganha destaque a área vizinha, exclusiva para o gênero, Denominação de Origem Saumur-Champigny. 

 

- Vouvray: a mais antiga A.O.C. da região, delimitada em 1936, é dedicada exclusivamente à variedade chenin blanc, elaborada com sucesso nos três gêneros, brancos, brando doce (e semi-doce) e espumantes. 

 

- Três Denominações de Origem são exclusivas de vinhos tintos, assim como a citada Saumur-Champigny, as quatro vizinhas: Chinon, Bourgueil e, num nível superior, pelo solo pedregoso, St Nicolas de Bourgueil. Dos produtores no mercado brasileiro merecem ser citados Thierry Germain (Cellar), Yannick Amirault (Zahil), Pierre Breton (World Wine), Charles Joguet (Mistral), e Domaine Pallus (Vinci). 

 

Muito embora os vinhos doces elaborados com a chenin blanc alcancem padrões de qualidade excepcionais, o consumidor atual se mostra pouco entusiasmado com o gênero, razão pela qual muitos produtores estão direcionando parte da produção para a versão branco seco, ou, por força da natureza, quase seco. É para atender ao aumento do consumo de vinhos brancos que vem crescendo nos últimos tempos na Europa. No caso dos elaborados com chenin blanc tem tudo a ver, em especial pela vocação que demonstram em termos gastronômicos, onde se harmonizam com pratos consistentes à base de peixes e crustáceos, além de fazerem ótima parceria com carnes brancas. Com a culinária brasileira, entre outras afinidades, não vejo companhia melhor para a moqueca, da baiana a capixaba.

 


Veículo: Valor Econômico


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