Uma das bebidas favoritas de Paul Walsh é o uísque. Mas o presidente-executivo da Diageo nunca fez segredo de sua queda pelo champanhe. Embora a britânica Diageo possa alegar que tem muitas das maiores marcas de uísque, gin, vodca e cerveja do mundo, ela não tem em sua carteira as mais exclusivas das bebidas: um conhaque ou um champanhe.
A arquirrival de Walsh, a Pernod Ricard, da França, tem o conhaque Martell e o champanhe Perrier-Jouët, mas a Diageo tem que se contentar com uma participação de 34% na Moët Henessy, que ela mantém desde meados dos anos 90 (as duas companhias iniciaram um relacionamento em 1988, quando o grupo Guinness e a LVMH assumiram uma participação cruzada de 12% uma na outra).
Após um começo atribulado na joint venture, a Diageo se aproximou mais e mais da LVMH, com Walsh e Christophe Navarre, o presidente-executivo da Moët Hennessy, tornando-se amigos, além de sócios nos negócios.
Portanto, não surpreende que a Diageo, que tem bastante dinheiro em caixa e um endividamento líquido de 7,9 bilhões de libras (US$ 11,4 bilhões), se interesse pelo controle pleno da companhia, que é altamente lucrativa, com margens de aproximadamente 34%. "Sabemos que eles querem as marcas", disse ontem uma pessoa ligada à LVMH.
A LVMH procurou a Diageo este ano para avaliar se ela estaria interessada em comprar o resto da Moët Hennessy, afirma uma fonte a par do assunto. As companhias realizaram discussões informais, mas a LVMH preferiu pensar na venda apenas como uma hipótese, sem dar prosseguimento às discussões. Ela ainda não decidiu se quer se desfazer definitivamente do ativo. Ontem, o grupo LVMH divulgou um comunicado em que nega qualquer negociação.
A receita da Moët Hennessy caiu 3% em 2008, para ? 3,13 bilhões de euros, por conta da recessão econômica. No primeiro trimestre, a queda foi maior, de 22%. Mas apesar do declínio nas vendas de destilados e champanhes premium, analistas afirmam que a tendência de longo prazo continua apontando para o consumo de bebidas mais caras, especialmente na Ásia.
Por isso, seria conveniente para a Diageo levar seu portfólio para um segmento mais sofisticado do mercado. Matthew Webb, analista da Cazenove, diz: "A Diageo fortaleceria sua posição na ponta mais sofisticada do negócio de destilados, perto do ponto mais baixo do ciclo econômico, ficando assim bem colocada para se beneficiar do retorno dos negócios quando a economia mundial se recuperar".
Controlar a Moët Hennessy permitiria à Diageo derrubar os concorrentes de uma só tacada e controlar o comércio mundial de champanhe. A Moët & Chandon, divisão de champanhes da LVMH, é dona de marcas como Dom Perignon e Veuve Clicquot, além de nomes voltados para o mercado de massa como Mercier. Ela também controla mais de 20% do mercado mundial em faturamento.
Também daria à Diageo um maior controle sobre a distribuição das marcas da Moët Hennessy. Os atuais acordos de distribuição das empresas são complicados, uma vez que elas cooperaram em alguns mercados e não em outros.
Com a Diageo se mostrando um comprador interessado, a questão principal é o preço pelo qual a LVMH estaria disposta a vender. "Está claro que estrategicamente é uma coisa boa, mas é uma questão de preço", afirma Trevor Stirling, analista da Bernstein Research.
A Cazenove afirma que a Diageo teria de pagar entre 9,2 bilhões de libras e 13,2 bilhões de libras (de US$ 13,4 bilhões a US$ 19,2 bilhões) pela participação da LVMH, por causa das margens de lucro altas do grupo, avaliando a Moët Hennessy em algo entre 14 bilhões e 20 bilhões de libras (US$ 20,3 bilhões a US$ 29 bilhões).
Analistas afirmam que a Diageo provavelmente teria de fazer uma emissão de direitos de subscrição de ações para financiar a compra. Um deles estima que ela poderia dividir os recursos meio a meio entre capital e endividamento. A Diageo é relativamente pouco alavancada em comparação a outras empresas de destilados, com uma relação de endividamento líquido sobre o lucro operacional antes de juros, impostos, depreciação e amortização de 2,5 vezes.
No ano passado, a Moët Hennessy contribuiu com cerca de 161 milhões de libras para o lucro depois dos juros e impostos da companhia britânica
Do lado do conglomerado de luxo, a venda da Moët Hennessy liberaria caixa para a LVMH gastar com aquisições na área de moda. Observadores do setor vêm afirmando que os concorrentes Hermès e Gucci poderiam se encaixar bem no portfólio da LVMH, que inclui as marcas Louis Vuitton, Fendi, Donna Karan e Marc Jacobs.
As vendas totais do grupo no primeiro trimestre somaram ? 4 bilhões de euros, 7% menos do que em igual período do ano anterior. De todas as áreas, a única que manteve a curva ascendente foi moda e acessórios de couro, com uma alta de 4% no faturamento, para ? 1,6 bilhão de euros. As vendas de relógios e jóias por sua vez, caíram 41%, para ? 154 milhões de euros.
Veículo: Valor Econômico